É tempo de semear: aproveite para criar uma horta na varanda ou no quintal

Nestes dias de incerteza, há uma coisa que ainda é certa: esta é a melhor altura do ano para semear quase tudo. O agricultor Luís Alves, do Cantinho das Aromáticas, explica por onde começar a criar uma horta mesmo que tenha pouco espaço exterior.

Luís Alves anda em sementeira na sua quinta de Vila Nova de Gaia onde produz plantas aromáticas e medicinais em modo de produção biológico e, nesta época atribulada que atravessamos, prefere semear também bom humor. “O melhor desta quarentena é que está bom tempo e esta é a altura de semear quase tudo, de agora até abril”, refere. E há muitas plantas, entre aromáticas e hortícolas, que podem ser semeadas agora, mesmo em pouco espaço. “A primeira coisa a fazer é arranjar sementes porque, numa varanda ou num jardim, tudo é possível”, refere. Lembre-se que os espaços de comércio de sementes e material agrícola continua abertas durante o período em que vigora o Estado de Emergência – pode contactar aquela mais próxima da sua casa para decidir a melhor forma de comprar o que precisa.

Nas aromáticas, é altura de semear tomilhos, rúcula, funcho, coentros, salsa, orégãos, cebolinho e manjerona, entre muitas outras espécies – entre elas, as belíssimas perpétuas. Nas hortícolas, pode-se semear alface, alho-francês, tomate, rabanetes, pimentos, cebolas, feijão. É ainda altura de semear melão, melancia e meloa e as populares abóboras. Neste caso, pode experimente semear as variedades maiores que tiver em casa, desde que as seque ao sol. “Precisam de secar entre 15 a 30 dias antes de semear”, refere Luís Alves. As sementes das variedades tradicionais podem ser usadas ano após ano, sem que as plantas percam o seu vigor produtivo. Contudo, no que diz respeito à horta, nada como experimentar, testar e aprender.

Depois de escolher as sementes que quer semear, convém munir-se de um bom substrato para fazer a germinação – e só depois transplantar para o lugar ou vaso onde vai crescer a planta. “A terra que temos em casa não está corrigida, não tem o pH que a maioria destas plantas prefere, que é próximo de neutro, não tem a estrutura ou textura certas para germinarem e ganharem raízes, tem pedras… E tem ainda ervas daninhas, que são as primeiras a germinar”, sublinha Luís Alves.

O substrato pode comprar-se no horto ou no viveiro onde também compra as sementes. É ainda recomendável ter um local resguardado para a germinação, que não o chão do quintal. “É muito mais fácil controlar plantas num bocadinho de espaço do que fazê-lo onde há competição, ervas daninhas, alterações de temperatura ou onde vai o gato fazer cócó”, assinala o agrónomo. Depois de germinadas, aí sim, as plantas podem ir para o seu lugar nos vasos da varanda ou da horta, transplantadas com o torrão de terra a envolver a raiz e no mesmo nível de terra que a planta tinha no seu tabuleiro de germinação – o que significa não a enterrar demais nem de menos.

Há plantas que podem ser um teste à paciência, como a salsa. “A salsa tem dormências físicas e químicas, a semente é dura e só germina nas alturas que acha que deve”, adverte Luís. Um truque é envolver as sementes em areia lavada humedecida (basta uma mão cheia de areia da parte mais atrás da praia, longe do mar) e pô-las no frigorífico durante 13 a 30 dias, na gaveta dos legumes. “O frio quebra a dormência química que a impedem de germinar. Também se pode fazer isso com as sementes de cenoura”, acrescenta. A areia também ajuda na altura de semear no substrato, porque o contraste permite ver bem se a sementes estão espalhadas homogeneamente.

Há outras plantas, porém, que compensam desafios como a salsa. “O tomate cereja faz as pessoas sentirem-se sempre muito competentes, porque germina facilmente e é muito resistente e fácil de produzir”, sublinha o agrónomo do Cantinho das Aromáticas. É, por isso, uma boa opção para principiantes, para fazer em família e ainda para janelas e varandas. A planta bonita que dá é outro consolo… porque os olhos também comem.

Outra coisa que pode fazer é… ir plantar batatas! Pode ir mesmo, porque é fácil a partir das batatas que tem em casa. Sabe aqueles grelos que os tubérculos ganham ao fim de algum tempo? É disso que precisa: deixe batatas a grelar num lugar escuro e frio. Quando estiverem greladas, pode partir em dois ou três bocados deixando grelos em todos eles. Deve deixar-se cicatrizar duas a três semanas e depois, num vaso fundo com substrato, pode-se criar uma planta de batateira. “Com duas ou três batatas, pode-se produzir um saco pequeno de batatas”, refere Luís Alves.

BOAS PRÁTICAS PARA SEMEAR

· Procurar sementes tradicionais e de agricultura biológica e conferir a validade.
· Escolher um bom substrato para a germinação.
· Usar um tabuleiro alveolado para semear ou, em alternativa, caixas vazias de ovos, caixas de peixe ou fruta do supermercado (estas últimas forradas com tela).
· Ter cuidado com a profundidade a que se coloca a semente na terra, que deve ter uma relação de 2 a 3 vezes o seu tamanho. Sementes pequenas como o tomilho ficam praticamente à superfície, por exemplo.
· Depois de colocar a semente, deve-se peneirar substrato por cima, compactar um bocadinho e depois regar.
· Colocar as sementes a germinar num lugar onde possa controlar as condições como a temperatura e a humidade.
· Transplantar com o torrão da raiz e plantar na terra ao mesmo nível do tabuleiro de germinação.

O AGRICULTOR

Luís Alves (Foto: Pedro Correia/Global Imagens)

Luís Alves, portuense, sempre se sentiu atraído pela terra e pela agricultura, optando muito cedo por esse caminho. Do Porto, foi estudar para a Escola Agrícola Conde de São Bento, em Santo Tirso e daí para o curso de Engenharia Agrícola da Universidade de Trás-os-Montes. De volta ao Porto, geriu durante seis anos os 18 hectares dos jardins da Fundação de Serralves. Há 18 anos, fundou o Cantinho das Aromáticas, um projeto de produção de plantas aromáticas e medicinais em agricultura biológica urbana, em Canidelo, Vila Nova de Gaia, cujas infusões têm ganho diversos prémios internacionais. É pai de dois filhos.

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