Arouca: passeios, mergulhos e pitéus nas serras da Freita e da Arada

Serra da Arada, integrada no Arouca Geopark. Fotografia: Maria João Gala/GI
Pedras que parecem parir outras pedras, a cascata mais alta de Portugal continental, minas com história, paisagens cinematográficas e boa mesa. Tudo isto se encontra nas serras da Freita e da Arada, em território do Arouca Geopark, Património Geológico da Humanidade.

Os Passadiços do Paiva têm larga fama, mas há muito mais para ver no Arouca Geopark, correspondente aos limites administrativos do concelho e reconhecido pela UNESCO como Património Geológico da Humanidade. São 328 quilómetros quadrados com 41 geossítios (locais de interesse geológico) classificados, muitos deles nas serras da Freita e da Arada, integradas no Maciço da Gralheira.

Aquelas serras vizinhas acolhem paisagens de sonho, o fenómeno – raríssimo no mundo – das pedras parideiras e vestígios da exploração mineira de volfrâmio, o chamado ouro negro, usado para produzir material bélico durante as duas guerras mundiais.

As minas em causa têm a particularidade de terem sido exploradas por alemães (Rio de Frades) e ingleses (Regoufe), que, apesar de estarem em conflito, conviviam pacificamente em Arouca. Como se não bastasse todo esse património e tamanha carga histórica, ainda há comida saborosa, lagoas e uma cascata que é a mais alta de Portugal continental.

 

Serra da Freita

Radar Meteorológico de Arouca

O planalto da Serra da Freita lembra um quadro muito belo e mutável: na primavera cobre-se de roxo e amarelo, devido à urze e à carqueja, e no fim do verão é todo dourado. Para melhor apreciar tal dádiva natural, nada como subir ao Radar Meteorológico de Arouca, uma infraestrutura do Instituto Português do Mar e da Atmosfera instalada a mais de mil metros de altitude, com uma varanda panorâmica no décimo andar. Em dias limpos, avista-se desde o Grande Porto até à Figueira da Foz, reconhece-se o mar e o perfil dos barcos, além do planalto em si e das povoações em redor. Aqui existe, aliás, um geossítio: a Panorâmica da Costa da Castanheira. Não é à toa que chamam à Freita “serra encantada”.

O planalto da Freita, que muda de cor consoante a estação do ano – no fim do verão, é dourado.
Fotografia: Maria João Gala/GI

Casa das Pedras Parideiras

Na aldeia de Castanheira fica a Casa das Pedras Parideiras, um centro de interpretação ligado a um fenómeno extremamente raro, cingido a uma área de um quilómetro quadrado. Os residentes habituaram-se a ver nódulos soltar-se da rocha mãe, por ação dos agentes erosivos, como se a pedra parisse outras pedras, por isso, batizaram-nas de pedras parideiras (o nome técnico é granito nodular da Castanheira). Os visitantes podem aceder a dois afloramentos: um a céu aberto e outro a coberto. Há quem acredite que pôr nódulos sob a almofada potencia a fertilidade, mas estes destinam-se só à investigação, não podem ser vendidos nem oferecidos.

Hotel Rural da Freita

Este três estrelas de construção recente é o único hotel da Serra da Freita.
Fotografia: Maria João Gala/GI

Davide Fernandes, que trabalha como guia na Casa das Pedras Parideiras, abriu o Hotel Rural da Freita, na aldeia de Mizarela, há pouco mais de um ano. Este hotel de três estrelas tem quartos com nomes de geossítios do Arouca Geopark e fica a escassas centenas de metros de um deles: a Frecha da Mizarela, a cascata mais alta de Portugal continental. Aqui, o rio Caima projeta-se a uma altura superior a 60 metros. Na sua base formam-se lagoas escolhidas por muitos para ir a banhos, apesar de o acesso não ser o mais fácil.

Restaurante do Pedrógão

Trutas (de produção própria) com batatas e molho de escabeche.
Fotografia: Maria João Gala/GI

Quando António Quaresma decidiu abrir o Restaurante do Pedrógão na aldeia homónima, na Serra da Freita, chamaram-lhe maluco. Certo é que as trutas com molho de escabeche, o javali, a vitela assada e outras especialidades atraem gente de todo o lado a esta casa de agricultores, que funciona só por reserva. António e a mulher, Susana Vieira, servem pratos confecionados com produtos próprios, das trutas às batatas, e também têm opções para vegetarianos. Nas sobremesas, destaca-se a sopa seca, um doce tradicional feito com pão, água de cozer carne, açúcar e canela. “Tem mau aspeto, mas sabe muito bem”, assegura o próprio.

