Filipe Morato Gomes: o primeiro blogger de viagens português estreou-se há 20 anos

Filipe Morato Gomes já visitou mais de 100 países diferentes em todo o mundo. (Fotografia de Inês Cortez).
No próximo dia 25 de fevereiro, Filipe Morato Gomes comemora os seus 50 anos e as duas décadas de escrita no blogue de viagens Alma de Viajante, criado em 2001. Conheça a história deste portuense que já deu duas voltas ao mundo.

Mais de 100 países carimbados no passaporte, mais de 7 mil artigos publicados online e duas voltas dadas ao mundo – estes são alguns dos números que contabilizam a história de sucesso de Filipe Morato Gomes, portuense prestes a fazer 50 anos e que se tornou “o primeiro blogger de viagens profissional” do país, com o registo do domínio www.fmgomes.com a 19 de janeiro de 2001.

Volvidas duas décadas de viagens – do campismo selvagem que fazia na Serra do Soajo à Tailândia, há precisamente um ano – o autor não hesita em fazer um balanço mais do que positivo do seu percurso. “Apesar dos altos e baixos ao longo dos anos, confesso sentir uma enorme realização pessoal e profissional por aquilo em que o Alma de Viajante se transformou”.

O autor agradece a todos os que contribuíram para o sucesso do projeto. “Agradeço a cada um dos leitores que já passou pelo Alma de Viajante; aos que me enviam mensagens de incentivo, aos que me fazem saber o quanto algum texto – inspiracional ou com dicas práticas – os ajudou, aos que me enviam críticas e sugestões para melhorar o blog”. O mais gratificante, diz, é saber que o que escreveu fez a diferença na vida das pessoas.

 

Das viagens de carro com a família até ao outro lado do mundo

Filipe Morato Gomes começou a viajar para fora do país já depois dos 20 anos. Das primeiras viagens, lembra-se de fazer campismo selvagem na Serra do Soajo, com a ajuda de um tio escoteiro; das “ intermináveis jornadas de VW Carocha de Vila Nova de Famalicão para Vila Real de Santo António”; e das férias na Zambujeira do Mar, já adolescente. Também passou, na altura, por Espanha e pelo sul de França.

“Fazer Erasmus devia ser obrigatório”, diz.

“Os meus avós maternos eram funcionários públicos, mas sempre que podiam tiravam as suas férias e iam viajar a sério. Nessa altura, fazer a viagem no comboio transiberiano, ir à Austrália ou à Amazónia não era uma coisa comum”, recorda em conversa com a Evasões. Ouvir as “histórias das pessoas, dos sítios” contadas com vivacidade pelo seu avô terá sido o que lhe incutiu “o bichinho pela descoberta”, admite.

Sapa, Vitname. (Fotografia de Filipe Morato Gomes/GI)

As viagens sempre o acompanharam, à medida das possibilidades de cada época, mas se há coisa de que se arrepende profundamente é de não ter feito nenhuma em contexto de Erasmus. “É aquilo de que me arrependo mais na vida, devia ser obrigatório”. O curso da vida estabilizou-o então no Porto, onde trabalhou durante alguns anos numa empresa de informática no desenvolvimento de CD-Rom interativos e educativos.

 

A origem do mais antigo site de viagens português

Conciliando sempre que possível a vida laboral e pessoal, Filipe Morato Gomes decidiu então criar um website, cujo domínio eram as suas iniciais (fmgomes.com), e a que deu o nome Alma de Viajante. Foi um presente que quis dar a si mesmo, então com 30 anos, fruto da experiência que tinha na área multimédia e dos gostos que nutria pela comunicação, escrita, fotografia e design.

A 19 de janeiro de 2001 publicou os primeiros artigos, fotografias e reportagens que relatavam as viagens entretanto realizadas, e apresentava o Alma de Viajante assim:

“Viajar é um prazer, escrever é um estado de alma, fotografar é uma paixão. Juntos, os três verbos formam a Alma de Viajante e este é o seu recanto na rede global. (…) É um projeto pessoal esperançadamente sempre incompleto”.

O Alma de Viajante era estático, desenhado inteiramente em HTML pelo próprio Filipe, numa altura em que a famosa plataforma de blogues WordPress ainda não existia (só apareceria em finais de 2003). A primeira reportagem que publicou, na altura, dava pelo nome “Maurícias, aguarela no Índico” (aonde tinha ido em lua de mel), e já tinha sido publicada em papel na revista Fugas (do jornal Público). Seria a primeira de muitas, numa época em que nenhuma revista de viagens tinha ainda presença online.

