Lena Barros: “O processo da consultoria de imagem é quase uma terapia”

Lena Barros aplica a psicologia positiva na consultoria de estilo e imagem que faz, a partir do Porto. (Fotografia: DR)
No Instagram, a consultora de estilo e imagem Lena Barros ensina truques para transformar saias longas em vestidos ou apertar as calças quando o botão não fecha. Mas, acima de tudo, desconstrói padrões. “Não pode” é expressão ausente do seu vocabulário.

Lena Barros nasceu na Alemanha, cresceu no Brasil e, entretanto, mudou-se para o Porto. A formação em psicologia dá-lhe ferramentas para lidar com as clientes do seu projeto Moda Empoderada, que abre mão de regras cristalizadas. Nem toda a gente tem de usar roupas que alonguem a silhueta, transparecer elegância ou profissionalismo, defende ela, que vê na consultoria de imagem uma espécie de terapia. Lena, que é feminista, resume assim a sua luta: “Eu quero mostrar às mulheres de todos os corpos, cores e idades que podem sentir-se bonitas e felizes exatamente como são”.

(Fotografia: DR)

É natural do Brasil, certo? Foi por amor que veio parar ao Porto?

Sou natural da Alemanha (o meu pai é alemão e a minha mãe é brasileira), mas cresci no Brasil, fomos para lá quando eu tinha três anos. Já moro fora do Brasil há alguns anos; vivi um ano em Paris e três anos em Barcelona. Vim parar ao Porto por amor, conheci o meu noivo, que é tripeiro, quando ele foi passar um fim de semana de férias em Barcelona, e oito meses depois mudei-me para cá.

É formada em Psicologia, mas hoje dedica-se à moda e à consultoria de imagem. A sua experiência prévia, como psicóloga, ajuda-a a prestar um melhor serviço como consultora de imagem?

Sem dúvida! A psicologia ensinou-me a ter uma escuta empática, livre de julgamentos, o que, para mim, é fundamental numa consultora de imagem. O nosso estilo reflete a nossa identidade e perpassa várias questões complexas de autoestima e autoimagem, então é preciso ter muito cuidado para não reforçar padrões e estereótipos que podem deixar a cliente ainda mais fragilizada ou complexada. A minha formação em consultoria, inclusive, foi a primeira formação em consultoria de estilo no Brasil focada em psicologia positiva. Eu encaro o processo da consultoria quase como uma terapia; sou a facilitadora, estou ali para guiar o processo, mas a jornada de autoconhecimento é da cliente.

“A consultoria de imagem tradicional é muito focada em regras; a consultora dita o que a cliente pode/deve ou não usar, e a cliente simplesmente acata. Na minha abordagem não existe o termo ‘não pode'”

Chamou ao seu projeto Moda Empoderada. Em que se destaca das propostas que habitualmente vemos na área da consultoria de imagem?

A consultoria de imagem tradicional é muito focada em regras; a consultora dita o que a cliente pode/deve ou não usar, e a cliente simplesmente acata. Na minha abordagem não existe o termo “não pode”; prefiro explicar à minha/ao meu cliente o que os diferentes elementos da nossa imagem comunicam, para que ela/ele possa fazer escolhas conscientes sobre a mensagem que quer transmitir. Nem toda a gente precisa de ter uma silhueta proporcional, ou comunicar elegância, ou usar roupas que alongam; cada cliente é única e vai ter seu o próprio desejo de imagem! Empoderar é isto: dar poder, autonomia, é a ação de se tornar poderosa, de passar a ter domínio sobre a sua própria vida. Eu sou feminista, então a minha grande missão na consultoria é libertar e empoderar outras mulheres, fazê-las ver todo o seu potencial, para que se sintam confiantes e busquem ocupar cada vez mais espaços de poder na sociedade. Eu quero mostrar às mulheres de todos os corpos, cores e idades que podem sentir-se bonitas e felizes exatamente como são.

“Vejo muitas mulheres a comprar roupas em tamanhos menores ou a fazer dietas para conseguirem caber em determinada peça; isto é uma imposição absurda e faz muito mal à nossa autoestima”

Uma das suas metas é destruir padrões preconcebidos no mundo da moda. Pode indicar três mitos a quebrar?

O primeiro e mais importante mito que quero destruir é o de que somos nós que temos de nos moldar às roupas. São as roupas que têm de caber nosso corpo! Vejo muitas mulheres a comprar roupas em tamanhos menores ou a fazer dietas para conseguirem caber em determinada peça; isto é uma imposição absurda e faz muito mal à nossa autoestima.

Segundo: o mito de que precisamos ter sempre mais roupas para nos vestirmos melhor. Quanto mais temos, menos conseguimos visualizar o nosso guarda-roupa e acabamos por sempre vestir as mesmas peças e fazer as mesmas coordenações, o que, consequentemente, gera aquela sensação de não ter nada para vestir. O objetivo da consultoria é ensinar as clientes a fazerem compras mais assertivas, comprando menos e melhor. Mais qualidade, menos quantidade.

Terceiro: o mito de que a moda é algo superficial. Muitas das minhas clientes vêm cheias de inseguranças, por acharem que não entendem de moda; seja porque não se interessavam ou porque achavam que gostar de moda e preocupar-se com a aparência era algo de pessoas superficiais. Acredito que a moda, de facto, é bastante excludente (principalmente a nível de tamanhos), porém, também a vejo como uma ferramenta muito poderosa de comunicação. O nosso estilo é a forma como nos apropriamos dos elementos da moda para comunicar quem somos, e a nossa imagem transmite uma mensagem, quer queiramos ou não. Quando a imagem que vemos no espelho não reflete a forma que nos sentimos, isso gera uma desconexão que afeta a nossa autoestima, o que pode prejudicar-nos em diversas áreas da vida, tanto pessoal como profissional.

Por fim, e como estamos em confinamento, quer revelar algum truque para ter boa imagem nas videochamadas, em contexto de trabalho?

Como nas videochamadas o único plano que se vê é o da zona superior do tronco, este deve ser o foco quando nos arranjamos, de manhã. É muito mais importante, por exemplo, usar um acessório como brincos ou colar do que preocupar-se se a calça está a coordenar com a blusa, já que não é algo que se vê. Usar uma terceira peça (tipo blazer ou colete) também é uma forma simples e rápida de transmitir uma imagem mais profissional e dá a impressão de que a pessoa se “esforçou” mais. Porém, é importante ressaltar que a nossa imagem não é apenas o que vestimos, então um pequeno gesto como certificar-se sempre de que o microfone está desligado, para que as outras pessoas não escutem conversas paralelas na sua casa, é fundamental.

 




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