De Viana do Castelo a Valença de comboio

Estação de comboios de Viana do Castelo. (Rui Manuel Fonseca/Global Imagens)
De Viana do Castelo a Valença, é uma viagem curta, mas onde cabe uma região, a descobrir em paisagens de mar, rio e montanha. E de praias, ecovias, pontes, castelos e a Galiza à vista, do outro lado do rio Minho.

Âncora Praia
1# PETISCOS E PASSEIOS JUNTO AO MAR

Pouco mais de dez minutos depois de um café matinal ao balcão do bonito BAR DA ESTAÇÃO de Viana do Castelo, a apreciar fotografias de antigas locomotivas, antes de zarpar rumo a Valença, desembarcamos no apeadeiro de Âncora-Praia.

Trazemos o mar à vista, pela janela do comboio, desde Areosa, Carreço e Afife. E vontade de apear. A linha divide Vila Praia de Âncora a meio. Da parte de cima, quem sai do longo apeadeiro, em pleno centro, na Praça da República, impõe-se a Capela de Nossa Senhora da Bonança. Ao redor há lojas e cafés com esplanada. Para baixo da linha, fica a praia, nem sequer a um minuto. É só descer a pé a Rua Cândido dos Reis até à zona marginal.

Dali, seguindo pela esquerda ao longo da avenida Dr. Ramos Pereira, de frente para o mar, chega-se a uma zona ajardinada com esplanada e parques infantil e geriátrico. E, pela direita, descobre-se o portinho de pesca, junto ao imponente Forte da Lagarteira, com mercado de peixe e tasquinhas típicas e restaurantes à volta. O passeio marítimo estende-se mais para a frente, em forma de ecovia de piso amarelo, paralela ao mar. Até à localidade vizinha de Moledo, num percurso pedonal e ciclável que dá pelo nome de Santo Isidoro, em alusão a uma histórica capela ali existente. O que não falta em Âncora são pretextos para caminhar, correr ou pedalar: o PASSEIO FRANCISCO SAMPAIO, que integra a Ecovia do Litoral Norte, atravessa toda a frente marítima da vila, e pode-se entrar pelas dunas e pelo interior do rio.

Bar da Estação de Viana do Castelo. (Rui Manuel Fonseca/Global Imagens)

Voltando atrás, à avenida marginal, entramos num pequeno espaço para comer e beber algo de diferente. No FIKA ENTR’AMIGOS SEA FRONT CAFE, os anfitriões Paulo Amaral e Ariana Biscaia, propõem, à chegada, Kombucha com sabor tradicional ou de fruta para saciar a sede. Também há fritz-kola, sumos naturais e cervejas artesanais. A que está a ter mais saída este verão, diz Paulo, é a havaiana do “nome feio”, a Kona Big Wave.

Propõem para comer hambúrgueres suculentos e coloridas. Um de picanha, servido em pão vermelho, de tomate seco e orégãos, um vegetariano em pão verde, da cor dos espinafres, e um de atum fresco servido em pão castanho de girassol.

Sandes de pernil e tostadas, mediterrânica e de salmão, são outras propostas, para degustar, com vista para o mar. Na esplanada ou na pequena sala interior, onde há um pequeno “show-room” com criações de Paulo e Ariana: artigos têxteis de praia, criança, t-shirts e sweats.

Embalados pelo ‘hidromel’ da casa (champanhe com mel), oferecido após a refeição, e pela música ambiente dos anos 80 e 90, zarpamos para a estação, para apanhar o comboio.

Moledo
#2 PREGUIÇAR NO PAREDÃO COM A GALIZA À VISTA

Três minutos depois de deixar o apeadeiro de Âncora-Praia, o comboio chega a Moledo. Três minutos com mar a perder de vista nas janelas e uma das passagens mágicas da Linha do Minho. Mesmo ali, antes do aglomerado de casas e prédios de Moledo que tapam as vistas, há um lapso de tempo, digno de cenário de cinema. A praia de areia branca até à foz do rio Minho, encostada ao extenso pinhal do Camarido, o Forte da Ínsua ao longe no meio das águas e o Monte de Santa Tecla (um cone perfeito a lembrar um vulcão) do outro lado, em Espanha.

A imagem panorâmica capta-se, com o comboio em andamento, a segundos da chegada à estação. Se houver sargaço (algas castanhas que o povo seca ao sol para depois adubar a terra) estendido no areal, dá a fotografia perfeita.

