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Montemor-o-Velho: o castelo, a doçaria conventual e outras surpresas

O Castelo de Montemor-o-Velho no topo da vila, cercado de arrozais. (Fotografia: Maria João Gala/GI)

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O primeiro cartão-de-visita de Montemor-o-Velho é o CASTELO. Aquela que é a maior fortificação do Mondego ergue-se no topo da vila e atrai o olhar de quem percorre a EN 111, entre Coimbra e Figueira da Foz. Trata-se de um Monumento Nacional ligado aos amores trágicos de D. Pedro e Inês de Castro (a morte dela foi sentenciada por D. Afonso IV, ali, em 1355) e que merece visita, assim como o centro histórico e as terras em volta, com um rico património – das casas senhoriais à doçaria conventual.

Há escadas rolantes para facilitar a subida ao castelo, mas estão desativadas, face à covid-19. Melhor assim: caminha-se pelas ruas cheias de recantos até passar as muralhas, com vista para os arrozais que pintam de verde a paisagem. Nas ruínas do palácio real, ou Paço das Infantas, nasceu uma casa de chá projetada pelo arquiteto João Mendes Ribeiro, entretanto convertida em posto de turismo. É lá que deve dirigir-se quem tiver agendado previamente uma visita guiada.

Com o devido enquadramento, cada pormenor ganha uma luz diferente. A guia Cristina Baía chama a atenção, por exemplo, para duas marcas gravadas na pedra, que eram as medidas-padrão medievais de comprimento usadas nas feiras (no caso, a vara e o côvado); ou para a torre construída, em 1877, para albergar o relógio da vila – com sinos, para nortear os trabalhadores nos campos. No interior do castelo encontra-se ainda a Igreja de Santa Maria de Alcáçova, que guarda imagens do Anjo da Anunciação e de Nossa Senhora do Ó, grávida, com um ramo de noiva e sapatos de bebé aos pés – promessas de crentes, que chegam a deixar ecografias.

São Brás, padroeiro das doenças da garganta, colhe ali grande devoção, sobretudo entre os mais velhos – ou não tivesse a cultura do arroz estado, em tempos, associada a problemas de saúde graves, como o paludismo

Naquele templo está também uma figura de São Brás, padroeiro das doenças da garganta, que ali colhe grande devoção, sobretudo entre os mais velhos, ou não tivesse a cultura do arroz estado, em tempos, associada a problemas de saúde graves, como o paludismo. “Costumo dizer aos miúdos que as mulheres de Montemor-o-Velho foram as primeiras a usar leggings”, comenta Cristina Baía, explicando que já há muito vestiam meias calças sem pé por baixo das saias para se protegerem, num ambiente propício a picadas de insetos e sanguessugas.

Antes de descer à vila, vale a pena pedir informações e um mapa para localizar as principais casas senhoriais – caso do antigo Solar dos Alarcões, que acolhe a Biblioteca Municipal e ainda tem o brasão visível. Existem também outros edifícios de relevo, como o TEATRO ESTHER DE CARVALHO, que resultou da adaptação da Capela da Confraria dos Clérigos de S. Pedro. Exibe na fachada bustos do dramaturgo Almeida Garrett e do ator Taborda e deve o nome à atriz de Montemor-o-Velho que fez carreira no Brasil.

Da sede de concelho à povoação de Casal Novo do Rio é um pulo. Foi lá que o chef Guerreiro Dias abriu, há um ano, o restaurante PIMENTA VERDE. No lugar de uma antiga tasquinha, criou um pequeno espaço de cozinha de autor, traduzida em pratos como T-Bone ou bacalhau confitado com puré de batata-doce e couve pak choi. Procura não fugir muito aos paladares tradicionais, antes apresentá-los de maneira distinta. Sabor e estética aliados, das entradas às sobremesas.

Dos pastéis de Tentúgal às queijadas de Pereira

Se apetecer comida tradicional do Baixo Mondego, uma boa opção é rumar à vila de Tentúgal, conhecida pelos pastéis originários do Convento de Nossa Senhora da Natividade (lá iremos), e procurar a CASA ARMÉNIO. Fica numa antiga casa senhorial, com um pátio florido, e pertence a um verdadeiro contador de histórias: José Craveiro. O restaurante, que herdou do pai, Arménio, é especializado em pato assado em forno de lenha, cabidelas de miúdos de pato e de galinha e coelho à caçador, mas primeiro funcionou como mercearia e taberna.

José lembra que a mãe fazia petiscos para quem parava ali nas tardes de domingo, vindo da Figueira da Foz, até que lhe pediram um jantar mais caprichado, que acabou por ser pato assado. Ainda hoje é o grande chamariz, o pato “feito à moda dos solares, mais rica de sabor”, explica, antes de servir as queijadas de Tentúgal confecionadas segundo a receita original do convento, que uma tia-avó da mulher lhe passou com a condição de não a partilhar nem adulterar.

