Na Praia da Apúlia, em Esposende, entre ondas e moinhos de vento

Barracas e moinhos coexistem, por estes dias. (Fotografia de Rui Manuel Fonseca/Global Imagens)
No litoral de Esposende mantém-se a tradição do verão em família. É terra de sargaceiros e de moinhos de vento.

Uma mulher vestida de negro, de lenço amarrado na cabeça, está sentada, em silêncio, sozinha, numa rocha à beira do mar, com os pés metidos na areia e no sargaço da praia da Apúlia, em Esposende. Alguns metros ao largo, no areal, passa um bando interminável de crianças vestidas com t-shirts e chapéus coloridos. Correm, brincam umas com as outras e os seus gritos e riso solto ouvem-se à distância. À volta, tanto para norte como para sul, a praia está cheia. Sobretudo nas zonas onde não há ou amainam os afloramentos rochosos, as pessoas amontoam-se (“parece o Rio de Janeiro”, observa alguém). Barracas de tecido às riscas azuis e brancas, muitas delas desbotadas pela passagem do tempo, alinham-se em longas filas pelo areal fora. E no paredão, gente de todas as idades passeia ou conversa de pé ou sentada. Uma mulher pára a falar com outra e parece argumentar contra alguém que se recusou vir à praia. “Então, o mar nas pernas não faz bem?”, atira.

Vem de longe o tempo em que Apúlia é poiso de gente que, por muitas razões, ali demolha pernas e corpo inteiro. Terra de sargaceiros, leva há séculos homens e mulheres a trabalhar na apanha, secagem e recolha de algas, com o físico em esforço dentro e fora de água. A abundância de sargaço que o mar traz fez daquela uma atividade agro-marítima com grande expressão, que ainda sobrevive. A praia também ganhou fama de possuir elevados níveis de iodo e tornou-se zona de veraneio há várias gerações.
A tradição dos verões em família continua bem vincada em Apúlia. Algumas são proprietárias dos moinhos de vento, construídos em granito e xisto sobre as dunas, atualmente transformados em habitação. Vale bem a pena um passeio a pé pelos passadiços em madeira que lhes passam ao pé da porta e continuam pela praia fora.

Se apetecer antes a preguiça ou a simples contemplação, na ampla zona balnear de Apúlia não falta lugar para sentar. E até se pode comprar, por 1 euro, uma almofada na venda ambulante que povoa o paredão. Ou ler um livro, jornal ou revista, emprestados pela biblioteca de praia com esplanada, que funciona junto à praia (até 2 de setembro).

Pé N’Areia Bar.
(Fotografia de Rui Manuel Fonseca/Global Imagens)

Nesta vila de memórias – assim como a praia, também ruas e casas parecem cristalizadas no tempo – pode comprar-se pescado fresco e produtos da terra nas instalações do Portinho de Pesca. E há grande oferta de restaurantes, cafés e gelatarias. Abundam anúncios de peixe grelhado no carvão. Para refeições leves, num intervalo de praia, o Pé n’Areia, com a agradável esplanada, pode ser uma opção. Serve baguetes, tostas, moelas, bifanas, pregos, massas frias e saladas.


A “praia azul” de Pedro Homem de Melo

Numa das entradas da vila de Apúlia, um painel de azulejos de homenagem aos sargaceiros e à sua atividade milenar saúda o visitante com um verso de Pedro Homem de Melo. “Apúlia… Apúlia… O mar! O mar da Apúlia que respira”, são os versos que legendam a obra azul instalada na Avenida da Praia e que foi criada a partir de uma aguarela de Carlos Bastos, de Barcelos. Homem de Melo escreveu em 1973 o poema “Apúlia”, cujo primeiro verso se eternizou: “Ó praia azul das mãos de El-Rei herdada”.

A Apúlia é terra de sargaceiros.
(Fotografia de Rui Manuel Fonseca/Global Imagens)


Acesso a deficientes: sim
Bandeira azul: sim
WC e chuveiros: sim
Estacionamento: sim




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