Apeados, descer a pé até à praia (um minuto, se tanto) pela Avenida Engenheiro Sousa Rego. Um longo paredão, convida a preguiçar de bancada, contemplando a beleza ao redor. A caminhar para sul entra-se na ecovia de Santo Isidoro e para Norte no Pinhal do Camarido: duas caminhadas por cenários de sonho.

Moledo. (Rui Manuel Fonseca/Global Imagens)

Para descansar as pernas e aconchegar o estômago, há restaurantes e cafés na avenida marginal. O PR’A LÁ CAMINHA é um clássico do verão numa das praias mais concorridas do Alto Minho. Ponto de paragem, durante a época estival, de figuras conhecidas do público, desde políticos, a músicos e atores, e também de muitos veraneantes anónimos. Desde 1995 que faz as delícias de quem ali pára, com as suas sanduíches, saladas e doces, mojitos e caipirinhas e afins. Já o PAREDÃO 476 tem o único terraço de acesso público de Moledo. E tapas, refeições leves e bolo de amêndoa da mãe do dono da casa, Emídio Nunes, “Manolito” para conhecidos e amigos.

Caminha
#3 CAMINHAR POR TESOUROS E DELÍCIAS

Segue a viagem. Mais quatro minutos e o comboio para na estação de Caminha. Deixamos para trás um troço de linha que fura o Pinhal do Camarido, atravessa um túnel e entra no centro da vila. Da estação, subindo à esquerda pela Avenida Saraiva de Carvalho e, ao fundo, virando à direita e descendo a Rua da Corredoura, artéria de comércio e serviços, chega-se à PRAÇA CONSELHEIRO SILVA TORRES. É a praça central de Caminha, conhecida por Terreiro, com o seu chafariz renascentista, que serve de assento aos locais e a turistas em dias soalheiros. Zona de cafés, pastelaria e amplas esplanadas, onde apetecer estar. Do café Central às pastelarias RIVIERA e Cabana, há por onde escolher. E depois visitar a Igreja da Misericórdia, ‘casa’ de Santa Rita de Cássia e a TORRE DO RELÓGIO, desde 2008 transformado em Núcleo Museológico do Centro Histórico de Caminha.

A caminhar ainda há à mão de semear o miradouro da Boavista, situada na antiga muralha, que oferece uma inspiradora vista sobre os telhados da vila, para o rio Minho, a foz e Santa Tecla na margem espanhola. Saindo da praça central sob a Torre do Relógio, a caminhar entra-se pela Rua Direita. A clássica rua dos bares de Caminha. Ali descobre-se uma casa de petiscos, com uma pequena esplanada e com muita graça.

Tasca do Manel (Rui Manuel Fonseca/Global Imagens)

A TASCA DO MANEL tem como logotipo o bigode, em alusão ao que o proprietário Manuel Pires ostenta com orgulho, desde que o deixou crescer há perto de 40 anos, quando casou com Fátima Branco. Ambos servem ao balcão: pregos, moelas, mexilhões, rissóis e bolinhos de bacalhau, chouriça assada, pimentos de padrón e caracóis, no pires ou no prato. Manel garante que ali se come “o melhor prego do Mundo e arredores”.

Nas suas mesas de madeira no passeio da Rua Direita, bebem-se finos (cerveja) frescos sempre a sair, vinho, caipirinhas e ‘shots’. E ainda podemos usar Internet grátis com a senha “sporting2018” e sorrir para um Zé Povinho de cerâmica, que com o seu gesto nos avisa para não sair sem pagar.

Vila Nova de Cerveira
#4 “CURTIR” CERVEIRA

Poucos minutos separam as estações de Caminha e Vila Nova de Cerveira, e mais fossem para apreciar melhor uma paisagem que, deixando para trás o mar, mostra o rio Minho em todo o seu esplendor, ao correr da linha. O comboio atravessa uma ponte sobre o rio Coura e marcha paralelo ao curso de água, passando pelas estações e apeadeiros de Seixas, Esqueiro (Lanhelas) e Gondarém. As imagens que se vêm da janela são homogéneas: o Minho e o verde das suas margens, o casario das aldeias e uma ecopista, quase em contínuo. Na zona de Lanhelas, avista-se o castelo da Quinta da Torre, espaço aberto a visitas com marcação e a eventos, como casamentos e festas.

Quando o comboio de aproxima da vila de Cerveira, avista-se o PARQUE DO CASTELINHO, o Aquamuseu e uma extensa zona de lazer fronteira ao Minho, com bancos a convidar à contemplação e amenas conversas, com o rio e embarcações de pesca tradicionais aos pés. Da estação ali é um salto a pé, de um a dois minutos.

