Em Ferreira do Zêzere, José Alberto é o único artesão que ainda faz barcos de três tábuas

José Alberto é a única pessoa que ainda faz barcos de três tábuas em Dornes. (Fotografia: DR)
O mestre José Alberto, com 61 anos, é hoje o único artesão em todo o país que ainda constrói os chamados barcos de três tábuas, ou de abrangel, típicos da albufeira de Castelo de Bode.

No concelho de Ferreira do Zêzere, quem visita a vila de Dornes – considerada a mais bonita aldeia ribeirinha no prémio das 7 Maravilhas de Portugal, há três anos – não pode deixar de conhecer o mestre José Alberto, guardião de um saber-fazer que tem passado localmente de geração em geração e que corre o risco de desaparecer. Fala-se da construção dos barcos de três tábuas, típicos de Abrantes.

Aos 61 anos, José é tido como o único artesão em todo o país, e na região, que ainda se dedica à construção dos chamados barcos de três tábuas – ou de abrangel -, típicas embarcações em madeira de pinho que antigamente eram o equivalente a um “autocarro” sobre água. Segundo conta o artesão, todas as famílias que viviam nas terras à volta da albufeira tinham estes barcos para se fazer transportar e levar mercadorias.

Simpático e humilde, cada vez que é abordado na sua oficina, logo à entrada da vila de Dornes, José Alberto prontifica-se a mostrar e explicar como tudo é feito. Os barcos são mesmo construídos com três tábuas de madeira de pinho – uma delas é dobrada até as extremidades se encontrarem -, têm cinco metros de comprimento e demoram, em média, dois dias a ficar prontos.

O artesão, morador em Dornes, começou a construir barcos de abrangel aos 31 anos depois de aprender o ofício com o pai, que se iniciou tarde – só aos 65 anos. Antigamente, as encomendas chegavam em muito maior número, mas foram mirrando. O recorde foi batido em 1998, quando construiu 33 embarcações. As pontes e açudes que foram surgindo por toda a albufeira, ao longo dos anos, remeteram o uso dos abrangéis para a pesca e atividades de recreio.

A barragem de Castelo de Bode foi construída em 1951, com 50 quilómetros de extensão, e é uma das maiores do país ao abranger cinco concelhos (Ferreira do Zêzere, Abrantes, Tomar, Sertã e Vila de Rei). Grande parte da água que sai das torneiras nas casas dos lisboetas vem desta albufeira criada no Tejo. Banhada pela albufeira, Dornes apresenta-se pitoresca e de ruas íngremes e floridas, e guarda uma rica herança templária.




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