Dez praias clássicas, de norte a sul

Praia de São João, na Costa da Caparica (Fotografia de Gerardo Santos/GI)
Aqui há areais que guardam histórias de infância e de barracas listradas. Preservam tradições e são locais de romaria de gente de cá e não só. Extensas línguas de costa e recantos segredados. Em parques naturais e amparados por cidades. Estas são as nossas praias.

Viana: na Praia do Cabedelo, faz-se desporto à boleia do vento

Windsurf, kitesurf e wing foil são algumas das modalidades que atraem turistas de toda a Europa ao litoral de Viana do Castelo. Zona balnear dispõe de serviços e instalações de apoio aos praticantes. APF

É a antítese de uma praia convencional. De manhã ainda se pode estender a toalha sem arriscar um banho de areia, mas à tarde ninguém garante. O vento, por vezes forte, é a marca da praia do Cabedelo, em Viana do Castelo. Mas desenganem-se os que não a conhecem, porque não é por isso que o areal costuma estar deserto. Pelo contrário. Quanto mais sopra o vento, mais gente há no areal, no mar e no ar. Os dias ventosos propiciam os desportos náuticos e praticantes de todas as idades invadem as ondas e o céu com os seus fatos de neoprene, pranchas, velas e asas multicolores.

O vento é a marca desta praia pouco convencional.
(Fotografia de Rui Manuel Fonseca/Global Imagens)

Windsurf, kitesurf, surf (shortboard e longboard), bodyboard, SUP (stand-up paddle) e mais recentemente o wing foil, uma forma de voar sobre a água, são fatores de muita atração para turistas de toda a Europa. Que o digam os empreendedores dos negócios locais, desde escolas das várias modalidades desportivas, clubes e apoios de praia a restaurantes, bares, hotéis, alojamento local, para quem durante todo o ano sopram ventos de prosperidade.

(Fotografia de Rui Manuel Fonseca/Global Imagens)

(Fotografia de Rui Manuel Fonseca/Global Imagens)

A multiplicidade da oferta do que fazer na praia ou fora dela faz da primeira praia a sul do rio Lima um destino a considerar. Para começo de um dia diferente é possível chegar à praia de barco. No verão, um ferryboat faz a ligação de hora a hora entre o Cabedelo (ancoradouro junto ao parque de estacionamento da praia) e a cidade de Viana do Castelo (cais junto ao Centro Cultural). De segunda a sexta-feira, as primeiras carreiras saem do Cabedelo às 8.40 horas e de Viana às 9 horas, e as últimas às 22.05 e 22 horas, respetivamente. Ao fim de semana, começam no Cabedelo às 10.05 horas e em Viana às 10 horas, e terminam à mesma hora dos dias úteis. A travessia do rio demora pouco mais de cinco minutos e o preço dos bilhetes é de 1,70 euros para adultos, 90 cêntimos para crianças e 80 cêntimos para transporte de bicicleta. Também há a possibilidade de fazer um passeio fluvial mais prolongado.

(Fotografia de Rui Manuel Fonseca/Global Imagens)

A praia em si divide-se entre um pequeno areal do lado norte do esporão, exposto à ventania, e um areal a perder de vista do lado sul. Com um longo pinhal de um lado e o mar do outro, a areia branca do Cabedelo convida a grandes caminhadas. Dali até à praia vizinha da Amorosa são pelo menos duas horas de caminho, com as ondas a molhar-nos os pés. Também se pode caminhar sobre passadiços em madeira pelo meio das dunas, pinheiros e vegetação até à praia do Rodanho.

Para relaxar, comer bem e beber melhor, há vários locais, tanto na praia como nas imediações. O restaurante Aquário é um clássico com 30 anos de existência naquela praia ventosa. A gerente Sónia Calheiros, que passa “365 dias por ano no Cabedelo”, recomenda um arroz de tamboril com sabor a mar, acompanhado por um copo (ou mais) de vinho verde da região. Para sobremesa, um crepe Minhoto, para reavivar memórias (os crepes doces são ali referência desde o início da década de 1990) das várias gerações que frequentam o espaço.

Refeições leves, principalmente as várias saladas, e delícias que apelam à gula como o sorvete de limão e a tarte tatin de maçã com gelado de baunilha, além de limonadas, mojitos, caipirinhas e sangria podem ser apreciados sem pressa num espaço “orgânico chic”, bem servido de simpatia e associado a uma loja de artigos de desportos náuticos (VianaLocals) e a um apoio de praia a prática desportiva com bar (o Duotone Pro Center). Também prestam serviços nesta área o Surf Clube de Viana e o Hotel Feel Viana, entre outros.