Minas de Rio de Frades

Do outro lado da galeria do Vale da Cerdeira, em Rio de Frades, há lagoas.
Fotografia: DR

As minas de Rio de Frades, junto à povoação com o mesmo nome, são outro geossítio da Serra da Freita. A exploração de volfrâmio e estanho aqui remonta a 1915, pelo menos. Em 1923, foi fundada a Companhia Mineira do Norte de Portugal, apelidada de Companhia Alemã, por funcionar com capitais da Alemanha, à qual se destinava o minério. As ruínas das explorações e instalações mineiras, onde chegaram a trabalhar perto de 3000 pessoas, estão à vista, e a galeria do Vale da Cerdeira pode ser percorrida a pé – do outro lado encontra-se uma queda de água e lagoas que convidam a uns mergulhos.

 

Serra da Arada

Minas de Regoufe

As minas de Regoufe foram exploradas pelos ingleses, em plena Guerra Mundial.
Fotografia: Maria João Gala/GI

Se há geossítio que merece visita, na Serra da Arada, são as minas de Regoufe, perto da aldeia homónima. Em 1915, o francês Gustave Thomas obteve o alvará de exploração para a Poça da Cadela, a concessão mais importante da zona; e em 1941 surgiu a Companhia Portuguesa de Minas, conhecida como Companhia Inglesa, por funcionar sobretudo com capitais e administração britânicos. Os ingleses exploravam estas minas “para que não sobrasse volfrâmio para os alemães”, conta Pedro Teixeira, proprietário da Just Come – Countryside & Adventure Tours. Curiosamente, “alemães e ingleses eram inimigos pela Europa fora, mas aqui partilhavam a mesma estrada, as pensões… Viviam pacificamente lado a lado”.

O Mineiro

Na aldeia agrícola de Regoufe existe um restaurante, aberto só por marcação, que conserva memórias da exploração de volfrâmio nas proximidades. O Mineiro exibe fotografias de 1944 do bairro mineiro, do clube e da cantina, bem como garfos, tigelas e outros objetos ligados a esse momento da história. “Havia aqui muita gente a trabalhar, a sobreviver à custa da morte de outras pessoas”, lembra Fátima Martins, pastora e responsável pela casa, que serve cabrito e vitela com batatas no forno, arroz de cabidela, gelado caseiro ou leite-creme.

Drave

Em Drave, aldeia de xisto que tem sido reconstruída pelos escuteiros, também se vai a banhos.
Fotografia: DR

Num vale profundo da Serra da Arada, acessível a pé, esconde-se uma aldeia de xisto cuja capela, muito branca, se destaca ao longe. É Drave, apelidada de “aldeia mágica”. Já ninguém mora lá, o que não significa que esteja abandonada. Há espigueiros e habitações em declínio, por não terem quem lhes dê uso, mas muitas casas têm sido reconstruídas por escuteiros, já que esta é a Base Nacional da IV Secção do Corpo Nacional de Escutas. A aldeia, banhada pela Ribeira de Palhais, tem ainda lagoas onde refrescar o corpo, na estação quente.

 

Passeios de jipe com a Just Come

A Just Come faz passeios de jipe, por estrada ou fora dela, e outros roteiros à medida.
Fotografia: Maria João Gala/GI

O Arouca Geopark é a especialidade da Just Come – Countryside & Adventure Tours, que desenvolve programas turísticos neste território, entre eles, passeios de jipe, por estrada e off-road, com paragens em vários pontos das serras da Freita e da Arada.

A jeep tour da Serra da Freita, por exemplo, passa pelas pedras parideiras, pelas pedras boroas do Junqueiro (assim chamadas porque lembram côdeas de broas), pela Frecha da Mizarela e pelos miradouros São Pedro Velho e Detrelo da Malhada; e a jeep tour de Regoufe e Drave permite visitar, além desses dois destinos, Rio de Frades. Tudo com guias intérpretes locais.

O proprietário da Just Come, Pedro Teixeira, tanto conduz o jipe como apresenta pessoas e lugares, dá informações sobre história, fauna e flora, partilha curiosidades e lendas. A empresa também faz visitas guiadas a pé, com direito a piquenique, e roteiros à medida.

As pedras boroas do Junqueiro chamam-se assim por lembrarem côdeas de broa.
Fotografia: Maria João Gala/GI

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

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