O bichinho do colecionismo já estava lá, a paixão pela arte também, e a vocação para a marcenaria revelou-se muito cedo, quando aos 16 anos, Mário Rocha foi trabalhar para a oficina de mobiliário do pai. Começou por colecionar ferramentas e máquinas relacionadas com o ofício, e não encontrando nas suas viagens pelo mundo nenhum museu sobre o assunto, decidiu criá-lo ele próprio.
Em abril, abriram-se as portas do Antarte Museum, no complexo industrial da marca de mobiliário que Mário fundou em 1998, em Paredes, e que desde logo se tornou uma referência no mercado com as suas coleções de design minimalista e intemporal. A história da empresa encontra-se com a da própria marcenaria ao longo da exposição, composta por mais de mil peças que mostram a evolução de ferramentas e máquinas deste ofício, desde o Antigo Egipto até ao século XX. “A primeira peça de que há registo é a enxó (utensílio utilizado para desbastar pelas grossas de madeira), depois apareceu o furadouro”, elucida o mentor do museu.
“A marcenaria é a filigrana da carpintaria”, realça. “O carpinteiro trabalha mais estruturas de grande dimensão e o marceneiro é muito minucioso, faz as peças de mobiliário, vai muito ao pormenor”, distingue. “O marceneiro chegava a fazer a sua própria ferramenta. Ainda me lembro, o meu pai gostava muito de fazer gaipiras (ferramenta utilizada para alisar superfícies), por exemplo”, conta.
Com a revolução industrial, as ferramentas deixaram de ser em madeira e passaram a ser feitas em metal, e a chegada da eletricidade veio revolucionar novamente a marcenaria, como comprova um tico-tico da Singer, a pedal, do século XIX, que integra a coleção.
A atualidade serve de ponte para a história da Antarte, e das suas peças mais icónicas, como o cabide-árvore, ou a cadeira feita para o Papa Bento XVI, a propósito da sua visita ao Porto em 2010. Na linha cronológica da marca cabem ainda várias iniciativas de responsabilidade ambiental e social, relações com o mundo artístico e um contributo inegável para a história da marcenaria portuguesa.
Galeria de arte
Antes de entrar no museu, há uma galeria de arte com exposições rotativas. “Tenho uma coleção mais dedicada à portugalidade, aos artistas portugueses, que é a que está agora em exibição e depois outra resultante das minhas viagens, com peças de todo o mundo”, informa Mário. Na coleção patente encontram-se as esculturas que o arquitecto Siza Vieira desenhou para o pavilhão do Vaticano na Bienal de Arquitectura de Veneza, materializadas pela Antarte em madeira de criptoméria dos Açores.
A bancada do marceneiro
Uma das peças centrais do museu é a bancada do marceneiro, em madeira robusta e pesada,para proporcionar estabilidade durante o trabalho, e onde estão dispostas todas as ferramentas que o artesão utiliza: galopa, cola, raspadores…
Um museu vivo
Tirando partido de estar inserido no complexo industrial da Antarte, o museu integra ao longo da exposição janelas abertas para a zona de produção do mobiliário, para que os visitantes possam ver a fábrica em atividade.
Longitude : -8.2245