Publicidade Continue a leitura a seguir

Moda, cerâmica, mobiliário e produtos a granel. Compras alternativas no Bonfim

Algumas propostas do ateliê de cerâmica Pedra no Rim, criadas com base em despojos encontrados nas ruas. (Fotografia de Igor Martins/Global Imagens)

Publicidade Continue a leitura a seguir

ATHENA

Vinhos, design e café de especialidade à janela

Dividida entre o direito e a cozinha, Inês Figueiredo escolheu abrir um negócio próprio, pensado para ser restaurante, mas que por agora funciona como loja e mini-cafetaria. Chamou-lhe Athena, deusa grega da justiça e das artes.

Inês Figueiredo, apaixonada pela cozinha e pelo Direito.
(Fotografia de Igor Martins/Global Imagens)

O balcão cor de rosa, a cortina vermelha e algumas roupas multicoloridas disputam a atenção quando se entra na Athena, que nasceu para ser restaurante, e há de ser, mas para já funciona como concept store e mini-cafetaria. A cadela Dua recebe os forasteiros com entusiasmo; só depois de alguns afagos se aprecia devidamente os pormenores, da oferta exposta nas prateleiras e cabides à vida que corre lá fora. Há vidros de alto a baixo, a proporcionar banhos de luz, e cadeiras voltadas para a rua, convidando a uma pausa com direito a bolo caseiro e café de especialidade de filtro.

Todos são bem-vindos ali, seja para saborear algo à janela ou fazer compras. A oferta, diversificada, abrange desde moda de autor, cerâmica, arte e cosmética até vinhos (clássicos e naturais), biscoitos e outros artigos de mercearia fina, sobretudo de pequenas marcas, muitas delas portuguesas. Este espaço inaugurado em novembro não é fácil de categorizar, para agrado da mentora, Inês Figueiredo, que o vê como algo em evolução, prestes a ser transformado. Isto porque mantém a ideia inicial de criar “um restaurante simples, com cozinha aberta e uma parte de loja e zona de estar”, descreve, fugindo a etiquetas também no que toca à culinária. Certo é que vai ser ela a preparar pratos que serviria aos amigos, em casa.

Há não muito tempo, Inês tinha o coração dividido entre a advocacia e a cozinha. Chegou a trabalhar num escritório e num restaurante em simultâneo, durante a pandemia até fez comida para fora, mas teve de escolher. Como desde miúda sonhava ter um projeto próprio, resolveu dedicar-se àquele negócio, com o apoio do namorado, Sérgio Cruz. “Eu e a minha irmã não brincávamos às Barbies, mas às empresas”, lembra a responsável pela Athena, nome que foi buscar à deusa da justiça e das artes, na mitologia grega.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

ZERO PLÁSTICO

Produtos amigos do ambiente e mercearia a granel

A loja Zero Plástico, que propõe diversas alternativas para reduzir o uso de embalagens descartáveis no dia a dia, agora também conta com uma mercearia fina: a Granel Alimentar. Há frascos reutilizados para levar as compras.

As irmãs Rita e Catarina Leitão continuam unidas no combate às embalagens descartáveis.
(Fotografia de Igor Martins/Global Imagens)

As irmãs Rita e Catarina Leitão são do Porto, mas cresceram com um pé na aldeia dos avós, na Beira Baixa, em contacto com a terra e os ciclos da natureza, rodeadas de exemplos de poupança e reaproveitamento. Em 2018, o seu respeito pelo ambiente traduziu-se na abertura da Zero Plástico, uma loja que dá preferência a produtos nacionais, sem plástico nem poluentes, feitos com matérias-primas naturais e orgânicas, para uso quotidiano. Procura-se desencorajar a utilização de artigos e embalagens descartáveis, sugerindo alternativas mais amigas do planeta – e não só em matéria de higiene, cosmética e limpeza. Ter com que abastecer a despensa mantendo aquela filosofia era um objetivo que se concretizou em dezembro, com a inauguração da mercearia fina Granel Alimentar.

Bastou reorganizar o espaço para criar aquela área com uma seleção de produtos secos, maioritariamente biológicos, alguns deles veganos e sem glúten, muitos com mão portuguesa. A oferta – acomodada em frascos adquiridos em segunda mão – inclui desde frutos desidratados, farinhas, sementes, especiarias e chá até bombons, chocolates, gomas, bolachas e biscoitos tradicionais.

