Do Tejo a Esposende e São Miguel, locais para fazer observação de aves

(Fotografia de Filipe Amorim/GI)
Dos estuários do Tejo e do Sado ao Abrigo do Cortelho, em Esposende, e ao Centro Ambiental do Priolo, na ilha de São Miguel, quatro sugestões para visitar, quando o assunto em cima da mesa é a observação de aves.

1. Centenas de flamingos e outras espécies para ver nas lezírias

O projeto que deu origem ao EVOA (Espaço de Visitação e Observação de Aves), atualmente o maior centro de observação de aves do país, começou a ser pensado há mais de 20 anos.

Foi em 2000 que a Aquaves – Associação de Conservação e Gestão de Ambientes Naturais fez uma proposta à Companhia das Lezírias para a implementação de estruturas de interpretação da natureza na Ponta da Erva, Reserva Natural do Estuário do Tejo.

Como proprietária dos terrenos, a Companhia das Lezírias (maior exploração agro-florestal do País) mostrou interesse e assim, em 2013, o EVOA. A 30 minutos da capital, mesmo ao entrar na Lezíria Sul de Vila Franca de Xira, o espaço pode receber até 120 visitantes por dia. E não falta o que fazer por lá. Há cinco quilómetros para percorrer as três zonas húmidas de água doce (lagoas) que ocupam 70 ha, e nas quais se encontram quatro observatórios e outros pontos de observação.

O Centro de Interpretação do EVOA organiza visitas guiadas pelo estuário do Tejo. (Fotografia de Filipe Amorim/GI)

Todos os dias há visitas guiadas para observação de aves, com telescópios, binóculos e guias. No Centro de Interpretação do EVOA, onde se recebem os visitantes, está instalada a exposição permanente “EVOA, Onde o Mundo Encontra o Tejo”. Além disso, há exposições temporárias, auditório, um bar com uma vista sobre as lagoas e loja.

As visitas diárias disponíveis de 1h30 realizam-se em quatro horários: 9h30, 11h30, 14h e 16h. Estas têm duas modalidades: “visita pedestre” a dois observatórios (na Lagoa Principal e na Rasa) e a “visita de carro elétrico”, a duas lagoas e à Ponta da Erva (Lagoa Principal, Rasa, Grande e Ponta de Erva). Também se organizam tours – À descoberta da Lezíria: dos arrozais ao estuário (3 horas), onde se observam as centenas de flamingos residentes do estuário do Tejo. Uma visita mais prolongada é Grand Tour Aves, Vinho e Cortiça, que decorre durante 8 horas. Quem gosta de aves noturnas pode também reservar uma visita para as observar. Até porque este é provavelmente o local no mundo com maior abundância de corujas.

Além das visitas há atividades como sessões de fotografia orientada, workshops de fotografia, entre outros. LM

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2. Um abrigo para observar, aprender e fotografar

O Abrigo do Cortelho, em Esposende, está disponível para aluguer, sendo um espaço privilegiado para a fotografia de aves.

Entramos em Esposende e subimos a Norte pela costa. Chegados ao Estuário do Rio Neiva, entre campos agrícolas, encontramos o Abrigo do Cortelho. Discreto, já que o seu objetivo é fundir-se com o local. Ainda não se entrou no pequeno barraco e alguns dos pássaros já nos dão a honra da sua visita. Agora é tempo de entrar e aguardar pacientemente.

O espaço é de Diogo Meira, engenheiro mecânico (e fotógrafo a part-time) de 28 anos que desde cedo percebeu que tinha um interesse especial por aves. “O meu avô era caçador e em criança fui introduzido a esse Mundo, mas rapidamente percebi que o que me fascinava não era a caça. Era a natureza.” Ainda assim, o jovem acredita que esses anos de convívio com caçadores foram essenciais para aprender as bases para o que hoje faz: birdwatching e fotografia de aves.

Uma das aves fotografadas a partir do Abrigo do Cortelho. (Fotografia de Paulo Jorge Magalhães/GI)

Mudou-se para Esposende no início de 2020. Apesar de o início do abrigo ter coincidido com a pandemia, conta que já tinha a ideia de criar o espaço antes. O primeiro dia no campo que pertence à família surpreendeu-o. Com um tronco, umas sementes e escondido atrás de uma árvore, fotografou meia dúzia de aves. Depois, o espaço foi crescendo. Hoje há um lago, troncos, ramos, plantas e um barraco equipado para a prática. O sucesso vê-se no seu trabalho fotográfico. Já captou imagens de mais de 60 espécies diferentes e, agora, partilha o espaço e conhecimento com quem se quiser juntar: aluga o Abrigo do Cortelho, mediante reserva pelas redes sociais, e dá dicas para fotografia de aves.