Queijadas e pastéis de Tentúgal, mas também barrigas de freira e outros doces, incluindo o moinho, uma criação própria, são as estrelas do MOINHO NOVO, a pastelaria que José Carlos Faria e Catarina Salgado abriram junto à EN 111. A casa, ampla e com esplanada, reflete os interesses do casal: tem um moinho, um jardim com animais, vertente de livraria e produção de pastéis de Tentúgal ao vivo.

Durante todo o dia, os clientes podem ver a massa ser esticada à mão e secar até ficar finíssima e translúcida. “As freiras diziam que tinha de se conseguir ler a Bíblia através da folha”, comenta José. Segue-se o armar do pastel: à delicada massa junta-se um recheio de açúcar e ovos, e sela-se com uma mistura de gorduras aplicada com uma pena de peru. José, que se iniciou nessa arte aos 12 anos, vê no Moinho Novo uma homenagem ao pai, Júlio, cedo falecido, e à avó paterna, Francelina, que “sempre teve moinhos e vivia no Moinho Novo [uma povoação]”.

Montemor-o-Velho faz a alegria dos gulosos também pelas queijadas de Pereira, outra freguesia. No foral de D. Manuel de 1 de dezembro de 1513, já surge uma referência às queijadas, cuja divulgação é associada ao Real Colégio das Ursulinas de Pereira. MARIA DE LURDES OLIVEIRA produz aquele doce, de forma artesanal, há 40 anos, e também o vende ao público. A massa é recheada com uma mistura de queijo fresco, gemas, açúcar e (pouca) farinha. A seguir, há que moldar a queijada, cozê-la no forno e escová-la. “Vêm cá muitas pessoas buscar queijadas para levar para fora, e também para ver fazer”, conclui.

Piscina, spa e arte urbana nas aldeias

De volta à EN 111, em Meãs do Campo, uma zona rural, dá nas vistas um edifício possante, de linhas modernas: é o GARÇA REAL HOTEL & SPA, um quatro estrelas com 36 quartos, spa, ginásio, bar e restaurante. Este último chama-se Dona Raquel, uma homenagem do proprietário à tia e madrinha, e funde as cozinhas tradicional e contemporânea, descreve Isabel Simões, cozinheira e filha da terra. Há pratos de carne, peixe e vegetarianos, num espaço que privilegia o arroz carolino do Baixo Mondego, seja com bacalhau, cogumelos ou na forma de arroz doce.

O hotel conta ainda com uma piscina emoldurada pelo verde campestre, a lançar a ponte para o destino final: a União de Freguesias de Abrunheira, Verride e Vila Nova da Barca, com o seu ROTEIRO DE ARTE URBANA. Tudo começou em 2015, quando foram realizados workshops de arte urbana com idosos, nas aldeias, envolvendo a mentora do projeto Lata 65, Lara Seixo Rodrigues, e o artista Adres. A essas primeiras intervenções seguiram-se outras, graças à criação do Festival Rebuliço, que pôs mais artistas a pintar paredes em meio rural, em 2016 e 2017.

As peças de arte urbana, distribuídas por Abrunheira, Verride, Vila Nova da Barca e Reveles, resultaram num circuito que é alvo de visitas guiadas gratuitas, por marcação, e também pode ser seguido de forma independente, graças ao mapa disponibilizado na página do Festival Rebuliço no Facebook. Na dúvida, basta pedir indicações aos residentes. Pode ser o início de mais uma boa história.

Peça de Halfstudio na aldeia de Abrunheira. (Fotografia: Maria João Gala/GI)


O festival de teatro mais antigo do país (e outras sugestões)

Citemor

A 43.ª edição do Citemor, considerado o festival de teatro mais antigo do país, realiza-se entre 22 de julho e 7 de agosto, em Montemor-o-Velho, com uma extensão a Coimbra.

Festival do Arroz e da Lampreia

O arroz de lampreia e o arroz doce, característicos de Montemor-o-Velho, brilham no Festival do Arroz e da Lampreia – Sabores do Campo e do Rio, que se realiza, habitualmente, em março.

Taça comestível

Em abril, o Centro Social e Paroquial de Meãs do Campo foi notícia pela criação da “delícia do Mondego”: arroz doce servido numa taça comestível, à base de farinha de arroz, disponível por encomenda.

Praia fluvial

No Esteiro da Ereira, praia fluvial localizada naquela freguesia, a época balnear estende-se até 31 de agosto. Trata-se de um espaço de lazer com mesas de piquenique, casas de banho e um pequeno bar de apoio.

O também chamado Pontão da Ereira convida a mergulhos.
(Fotografia: Maria João Gala/GI)

Birdwatching

O Paúl do Taipal, Zona de Protecção Especial para a Avifauna, vai ser intervencionado no sentido de melhorar as condições para a observação de aves.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.