Os clientes são incentivados a levar as compras, nas quantidades que desejarem, em recipientes próprios ou em frascos reutilizados (há alguns no local). E ainda encontram na Zero Plástico outros artigos a granel, como detergentes, champôs e gel de banho (nem toda a gente se adapta aos sólidos), assim como garrafas reutilizáveis, velas ecológicas, kits para crianças e mesmo joias.

Nem falta um canto com roupa e livros para troca. Aliás, neste sábado, 28 de janeiro, acolhe mais um mercado de trocas organizado pelo movimento Let’s Swap. Para participar, basta levar até cinco peças de roupa ou cinco livros para pôr em circulação, e seguir as instruções. A Zero Plástico é frequentemente palco de workshops e outras iniciativas, desenvolvidas em parceria com diferentes entidades e criadores, da ilustração à moda.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

ESTÚDIO MORTO VIVO

Uma nova vida para velhos materiais

O estúdio de design e arte circular de Mike e Lu chama-se Morto Vivo porque, no fundo, é de ressurreição que trata o seu trabalho. Ambos reaproveitam matérias-primas descartadas por terceiros: ele para fazer mobiliário, ela joalharia.

Mike e Lu, juntos no amor e no trabalho.
(Fotografia de Igor Martins/Global Imagens)

A montra com uma televisão onde se lê Estúdio Morto Vivo atrai olhares mais atentos, na rua do Bonfim. Foi lá que os americanos Mike Lambuth e Lu Antram criaram aquele espaço de trabalho, aberto a quem queira adquirir as suas peças de design e arte circular. É tudo tão recente, que ainda há poucos produtos finalizados, entre eles algumas joias que Lu fez a partir de uma cadeira de madeira quebrada. Houve toda uma coleção nascida desse objeto que parecia ter perdido a utilidade. E isso leva-nos ao nome do projeto, que reflete a missão do casal: criar joalharia (ela) e mobiliário (ele) com materiais descartados por terceiros, muitos deles encontrados no lixo. Não duvidam: é como restituir a vida a algo morto.

“Acreditamos que fazemos a nossa parte para evitar que materiais que ainda têm vida útil acabem em aterros ou ambiente aberto, onde podem prejudicar ou ter impacto sobre as pessoas e o planeta”, explica Mike. A dupla, vinda de Boise, capital do estado de Idaho, mudou-se para o Porto em março, por recomendação de uma amiga portuguesa que é fotógrafa, e após um mês de visita. “Apaixonámo-nos pela cidade, pelas pessoas, pela comida e pela comunidade artística vibrante”, recorda Lu. Ainda não existe horário de abertura ao público definido, mas os visitantes são bem-vindos. E, no futuro, o espaço deverá acolher alguns workshops e eventos, seja para pequenas reparações de móveis ou partilha de saberes.

Consciencializar para a importância de adotar práticas mais sustentáveis do ponto de vista ambiental é outro dos objetivos, frisa Lu, enquanto cria uma peça com alumínio cortado da própria porta, alvo de uma ligeira intervenção. Em joalharia, já usou plástico, latão e até osso, mas agora escolhe o alumínio, que considera versátil, leve e bonito, além de “infinitamente reciclável”. Garante Mike que ambos se esforçam por minimizar quaisquer danos resultantes da produção, por exemplo, combatendo o desperdício e usando sistemas de filtragem que capturem fumos e poeiras. Para saber mais, nada como ir ao estúdio, onde ferramentas adquiridas na feira da Vandoma convivem com madeiras resgatadas do lixo. Entre elas, uma cabeceira de cama que tem a palhinha danificada – por enquanto.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

PEDRA NO RIM

O lixo da rua elevado a objeto de coleção

Aves estropiadas, cuecas e outros despojos fotografados nas ruas do Bonfim inspiram a criação de peças de cerâmica únicas ou de edição limitada, que tanto geram surpresa como desconforto. Bem-vindos à oficina Pedra no Rim.