A praia de Rio

A praia do Cabedelo há muito que é a zona balnear de eleição de Rui Rio. O político tem casa naquelas paragens há várias décadas, ainda os desportos náuticos não tinham a força que têm hoje. Recordam parceiros da política que já na época em que foi presidente da Câmara do Porto (2002 a 2013) Rio veraneava por ali. E os locais já se acostumaram à sua presença e a vê-lo passear a pé ou de bicicleta, no verão ou no resto do ano. É onde se “refugia” no tempo livre.

Acesso a deficientes: sim
Bandeira azul: sim
WC e chuveiros: sim
Estacionamento: sim

 


Na Praia da Apúlia, em Esposende, entre ondas e moinhos de vento

No litoral de Esposende mantém-se a tradição do verão em família. É terra de sargaceiros e de moinhos de vento. APF

Uma mulher vestida de negro, de lenço amarrado na cabeça, está sentada, em silêncio, sozinha, numa rocha à beira do mar, com os pés metidos na areia e no sargaço da praia da Apúlia, em Esposende. Alguns metros ao largo, no areal, passa um bando interminável de crianças vestidas com t-shirts e chapéus coloridos. Correm, brincam umas com as outras e os seus gritos e riso solto ouvem-se à distância. À volta, tanto para norte como para sul, a praia está cheia. Sobretudo nas zonas onde não há ou amainam os afloramentos rochosos, as pessoas amontoam-se (“parece o Rio de Janeiro”, observa alguém). Barracas de tecido às riscas azuis e brancas, muitas delas desbotadas pela passagem do tempo, alinham-se em longas filas pelo areal fora. E no paredão, gente de todas as idades passeia ou conversa de pé ou sentada. Uma mulher pára a falar com outra e parece argumentar contra alguém que se recusou vir à praia. “Então, o mar nas pernas não faz bem?”, atira.

Vem de longe o tempo em que Apúlia é poiso de gente que, por muitas razões, ali demolha pernas e corpo inteiro. Terra de sargaceiros, leva há séculos homens e mulheres a trabalhar na apanha, secagem e recolha de algas, com o físico em esforço dentro e fora de água. A abundância de sargaço que o mar traz fez daquela uma atividade agro-marítima com grande expressão, que ainda sobrevive. A praia também ganhou fama de possuir elevados níveis de iodo e tornou-se zona de veraneio há várias gerações.

Barracas e moinhos coexistem, por estes dias.
(Fotografia de Rui Manuel Fonseca/Global Imagens)

A tradição dos verões em família continua bem vincada em Apúlia. Algumas são proprietárias dos moinhos de vento, construídos em granito e xisto sobre as dunas, atualmente transformados em habitação. Vale bem a pena um passeio a pé pelos passadiços em madeira que lhes passam ao pé da porta e continuam pela praia fora.

Se apetecer antes a preguiça ou a simples contemplação, na ampla zona balnear de Apúlia não falta lugar para sentar. E até se pode comprar, por 1 euro, uma almofada na venda ambulante que povoa o paredão. Ou ler um livro, jornal ou revista, emprestados pela biblioteca de praia com esplanada, que funciona junto à praia (até 2 de setembro).

Pé N’Areia Bar.
(Fotografia de Rui Manuel Fonseca/Global Imagens)

Nesta vila de memórias – assim como a praia, também ruas e casas parecem cristalizadas no tempo – pode comprar-se pescado fresco e produtos da terra nas instalações do Portinho de Pesca. E há grande oferta de restaurantes, cafés e gelatarias. Abundam anúncios de peixe grelhado no carvão. Para refeições leves, num intervalo de praia, o Pé n’Areia, com a agradável esplanada, pode ser uma opção. Serve baguetes, tostas, moelas, bifanas, pregos, massas frias e saladas.


A “praia azul” de Pedro Homem de Melo

Numa das entradas da vila de Apúlia, um painel de azulejos de homenagem aos sargaceiros e à sua atividade milenar saúda o visitante com um verso de Pedro Homem de Melo. “Apúlia… Apúlia… O mar! O mar da Apúlia que respira”, são os versos que legendam a obra azul instalada na Avenida da Praia e que foi criada a partir de uma aguarela de Carlos Bastos, de Barcelos. Homem de Melo escreveu em 1973 o poema “Apúlia”, cujo primeiro verso se eternizou: “Ó praia azul das mãos de El-Rei herdada”.