Diogo Meira, que tem colaborado ativamente com o município de Esposende para divulgar as aves na região, aguça a curiosidade de todos afirmando que está para chegar um novo festival de observação de aves: o Passaralho. “A edição zero será transmitida brevemente num programa de humor do Salvador Martinha e, depois, irá acontecer anualmente.” O objetivo, diz, é ser um festival “para todos”. “Não quero que seja semelhante aos outros festivais, em que se está focado nos profissionais e em quem já conhece o birdwatching, o desejo é chegar à população que ainda não está alerta para a importância da preservação das aves.” SSG


3. História e natureza no estuário do Sado

Já foram registadas pelo menos 211 espécies de aves no perímetro da Reserva Natural do Estuário do Sado, segundo o ICNF. Esta é uma das melhores zonas para observar aves, durante todo o inverno, com binóculos ou a olho nu.

Neste que é o segundo maior estuário do país e um dos maiores da Europa é relativamente fácil observar aves sem precisar de equipamentos sofisticados ou dispendiosos. Afinal, a Reserva Natural do Estuário do Sado estende-se ao longo de 9.500 hectares de zonas húmidas convertidas para a salinicultura, piscicultura e cultivo de arroz, por áreas terrestres e pequenos cursos de água doce, e já registou 231 espécies de vertebrados, das quais 211 são de diferentes e interessantes aves.

No website “Setúbal em Bom Ambiente” é possível descarregar um mapa com dois percursos, o da Mourisca e o do Montado. Tendo como referência o Moinho de Maré da Mourisca – engenho com mais de 250 anos transformado em pólo turístico e de natureza -, basta seguir os pontos que levam aos principais lugares de observação, entre a caldeira do moinho, esteiros e salinas. Num dia bom “não é difícil observar 80 espécies”, como mergulhão-de-pescoço-preto e os alfaiates, diz o município.

Há mais de 200 espécies de aves no estuário do Sado. (Fotografia de Orlando Almeida/GI)

Segundo a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, este estuário “alberga regularmente mais de 20 mil aves aquáticas invernantes, especialmente limícolas” (que se distinguem por terem bicos e patas compridos para se alimentarem no lodo), e o inverno é mesmo a melhor época para as observar. Entre as nidificantes, destacam-se por exemplo a Garça-vermelha, o Pernilongo e a Chilreta. Já os tão populares flamingos deixam-se avistar mais facilmente durante passeios de barco. AR

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4. Conhecer uma espécie rara

No Centro Ambiental do Priolo, em São Miguel, esta ave que esteve quase extinta tem todo o protagonismo.

O projeto Priolo, da SPEA (Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves), nasceu em 2003, em São Miguel, Açores, para tentar recuperar a população de priolos (Pyrrhula murina) que estava classificada como criticamente em perigo. “A espécie depende muito da floresta laurissilva”, diz Rui Teixeira, técnico de educação ambiental do Centro Ambiental do Priolo. Por isso, com a diminuição desta, a espécie foi ficando sem alimento. A prática da caça foi também muito prejudicial. “Era caçada por ser considerada uma praga”, explica.

Existindo apenas nos concelhos da Povoação e Nordeste, nas manchas de floresta que ainda existem, a espécie continua a ser uma das mais ameaçadas da Europa. As ratazanas e os murganhos, “espécies não nativas que vieram do continente” continuam a ser uma grande ameaça.

O priolo dos Açores. (Fotografia: DR)

Mas conseguiu-se recuperar alguma população. “Fez-se restituição ecológica, recuperação da floresta laurissilva e a caça está proibida”, conta. Os esforços foram bem-sucedidos e, desde 2016 que a ave está na lista das espécies vulneráveis, da União Internacional para Conservação da Natureza. Estão contabilizados, atualmente, cerca de 1200 indivíduos.

Em 2008, o projeto ganhou uma casa própria, o Centro Ambiental do Priolo. Aqui, podem visitar-se as exposições permanentes – uma sobre o priolo, outra sobre a floresta. O centro funciona como uma porta de entrada para a área protegida de maior dimensão das Terras do Priolo. Por isso, têm duas tours guiadas disponíveis, uma mais focada para a observação de priolos, outra para se descobrir a floresta laurissilva.

Tem também uma pequena loja onde se podem adquirir merchandising (posters, pins, t-shirts ou canecas), dedicado tanto ao priolo como a outras aves e ao arquipélago dos Açores; além disso, lembra Rui, “donativos são bem-vindos”. LM

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