As obras, à escala real, são procuradas sobretudo por colecionadores.
(Fotografia de Igor Martins/Global Imagens)

Pelo nome, a oficina de cerâmica artesanal Pedra do Rim diz logo muito. Alude a algo que gera desconforto e, como avisa a dupla artística por detrás, “não basta beber água”. Fabrízio Matos e Israel Pimenta, ambos com formação em Belas Artes, andam pelo Bonfim desde os anos 1990, a assistir às mudanças com olhos observadores. Neste projeto, inserido num contexto de arte contemporânea, propõem-se fotografar despojos encontrados naquelas ruas, convertê-los em objetos e, dessa maneira, obter um retrato da freguesia, com uma certa carga política e humorística, explica Fabrízio. Lixo diverso dá lugar a peças apreciadas sobretudo por colecionadores. Está claro que “a Pedra no Rim não é para todos”.

Aquelas peças de cerâmica à escala real intrigam, provocam, tanto podem gerar surpresa como repulsa. Não se fica indiferente à representação de pombas estropiadas por gaivotas, ratos, cuecas ou um preservativo usado. Há também polvos e cabeças de peixe, a lembrar as peixeiras que outrora vendiam nos passeios do Bonfim, ou cabeças de porco inteiras, como havia nos talhos, exemplifica Fabrízio. E não faltam achados curiosos para garantir a continuidade do projeto, seja uma peruca abandonada ou um sapato de salto alto deixado à porta do ateliê, que está aberto a visitas, preferencialmente, por marcação. Os trabalhos podem ser adquiridos ali, por valores que começam em 25 euros e estão indexados ao salário mínimo nacional.

Em regra, são peças únicas ou de edição muito limitada, mas houve uma exceção: o “sapo anti-racista” teve uma tiragem de 789 peças, tantas quantos os que votaram na extrema-direita, à data, naquela freguesia. Surgiu como reação aos sapos de faiança postos à entrada de estabelecimentos comerciais para afastar pessoas de etnia cigana, revertendo metade do produto das vendas para uma organização de luta contra o racismo.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

ATELIER

Marcas portuguesas de autor em ação

É um Atelier reservado a criações nacionais, da moda à ilustração. Em destaque, sapatilhas feitas com materiais reciclados e camisolas originais, saídas de um tear de tricô que pode muito bem estar em funcionamento.

Onde ficava a loja Hello, Bonfim está agora um espaço sem nome definido, onde coabitam diferentes projetos e que serve de montra a marcas portuguesas de autor, com destaque para a Wayz (calçado) e a Snool (vestuário). Podemos chamar-lhe, simplesmente, Atelier, sugere Maria João dos Reis, que cria camisolas de malha coloridas, únicas e de edição limitada, de forma manual, com a etiqueta Snool. Tudo começou com uma necessidade própria: não encontrava peças de malha originais, o que a levou ao faça você mesmo: primeiro à mão, depois com recurso a uma máquina japonesa, dos anos 1970, que descreve como um tear de tricô. Ainda o usa, e entretanto juntou-lhe outro, da década de 1980.

Aquele equipamento auxiliar vintage dispensa o uso de energia elétrica e tem algumas limitações que Maria João entende como um estímulo à criatividade. Brincando com cores e padrões, e optando por lã portuguesa, vai fazendo cada vez mais peças únicas, camisolas e acessórios como gorros e cachecóis – algo muito valorizado pelos clientes, que exibem, assim, algo que mais ninguém tem no guarda-roupa. E até podem ver como tudo se processa. “Trabalho aqui ao vivo, é uma barulheira. Páro quando as pessoas entram e quando o Pedro está em reunião”, comenta, aludindo a Pedro Maçana, com quem partilha aquele espaço de trabalho aberto a quem passa.

A marca de sapatilhas Wayz também mora ali.
(Fotografia de Telmo Pinto/Global Imagens)

Pedro conduz os destinos da marca Wayz a par com Daniel Gonçalves. Os dois cruzaram-se numa escola de design de calçado e decidiram apostar na criação de sapatilhas fabricadas em Portugal, com materiais reciclados. “Queríamos um design intemporal, versátil, sem sazonalidade e unissexo”, recorda, diante de uma variedade de modelos de diferentes cores. À venda naquele espaço estão ainda alguns acessórios em cerâmica assinados por Maria João e peças de outros autores, que utilizam materiais como cimento, madeira e azulejo, sem esquecer a ilustração.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.