A Apúlia é terra de sargaceiros.
(Fotografia de Rui Manuel Fonseca/Global Imagens)

Acesso a deficientes: sim
Bandeira azul: sim
WC e chuveiros: sim
Estacionamento: sim

 


Praia do Ourigo, no Porto: de vila piscatória a estância balnear

A pequena Praia do Ourigo, na marginal da Foz Velha, Porto, ajuda a contar parte da história da cidade, e é palco de um cortejo de trajes de papel que ainda hoje se realiza. ALS

Uns bronzeiam-se deitados sob o sol que acabou de despontar no nevoeiro matinal, outros, em grupo, jogam à bola no areal da Praia do Ourigo, uma das dez que compõem a Zona Balnear da Foz. Se hoje esta é a paisagem habitual de um dia quente de verão, o fenómeno de ir a banhos, na antiga povoação de pescadores que era a Foz Velha, é relativamente recente. Foi em meados do século XIX, muito graças ao hábito de ir à praia trazido pelos ingleses, que os portuenses começaram a ocupar os areais em momentos de lazer.

O desenvolvimento dos transportes, que faziam a ligação entre o centro do Porto e a Foz, também ajudou a que a população se dirigisse para a orla costeira, que foi sendo ocupada por hotéis e casas de férias de famílias abastadas. A procura pela marginal em dias de calor manteve-se até hoje, como comprova o movimento nos areais e a ciclovia que a acompanha, por onde deslizam dezenas de pessoas, em bicicletas, trotinetes e patins.

Praia do Ourigo, na Foz, Porto. (Fotografia de Pedro Correia/Global Imagens)

A Praia do Ourigo, entre as praias do Carneiro e dos Ingleses, apresenta Bandeira Azul, e consegue acomodar até 500 pessoas no seu pequeno areal, segundo a Águas do Porto. Da praia até ao Al Mare são cerca de cinco minutos a pé. O recente restaurante italiano do grupo Cafeína leva os comensais até ao sul de Itália, com pizas, pastas e risotos, onde brilham peixes e mariscos. Já no Botella – Food & Wine, na Rua do Padrão, dá-se a conhecer uma cuidadosa seleção de vinhos de pequenos produtos (ou de pequenas produções) portugueses e espanhóis, para harmonizar com os petiscos como carpaccios, tártaros ou tacos.

Um banho santo para lavar as maleitas
No último domingo de agosto, realiza-se o Cortejo do Traje de Papel, o ponto mais alto das Festas em Honra de São Bartolomeu, onde centenas de pessoas se vestem a rigor, com trajes feitos de papel, desfilando entre a Cantareira e a Praia do Ourigo. Chegando ao mar, os espetadores juntam-se aos participantes para um banho coletivo, no qual os trajes se desfazem na água. Esta tradição cumpre-se desde o século XVI, quando os romeiros iam à Praia do Ourigo para tomarem o banho santo, mergulhando três vezes na água, para afastar medos e curar maleitas como a gaguez, a gota ou a epilepsia.

Acesso a deficientes – Não
Bandeira Azul – Sim
WC/Chuveiros – Sim
Estacionamento – Sim

 


Praia da Baía: um areal concorrido em Espinho

Águas serenas, um areal extenso e proximidade à estação de comboios são alguns dos atrativos da historicamente movimentada Praia da Baía. LM

Parece estar sempre a acontecer algo na Praia da Baía. Sejam aulas de surf, campeonatos de voleibol ou iniciativas diversas, sente-se uma certa agitação naquela que é a praia mais concorrida da cidade, sobretudo durante a época balnear. A proximidade ao centro de Espinho e à estação de comboios, águas serenas graças a dois paredões, e um areal extenso, com cerca de 100 metros, ajudam a explicar a sua popularidade que, contudo, não é novidade. Já na segunda metade do século XIX, a Praia da Baía atraía multidões, sobretudo após a abertura da linha do caminho-de-ferro do Norte.

“Espinho, como uma praia abrangente, e ao contrário de praias mais elitistas, recebia veraneantes das mais variadas origens sociais que se deslocavam de quase todos os distritos do país. A presença de uma alargada colónia balnear espanhola, oriunda principalmente da Estremadura e da cidade de Madrid, dava um toque de cosmopolitismo – a língua de Cervantes ouvia-se em todos os recantos da estância durante os meses de julho e agosto”, lê-se numa publicação no site do Museu Municipal de Espinho.