O espaço natural inclui várias propostas desportivas e recreativas: parques aquático, geriátrico, infantil e de lazer, uma charca interpretativa, Aquamuseu do rio Minho, campos de jogos para a prática de futebol, voleibol, andebol e basquetebol, e mini-golfe. A escassos metros dali, um espaço criado de raíz por dois amigos, convida ao deleite.

Parque do Castelinho (Rui Manuel Fonseca/Global Imagens)

O CURT’ISSO TABERNA BAR mescla no nome a cortiça dos seus candeeiros e paredes e o convite (irrecusável) a curtir de António Esmeriz e Nelson Dantas. Cada proposta é um pecado de gula, no pequeno bar situado no coração da vila, com esplanada de madeira. Nas tapas, pode contar com pimentos de padron, tortilhas, gambas alioli, carpaccio de polvo, camembert assado com queijo, nozes e tomate seco, e batatas bravas.

O leque de bruchetas inclui caprese, cogumelos, abacate, salmão, bacalhau e sardinha.; nos wraps, há salmão, húmus, queijo e falafel; e três saladase grega, italiana e mexicana. Na lista, surge ainda feijoada vegetariana, beringela gratinada e nachos.
A carne não entra no Curt’isso, mas não se sente a falta dela. As sangrias são a especialidade dos dois amigos, que destacam a de espumante com morango. Sugerem algumas cervejas artesanais (a Musa é uma delas) e vinhos do enólogo Carlos Lucas, o Flor de Maio e o Ribeiro Santo. Nem apetece sair dali.

De volta ao comboio, seguem-se mais ou menos dez minutos de viagem por entre arvoredo, campos agrícolas, casario de aldeias e vista (intermitente) de rio. A linha inclui (ou não) paragens em Carvalha e São Pedro da Torre, antes de culminar em plena cidade de Valença, junto à fronteira com Espanha. O edifício da estação é bonito e merece algum tempo de observação. A partir dali, é tudo (mais ou menos) perto a pé, sendo recomendável gostar de caminhar.

É possível ir passo a passo até à zona da cidade nova, com os seus prédios altos, e lojas, cafés, pastelarias e restaurantes, aqui e ali. E subir ao interior da FORTALEZA, aí sim com lojas de artigos têxteis (principalmente), restaurantes e café, porta sim, porta sim.
Dali não convém sair sem apreciar a vista panorâmica a partir das muralhas para o rio Minho e a cidade vizinha de Tui, com a sua majestosa catedral, na margem espanhola. Mas já lá vamos.

Pousada de S. Teotónio (Rui Manuel Fonseca/Global Imagens)

Descemos antes a Avenida de Espanha, a pé rumo a antiga fronteira e à sua ponte de ferro. Após sair da estação, pode-se tomar a Avenida Miguel Dantas e na rotunda, ir em frente. Antes de chegar ao antigo edifício da alfândega, há uma casa de família para comer e beber deliciados. Diogo Ribeiro de 30 anos, criou o FRONTEIRA GASTROBAR- TAPAS, VINHOS E GINS, quando tinha 23, ajudado pela avó Amélia. A mãe Branca e a namorada Marisa também davam apoio a servir petiscos, mas a casa cresceu. Hoje é um paraíso de degustação, com três espaços (pequenos) distintos: sala interior e esplanadas coberta e ao ar livre. O chef Nuno Mota é alquimista na cozinha, de onde saem diversidade de tapas, tábuas de queijos e enchidos e carnes maturadas, onde começam a comer os olhos.

Uma proposta: alheira com maçã caramelizada e compota da mesma, gyosas de legumes com alga wakame e molho agridoce, cogumelos recheados com queijo e bacon e rissóis de bacalhau com pasta de azeitona. Para beber, há sangrias da casa e, a fechar, uma “Explosão de Chocolate” (petit gateau e avelã, nata, caramelo, amêndoa e mini-gelado) ou a tarte de amêndoa com gelado de baunilha e canela. Para fim de viagem, pode-se ficar no aconchego de um dos 18 quartos da POUSADA SÃO TEOTÓNIO, no interior da muralha de Valença, com vista para o rio Minho, ponte Eiffel e Tui. O diretor António Neiva sugere também uma refeição no restaurante com vista panorâmica: bacalhau à São Tetónio ou cabrito à Serrana e, para sobremesa, Borrachinhos de Valença, um doce tradicional.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.




Outros Artigos





Outros Conteúdos GMG





Send this to friend