Filipe Morato Gomes costumava então dizer que “mais dia, menos dia” pediria a demissão à empresa onde trabalhava – mas faltava-lhe a coragem. Em 2003, numa tarde normal de trabalho e no pico do que chama a “bolha multimédia” das empresas do ramo, recebeu a notícia do seu despedimento. “Foi das melhores coisas que me aconteceu, na verdade”, recorda. Encarando o momento como uma oportunidade, decidiu amealhar dinheiro e em 2004 lançou-se numa volta ao mundo.

 

Mais de 20 países e um tsunami no caminho

Em 14 meses, Filipe conheceu mais de 20 países. De Lisboa seguiu para Moscovo, depois fez a viagem no comboio transiberiano até à Mongólia, passou pela China, Sudeste Asiático e eis que, quando estava em Laos, a revista Fugas (com a qual colaborava regularmente) lhe pediu para ir para a Tailândia e Sri Lanka testemunhar e relatar, sob a forma de crónicas e fotografias, o drama causado pelo tsunami que em dezembro de 2004 varreu o Sudeste Asiático.

“Emocionalmente, foi a experiência mais difícil que vivi. Já tentei fazer a catarse de olhar para as fotografias que tirei na altura, mas não consigo”.

Profissionalmente, foi uma viagem muito enriquecedora porque pela primeira vez percebi o que era ser jornalista em situações complexas e quanto uma máquina fotográfica nos protege”, conta. Quando começou a publicar os textos da sua volta ao mundo, em diferido, no Alma de Viajante, Filipe tomou consciência do “poder da interação” com as pessoas, numa altura em que havia ainda muito poucos projetos do género e o acesso à Internet não era tão massificado.

Entre 2013 e 2015, teve a sua presença online dividida entre o blog de viagens pessoal As Viagens de Filipe Morato Gomes – onde escrevia de forma mais intimista e com o qual ganhou um prémio de Melhor Blogue de Viagens Profissional na Bolsa de Turismo de Lisboa – e o website Alma de Viajante. Mas rapidamente entendeu que a estratégia estava a fazer com que desperdiçasse conteúdos. Dito e feito, há quatro anos o autor decidiu reformular profundamente o Alma de Viajante, resultando o blogue que se conhece hoje (e já publicado em WordPress).

Em 20 anos, o projeto já somou mais de sete mil artigos publicados (ainda que muitos deles tenham sido notícias), entre reportagens de longo formato, crónicas de viagens mais intimistas, artigos inspiracionais, roteiros e dicas práticas sobre destinos em todo o mundo e entrevistas. Filipe, casado e pai, cumpre assim o sonho de poder “viver das viagens, da escrita e da fotografia”, com tudo o que isso implica, nomeadamente ter saudades da “pureza da viagem pela viagem”.

Ilhas Fiji, na Oceania. (Fotografia de Filipe Morato Gomes)

 

Em casa há um ano por causa da pandemia

O portuense aproveitou o período do primeiro confinamento, em março do ano passado, para colocar a escrita em dia de todas as viagens que havia feito, mas confessa que este segundo tempo em casa lhe está a custar. Com mais incertezas do que respostas no que toca à retoma das viagens porque muitos anseiam, confessa ter “medo que em alguns países os turistas deixem de ser tão bem vistos como eram antigamente”, fruto do medo da propagação da doença.

O viajante não faz planos, mas revela que a viagem às Ilhas Faroé foi um desejo adiado e que à espera de data para embarque está também uma viagem ao Paquistão. Certo é que ainda tem muito mundo para descobrir e milhares de palavras por escrever aos leitores que seguem o Alma de Viajante. E no meio deste mapa-mundo, onde fica Portugal?

“Quanto mais viajo mais tenho a consciência de que temos um país incrível, um dos melhores destinos do mundo”, garante.

Para celebrar os 20 anos do projeto, no próximo dia 25 (quinta-feira), às 21h, haverá uma emissão em direto na página Facebook do blog com a partilha de histórias de bastidores e peripécias. Prometida está também a presença de vários convidados, “pessoas que tiveram grande influência no seu percurso enquanto viajante, líder de viagens e contador de histórias, incluindo o editor de uma revista que o marcou particularmente, companheiros de múltiplas viagens e amigos espalhados pelo mundo”.




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