Praia da Baía, em Espinho. (Fotografia de Maria João Gala/Global Imagens)

Sejam espanhóis ou portugueses, são muitos aqueles que procuram os peixes e os mariscos do restaurante A Cabana, com nova gerência e decoração. A carta mantém-se igual (e disponível durante todo o dia), com especialidades como o arroz de tamboril, a açorda de marisco e o churrasquinho em pão (um dos pratos de snack-bar, que consiste num pão recheado com filet mignon e presunto), mas há agora mais um espaço para as saborear – a esplanada Blú, inaugurada há uma semana. Também o bar 37 na Praia tem uma nova zona lounge, com almofadas e mesas baixas, para petiscar tábuas de queijos, hambúrgueres, pregos, enquanto se beberica sangria, gins e cocktails, ao som de DJ, às sextas, sábados e domingos.

Ir à praia como antigamente
A recriação histórica Vir-a-Banhos costuma acontecer anualmente, em julho, nas praias da cidade, e permite fazer uma viagem no tempo, até ao início do século XX, observando o ambiente e os trajes de quem frequentava os areais naquela época. Geralmente, não faltam personagens como banhistas vestidos a preceito, vilões, fidalgos, fotógrafo à la minuta, vendedores ambulantes e até um teatro de robertos.

Acesso a deficientes – sim
Bandeira Azul – sim
WC/Chuveiros – sim
Estacionamento – sim

 


Ir a banhos em Ílhavo com tripas doces e junto ao farol mais alto do país

Instalada numa península entre o mar e a ria de Aveiro, a Praia da Barra é um dos destinos balneares mais procurados da região. É enquadrada na paisagem pelo farol mais alto do país. AC

No verão, o largo e longo areal da praia da Barra, no concelho de Ílhavo, enche-se de banhistas vindos das terras ao redor e de longe, muitos de além fronteiras, que desde Vilar Formoso encontram na A25 ligação direta aos banhos de mar e de sol. A qualidade das águas é um dos atrativos da Barra, galardoada com Bandeira Azul desde 1989, assim como a possibilidade de praticar diversos desportos aquáticos como o surf, bodyboard, windsurf, kitesurf, vela e pesca desportiva. Outra das mais-valias é ser acessível a cadeiras de rodas, e equipada com toldos, espreguiçadeiras, duches, e casas de banho públicas.

Praia da Barra e farol da Barra, em Ílhavo. (Fotografia de Maria João Gala/Global Imagens)

A praia está instalada numa península separada do continente pela Ria de Aveiro, que ali se junta ao mar, e é protegida a norte por um pontão que marca a entrada do porto. Ao longo dos seus cerca de 500 metros, que convidam a passeios com cheiro de maresia, alinham-se pescadores recreativos de linha lançada ao mar. Chegando ao fundo do paredão, tem-se uma panorâmica da praia, enquadrada pelo icónico farol da Barra, listrado de branco e vermelho, e composta por uma extensa faixa de areia fina para sul, as dunas e o pinhal de São Jacinto a norte.

Bar Offshore, na Praia da Barra. (Fotografia de Maria João Gala/Global Imagens)

O abrigo do molhe cria as condições para desfrutar tranquilamente da água que se estende com pouca profundidade sobre o areal, permitindo ter pé até longa distância mar adentro, e que faz da praia uma aposta segura para famílias. Num intervalo dos banhos, do jogo de cartas, da leitura de um livro ou das brincadeiras das crianças, formam-se filas em frente dos pequenos quiosques da marginal, de onde sai o aroma doce da tripa de Aveiro, feita com uma massa mole de bolacha americana e recheio de chocolate, ovos moles, queijo, entre outras opções. Em alternativa, há gelados artesanais, refrescos e petiscos para picar nas esplanadas que são ponto de encontro e lugar de convívio ao longo de todo o ano.

Os passadiços de madeira que se estendem ao longo do areal, e desde o verão passado ligam as praias da Barra e da Costa Nova – são 1236 metros pelas dunas – fazem outro convite ao passeio, em caminhada, ou bicicleta. Pelo caminho vão encontrar-se bares de praia, para um refresco de pé na areia. Uma das novidades mais frescas a despontar no areal da Barra é o Offshore, que abriu mesmo ao lado do irmão mais velho, o bar e restaurante Sétimo, mas com propostas mais leves, como a sandes de polvo ou o prego de atum e os nachos com guacamole. A intenção de trazer um pouco do México para a Praia da Barra também se traduz na aposta em cocktails à base de mezcal, um destilado tradicional desse país.

