Guias das cidades: mostrar as sete colinas a turistas de todo o mundo

Guias das cidades: mostrar as sete colinas a turistas de todo o mundo
A paixão pela cidade foi incutida pelos passeios em criança com o avô. Hoje, o historiador Pedro Sequeira dedica-se a mostrar Lisboa - e não só - mas também aprende sobre o mundo com os turistas que guia, e que, explica, já pedem para fugir ao óbvio.

O telemóvel, em cima da mesa, pode tocar a qualquer hora. A agenda anda apertada por estes dias, ou não tivesse sido pai, pela segunda vez, há apenas duas semanas. A menina dos olhos do guia e historiador Pedro Sequeira, essa, continua a ser Lisboa.

A mesma que começou a conhecer, em criança, com a ajuda do «amável» e «comunicativo» avô Pedro, que vivia na Ajuda. «Eram passeios de dias inteiros. Saíamos cedo, apanhávamos o elétrico 18 até ao Cais do Sodré, subíamos o Chiado e passávamos por todos aqueles alfarrabistas que ali estavam. Lembro-me das lojas de colecionadores de moedas antigas, das buchas que levávamos connosco», recorda Pedro. Tem 37 anos, os últimos dez dedicados às visitas guiadas pela Grande Lisboa, primeiro na Parques de Sintra, e agora em modo freelance, com várias agências.

Nasceu em Arroios mas a infância remonta à Ajuda. «Adoro esta zona, onde o bairrismo e a identificação ainda não morreram. Há trinta anos, como se pode imaginar, ainda mais», explica. Licenciou-se em História na Faculdade de Letras e também veste a pele de professor de História e Identidade de Portugal. Pelo caminho, este «otimista por natureza» também já trabalhou em galerias de arte, lecionou no ensino secundário e escreveu para teatro e televisão. «Sou muito dinâmico profissionalmente», confessa o historiador. Mas é Lisboa que ganha sempre o maior destaque profissional. Hoje em dia, tanto faz visitas curtas, de poucas horas, como longas, que chegam a durar duas semanas, e onde sai da capital.

O miradouro de Sophia de Mello Breyner, na Graça, é um dos locais de eleição de Pedro em Lisboa. (Fotografias: Paulo Spranger/GI)

O bairro da Graça, um dos vários pontos dos passeios guiados do historiador por Lisboa. (Fotografia: Ana Pereira Costa/GI)

A experiência de uma década em Sintra permitiu-lhe mostrar «monumentos e jardins de uma perspetiva mais académica e técnica», tendo passado horas a fio em locais como o Palácio da Pena, o Castelo dos Mouros e outros locais «que sempre estiveram ligados a uma peregrinação espiritual», conta Pedro Sequeira.

Agora, mais virado para Lisboa, tem contacto com turistas do mundo inteiro, uma das mais-valia da atividade que pratica. «Adoro. Consigo aprender mais com eles, sobre alguns países que sempre quis visitar, do que viajando», revela o guia turístico, que nota uma diferença na postura de quem visita a capital. «As pessoas pedem, cada vez mais, para irem a sítios menos óbvios mas igualmente ricos. Estão cansadas de passar nas zonas onde todos param. Eu adoro levá-las para zonas menos convencionais, como a Ajuda, Alvalade, Madragoa ou Graça», diz o historiador.

Ainda assim, confessa que Alfama continua a ser «a alma de Lisboa» e a Baixa «o seu coração». O futuro do turismo na cidade – ou «das várias Lisboas» que hoje existem, passa pela aposta num «destino que não seja massificado» e no «investimento numa oferta autêntica, sólida e diferenciadora», remata.

 

O roteiro «emocional» de Pedro Sequeira

A Tendinha do Rossio
«Sou fanático por tascas», explica Pedro, que é presença regular neste snack-bar histórico, fundado em 1840. O mármore e a pedra nas paredes ainda é o original, mas são as chamuças, os pastéis de bacalhau, as bifanas e as sandes de torresmos que fazem as suas delícias, e de quem ali passa. Para acompanhar, um copo de vinho ou uma ginjinha. «Os turistas adoram A Tendinha», conta.

A Tendinha do Rossio. Praça Dom Pedro IV, 6 (Rossio). Tel.: 213468156. Das 07h00 às 19h00. Encerra sábado e domingo. Preço: Bifana a 2,50€.

 

Livraria Sá da Costa
Um «romântico e misterioso» abrigo com centenas de livros e mais de cem anos de história, e uma escolha óbvia, ou não fosse o guia turístico um «obcecado por livros». Era um dos locais obrigatórios dos passeios de Pedro com o avô, e o espaço que o incitou à leitura. «Ele dizia-me que se eu puxasse da prateleira um daqueles muitos livros, abria-se uma porta para um mundo novo», recorda.

Livraria Sá da Costa. Rua Garrett, 100 (Chiado). Das 10h00 às 21h00. Encerra domingo. Tel.: 211357623

 

Jardins da Faculdade de Letras de Lisboa
Foi a instituição em que se formou em História e ainda hoje se lembra de se sentir «esmagado» pelo anfiteatro. Os jardins, claro, trazem «boas memórias de convívio», muitos destes com colegas de curso que se tornaram amigos, ainda nos dias de hoje, e estão ligados a uma «boémia intelectual».

Faculdade de Letras de Lisboa. Alameda da Universidade (Campo Grande). Tel.: 217920000

 

Miradouro Sophia de Mello Breyner
«A Graça é um dos bairros mais interessantes de Lisboa, de modo arquitetónico, social e histórico», frisa Pedro sobre a zona onde hoje reside. O Miradouro Sophia de Mello Breyner, com uma das vistas mais limpas para a capital, foi em tempos «palco de noitadas com os amigos da faculdade» e é hoje uma das esplanadas onde vai habitualmente, para respirar fundo e apreciar a Lisboa que tanto gosta.

Miradouro Sophia de Mello Breyner. Calçada da Graça (Graça)

 

Estádio do Restelo
É apaixonado por futebol e adepto do Belenenses, «apesar de não serem campeões há 70 anos», ri-se. O avô Pedro nasceu em frente ao primeiro estádio deste clube, que está «imbuído na família». Muitos domingos foram passados a ver jogos e treinos neste que diz ser «o estádio mais bonito do mundo». As memórias essas, «são na maioria de sofrimento, mas de resistência».

Estádio do Restelo. Praceta Torres do Restelo (Restelo). Tel.: 213010954




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