Fazer férias em Agosto pode virar pesadelo. Junte ao excesso de turistas, e a consequente subida de preços, filas intermináveis para regressar a casa da praia nas tardes de nortada sem tréguas, restaurantes apinhados e, compreende-se, quebra no nível de simpatia de quem recebe e está ávido de descanso. Posso revelar, com grande garantia, a descoberta da solução para terminar o pesadelo das férias de agosto, indo de férias em agosto.
Acabei, aliás, de tomar uma decisão: farei sempre férias nesse mês, que os antigos camponeses viam como o início do inverno. Não nas ilhas gregas, Sicília, muito menos em Roma, na romântica Paris ou na bela Dubrovnik. A solução é ficar em Portugal. Eu sei, Albufeira, em agosto, terá seguramente o mesmo número de pessoas por metro quadrado que a Acrópole, em Atenas. Almograve, Apúlia ou Póvoa de Varzim, de igual modo, serão alternativas pouco viáveis.
Devia omitir a informação, todavia a minha faceta altruísta fala mais alto: irei para o Minho, aquele que se confunde já com Trás-os-Montes. Onde as ruelas empedradas se povoam de linguajares estranhos, um misto de francês e português, e de veículos de matrículas estrangeiras. E na curva da estrada, a que teimam chamar largo, surge o palco a animar as noites quentes e abafar o primordial som dos ralos. Depois, ao domingo, a procissão há de sair da capela, dará a volta à aldeia: das casa descem famílias inteiras para a ver passar, interrompem o almoço feito com o amor de quem vê os seus apenas uma vez por ano. Enquanto desfilam os anjinhos, e os rostos dos homens não disfarçam o esforço de carregar ao ombro a santidade no andor, na borda do caminho fazem-se combinações sobre o dia seguinte, a que rio iremos iludir o calor tórrido, ou quantos quilómetros caminharemos pela serra até atingir aquela lagoa profunda, água fria e límpida, ideal para um mergulho.
São tantas as opções, uma paleta quase infinda de paisagens, caminhos trilhados em aldeias que apenas ganham vida no querido mês de agosto, como se o tempo corresse em círculo. Hoje como ontem voltámos a marcar encontro para ir ver o céu estrelado, imensamente estrelado, e deslumbrámo-nos como na primeira vez – alumiados pela lua e pelas estrelas, repetimos as remotas histórias de bruxas e princesas.