O maior farol de Portugal
Com 62 metros de altura – 66 acima do nível do mar – o Farol da Barra é o mais alto do país, e o segundo maior da península Ibérica. Quando foi construído, em 1893, era o sexto maior do mundo, em alvenaria de pedra, e hoje ocupa o 26º lugar entre os mais altos do globo. Todas as quartas-feiras à tarde são realizadas visitas gratuitas, que permitem subir a torre cilíndrica e, após 288 degraus, apreciar a vista, que integra as dunas de São Jacinto, a ria de Aveiro e os barcos e entram e saem do porto e a praia vestida de guarda-sóis coloridos.

Acesso cadeira de rodas: sim
Bandeira azul: sim
Estacionamento: sim
WC: sim

 


A baía de São Martinho, ou a praia em forma de concha

Conhecida noutro tempo como “o bidé das marquesas”, a praia de São Martinho do Porto, no concelho de Alcobaça, continua a seduzir cada vez mais veraneantes. PSL

Vista do alto, a baía de São Martinho do Porto faz lembrar um postal da Riviera francesa. A praia que tem pergaminhos desde há um século já não é o bidé das marquesas – como ficou conhecida nos meios de veraneio – mas guarda muita da traça desses tempos. Era porto de abrigo para a nobreza e alta burguesia de Lisboa, desde que no final do século XIX os mais endinheirados foram ganhando o hábito de desfrutar do “ar da praia”, como conta Ramalho Ortigão no livro “As Praias de Portugal – guia do banhista e do viajante”.

São Martinho vive, ainda hoje, os resquícios desse tempo: uma boa parte dos proprietários são famílias da classe média-alta de Lisboa, que se resguardam na pacatez da vila do bulício da cidade. E nos últimos tempos as notícias dão conta de uma procura inusitada para férias, suplantando mesmo algumas praias do Algarve. Não admira. A beleza da praia, em forma de concha, seduz quem se deixa enamorar.

Praia de São Martinho do Porto. (Fotografia de Nuno Brites/Global Imagens)

A partir da marginal, percebe-se bem a razão de não abdicarem desse tesouro: o mar calmo, ideal para as crianças, meia dúzia de barcos a enfeitar a baía, barraquinhas alinhadas. As manhãs são tradicionalmente nubladas e pedem muitas vezes um agasalho. São Martinho é sobretudo uma praia para famílias, e por isso é comum ver regressar muitas das crianças de antigamente que em jovens optaram por outras paragens e que, uma vez adultos, e já com filhos, retornam à baía e às casas de família.

Praia de São Martinho do Porto. (Fotografia de Nuno Brites/Global Imagens)

Há, porém, muito palacete transformado em alojamento local, uma resposta que nos últimos anos foi criada a pensar no turismo nórdico que ali veio ter. Depois da pandemia, fala-se mais português em toda a parte, seja na praia, nas esplanadas, ou em Salir do Porto, onde fica a maior duna do país (que já foi a maior da europa).

De volta à vila, o ascensor é uma boa forma de chegar à parte cimeira. Não há melhor para recarregar energia que uma visita à pastelaria Concha. Esta história começa em 1950 “com seis mulheres a vender bolos na praia, com uma lata”, conta Inês Frutuoso, que trocou o ensino dos mais novos pelo atendimento ao público diverso. Lá em baixo ainda se mantém a Piaggio e a lata em cima, para quem não aguenta subir ao cume da vila para matar desejos. Ainda assim, vale a pena o esforço. Nem que seja para desfrutar do pátio resguardado por suculentas, um toldo de praia e muito sossego. Porque há um lado pitoresco de São Martinho que se mantém lá em cima, e observa a praia, sempre bela, cá em baixo.

Há limo no cais

Na baía de São Martinho há uma alga característica: o limo. Há ainda mais de 20 apanhadores que se dedicam a este ofício, uma vez que a alga vermelha poderá vir a ser usada pela indústria farmacêutica. Pode ser apanhada entre 15 de junho e 15 de novembro, mas mergulhadores e apanhadores só vão ao mar no máximo 30 vezes, dependendo das condições climatéricas, do estado do mar. É a existência desta alga que deixa um cheiro característico na baía, muitas vezes, conferindo à praia um aroma único também.

Acesso para deficientes: sim
Bandeira azul: sim
WC e chuveiros: sim
Estacionamento gratuito: sim

 


“Aqui vou eu para a Costa”: entre os areais de sempre e novos restaurantes

Extensos e inclusivos, os areais da Costa da Caparica, em Almada – nove deles galardoados com Bandeira Azul – continuam a ser o refresco de verão para muitos lisboetas e moradores da margem sul do Tejo, pelos acessos e proximidade. AR

Em 1989, o grupo de rock Peste & Sida lançava o álbum “Portem-se Bem”, com o tema “Sol da Caparica”, que versa assim: “Aqui vou eu para a costa/Aqui vou eu cheio de pica/De Lisboa vou fugir/Vou pró sol da Caparica”. Mais de trinta anos depois muita coisa mudou na Costa da Caparica, e alguns aspetos perduraram (além do refrão): as marcas do desordenamento urbanístico da segunda metade do século XX e a preferência de milhares de lisboetas por aqueles areais próximos.

Os areais da Costa da Caparica estendem-se por 15 quilómetros às portas de Lisboa, no concelho de Almada. (Fotografia de Gerardo Santos/GI)

Tendo a sorte de apanhar o trânsito de feição, estes 15 quilómetros contínuos de areal (ou 30, se contabilizados até ao Meco, em Sesimbra) encontram-se a apenas 15 minutos do centro da capital. Esta proximidade, avaliada juntamente com Sintra, Cascais e Arrábida, candidatou Lisboa ao prémio de Melhor Destino Metropolitano à beira-mar na corrente edição dos World Travel Awards, cuja votação decorre até ao dia 8 de agosto, e que é um dos poucos títulos que faltam a Lisboa arrecadar.

(Fotografia de Gerardo Santos/GI)

Com a construção de vários molhes de pedra para evitar a erosão costeira, o areal da Costa da Caparica dividiu-se em várias praias, cada uma com o seu nome, ambiente e público próprios. Muito conhecidas são as praias de São João, CDS – Centro Desportivo de Surf, Paraíso (ou Tarquínio, o nome do bar) e Rainha. E quase todas são salas de aula ao ar livre para os alunos das escolas de surf, bodyboard e windsurf, desportos que convivem pacificamente com quem procura só o lazer.

 

Novidades à beira-mar
Entre os extremos norte (Cova do Vapor) e sul (Fonte da Telha), multiplicam-se os restaurantes e bares de praia, quase todos debruçados sobre as dunas. Por estes dias, no Lorosae, em São João da Caparica – um retiro de madeira com esplanadas arejadas e uma zona de pés na areia – há uma nova carta de verão com tacos de atum, de camarão e de pá de porco; tataki de atum com quinoa; e uma salada vegan, entre outros sabores refrescados com sumos naturais, sangrias e cocktails.

O nome significa “Sol Nascente”, em timorense, e remete para um destino quente e exótico, explica Frederico Dias Nunes, 33 anos, natural da Charneca da Caparica. Quatro anos depois de ter assumido a gestão do espaço, atrai clientela portuguesa e estrangeira de manhã à noite, com sunsets de sexta a domingo a cargo de DJs. Já na Praia da Cabana do Pescador abriu, este verão, a Casa Reîa, um “beach club” que promete casar a gastronomia com a música e experiências sensoriais.

A cozinha, comandada por três chefs, aposta no peixe, marisco e vegetais e propõe pratos ora contemporâneos, como sashimi de robalo, maçã verde, aipo e funcho, ora tradicionais, como peixe do dia grelhado. As ostras de Setúbal saboreiam-se ao final da tarde, com os pés na areia e copo na mão, e também se pode comprar vestuário e acessórios, ou beber um café de especialidade. Emil Stefkov, investidor da Macedónia em várias áreas, e o francês Sacha Gielbaum, criaram a Reîa juntos.


O comboio da Transpraia

Os carris comidos pela areia e pela vegetação são uma sombra do que o Transpraia já foi: um comboio turístico que fazia a ligação entre a vila da Costa da Caparica e a Fonte da Telha e que durante muitos anos foi o único meio de chegar às praias mais afastadas, a sul. O “comboiozinho”, como lhe chamou o Diário de Notícias na notícia sobre a viagem inaugural, a 29 de junho de 1960, percorria nove quilómetros, tendo quatro estações e 15 apeadeiros. Nos tempos áureos chegou a ser frequentado por figuras públicas, até se tornar uma rotina para amantes de comboios e saudosistas. Há dois anos, data em que faria 60 anos, o Transpraia deixou de circular. Ao que tudo indica, a autarquia almadense terá interesse em comprá-lo e reativá-lo.

Acesso a deficientes: Praia do Paraíso
Bandeira Azul: sim
WC/Chuveiros: sim
Estacionamento: sim

 


Mergulhos em pleno Parque Natural do Sudoeste Alentejano

Cercada pelas altas falésias do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, a Praia da Zambujeira do Mar é um dos areais locais de eleição, colada à vila que a batiza. Há uma década, tornou-se numa das 7 Maravilhas de Portugal. NC

A proximidade à vila da Zambujeira do Mar, situada no topo de arribas em pleno Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, torna-a num dos areais mais procurados desta região durante o verão, ainda mais em agosto, quando acontece o vizinho festival Meo Sudoeste.

Praia da Zambujeira do Mar.
(Fotografia de Reinaldo Rodrigues/Global Imagens)

Cercado de altas falésias, o areal da Praia da Zambujeira do Mar tem capacidade para 900 banhistas, mas, além da extensão do seu areal, tem na versatilidade outra das suas mais-valias: com recipientes de lixo, chuveiros, equipamento para primeiros socorros, instalações sanitárias, estacionamento para automóveis e bicicletas, acesso a pessoas com mobilidade condicionada e o selo da Bandeira Azul, pela qualidade da água e presença de nadadores-salvadores na época balnear.

Além disso, entre pausas para mergulhos e banhos de sol, vale a pena espreitar os painéis informativos junto à praia, como o que se refere ao mundo das algas e das técnicas da apanha das mesmas, ali na região. Já o mar que banha a Zambujeira, agitado por vezes, convida à prática habitual de surf e bodyboard.

Praia da Zambujeira do Mar. (Fotografia de Reinaldo Rodrigues/Global Imagens)

À chegada ou à saída, é tempo para uma pausa no topo da arriba norte da praia, onde se situa a Capela da Nossa Senhora do Mar – construída nos anos 1960 em homenagem à padroeira da Zambujeira – e um amplo miradouro com vista desafogada, não só para a praia, como para o vasto Atlântico. Um local ideal para se assistir ao por-do-sol, por exemplo.
Seguindo pela vila, num passeio entre as típicas casas caiadas, não faltam opções para prolongar o lazer. É o caso do novo alojamento local Azul, que soma oito quartos duplos com vista-mar ou para falésias. Se o assunto for marisco, não há como fugir ao clássico A Barca Tranquitanas, onde se serve a sua já conhecida feijoada de búzios, o choco frito com amêijoas ou peixe na grelha, como o sargo, um dos reis da costa local.

Uma praia vencedora
Há precisamente uma década, a Praia da Zambujeira do Mar foi uma das sete vencedoras do concurso 7 Maravilhas de Portugal 2012, neste ano dedicado aos areais do país.

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A praia de Albufeira que lembra os pescadores, entre falésias e areia dourada

No inverno, é palco da passagem de ano e fogo-de-artifício, mas é no verão que a Praia dos Pescadores, em Albufeira, brilha mais, oferecendo todas as comodidades e um bonito enquadramento paisagístico. AR

Encaixada entre rochas e falésias escarpadas, a Praia dos Pescadores é singular, por ter um acesso facilitado por duas escadas rolantes exteriores, as quais não deixam de assinalar, também, o contraste com o passado piscatório da antiga vila. De facto, foi às embarcações de pesca que descansavam no areal, antes e depois da faina, que a praia foi buscar o seu nome, e assim ficou, apesar de os barcos terem sido deslocados para o porto de abrigo na marina de Albufeira.

A Praia dos Pescadores, em Albufeira, é uma das mais conhecidas e procuradas da região. (Fotografia de Algarvephotopress/GI)

Vigiada pelo casario branco disposto em anfiteatro e cujos alicerces se incrustam na rocha, e limitada por um pontão a nascente, a praia perdeu o colorido dos barcos de pesca, mas ganhou outro graças às centenas de banhistas que fixam diariamente os guardassóis na areia. O enquadramento urbano torna-a extremamente procurada no verão, estando acessível a pé através da comunicante Praia do Peneco e do Largo 25 de Abril. A areia dourada e a fraca ondulação são motivos de escolha.

(Fotografia de Sara Matos/GI)

Já a vizinha Praia do Peneco deve o nome à forma como os leixões são localmente apelidados (um leixão é uma formação rochosa isolada na costa). Encaixado sobre a falésia, com entrada pela Praça Miguel Bombarda, encontra-se o Sal Rosa, bar de cocktails diferenciadores com vista sobre a praia; e tanto de um lado como do outro há várias esplanadas para comer. Já o Restaurante da Praia de São Rafael, a cerca de 10 minutos de carro, reabriu com peixe, marisco e novos cocktails para o verão.


Um túnel para a praia

Em 1936, o centro histórico de Albufeira ganhou uma passagem pedonal direta para a Praia do Peneco com a construção de um túnel numa arriba de calcário e arenitos da idade miocénica (23 a 5 milhões de anos). A inauguração da estrutura, idealizada pelo pintor Samora Barros e materializada pela Comissão de Iniciativa de Albufeira, teve a presença do então ministro das obras públicas Duarte Pacheco, natural de Loulé e que costumava passar férias em Albufeira. O túnel termina num miradouro com escadas para a praia.

(Fotografia de Sara Matos/GI)

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Monte Gordo: o pioneiro destino de verão (onde uma atriz foi multada por usar biquíni)

O extenso areal dourado que mergulha na água quente continua a ser o maior atrativo da praia de Monte Gordo (concelho de Vila Real de Santo António), à qual não falta um casino, passadiço, restaurantes e muitas memórias coletivas. AR

A história em torno da praia de Monte Gordo tem muito que ver com o aeroporto de Faro, cuja abertura a 11 de julho de 1965 veio impulsionar todo o turismo algarvio como hoje o conhecemos. Dois anos antes, já o Hotel Vasco da Gama abria portas em Monte Gordo, como um dos três primeiros grandes hotéis da era moderna (a par do Garbe, em Armação de Pêra; e do Baleeira, em Sagres). Classificado com cinco estrelas na altura, com piscina e campo de ténis, hoje é um três estrelas confortável.

A praia de Monte Gordo foi uma das primeiras estâncias balneares do Algarve. (Fotografia de André Vidigal/GI)

Os turistas que chegavam em busca do clima ameno e das paisagens pitorescas cruzavam-se, então, com pescadores locais e com muitos veraneantes alentejanos. Monte Gordo foi trilhando o seu caminho, sendo hoje reconhecida como uma das primeiras estâncias balneares do Algarve. Os barcos de pesca repousam numa das pontas da praia, e as gaivotas grasnam cada vez que sentem o odor a peixe fresco. Enquanto isso, os banhistas espraiam-se pelo areal, atraídos pelas águas cálidas.

(Fotografia de Reinaldo Rodrigues/GI)

Mais recente é o Passeio Marítimo Dr. António Almeida Santos, um passadiço com três quilómetros sobrelevados face às dunas e com iluminação noturna, rampas de acesso e zonas de descanso. Todos os restaurantes que assentavam sobre a areia passaram a estar nivelados. É o caso do Mar Salgado, cuja travessa Mar à Mesa (polvo à lagareiro, camarão tigre, lulas e batata a murro) é uma das especialidades, a par dos mexilhões à Mar Salgado e do desfile de mariscos sempre disponíveis.


A atriz multada por usar biquíni

Ingrid Bergman, atriz de Hollywood, acabara de gravar “Hedda Gabler” (adaptação televisiva da peça de Henrik Ibsen) quando visitou o Algarve, ficando hospedada no então luxuoso e inacessível Hotel Vasco da Gama. Numa manhã de 1963, desceu à praia vestida de biquíni, exibindo a beleza dos seus 48 anos, e atraiu, sem intenção, um mar de gente, sobretudo pescadores pobres que viviam em palhotas. Proibido em Portugal (as mulheres tinham de usar fato de banho da cabeça aos pés e os homens não podiam estar em tronco nu), o biquini ainda mal tinha surgido no cinema, e tão pouco era conhecido pela população. Segundo relata a história, um dos banheiros aproximou-se e passou mesmo à atriz uma multa por usar biquíni.

Acesso a deficientes: sim
Bandeira Azul: sim
WC/Chuveiros: sim
Estacionamento: sim




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