“Aqui aprendi a ver”, diz Leni van Lopik, artista plástica estabelecida no Douro

Leni van Lopik junto da obra "Going On"; por trás, o seu "Pássaro de fogo". (Fotografia de Igor Martins/Global Imagens)
Em tempos, a artista plástica Leni van Lopik trocou a vida acelerada nos Países Baixos pela tranquilidade de uma aldeia no Douro, região que a encanta. As obras que tem em exposição na Adega Quanta Terra, em Favaios, são reflexo disso.

De uma antiga destilaria da Casa do Douro, em Favaios, Alijó, nasceu a Adega Quanta Terra. Esse espaço cheio de história, convertido em centro de visitas, cruza os universos do vinho e da arte, tendo sido distinguido, nos prémios Best of Wine Tourism 2023, como um dos 11 melhores projetos de enoturismo, à escala mundial, na categoria de Arte e Cultura. Após ter acolhido obras de Joana Vasconcelos, a Quanta Terra tem patente, até outubro, a exposição Cor no Douro, da autoria de Leni van Lopik – pretexto para uma conversa com a artista plástica neerlandesa que se mudou para Portugal há mais de 20 anos e reflete no seu trabalho a paixão por aquela região vinhateira.

Leni, que se formou em música e chegou a ser diretora-adjunta de um centro de arte, morava numa grande cidade dos Países Baixos – Utrecht – quando resolveu fixar-se numa aldeia no concelho de Armamar, entre vinhas, olivais e rio. “Da minha janela vejo o Douro. O que aprendi aqui foi a ver, só ver a paisagem, só ver o que está no chão. Na Holanda, a minha vida era diferente. Era uma vida com mais stress”, conta. O cenário pelo qual se apaixonara numas férias distantes alterou até a sua forma de criar: “Quando me mudei para aqui, foi a abundância de formas da natureza que me inspirou a mudar de método de trabalho e usar materiais naturais”.

Uma das quatro “Donas”, expostas nas cubas onde se armazenava aguardente.
(Fotografia de Igor Martins/Global Imagens)

Numa visita à Adega Quanta Terra, Leni van Lopik mostra como as suas peças, de cores vibrantes, assentam em materiais orgânicos, muitas vezes recolhidos em caminhadas com o cão. Há bugalhos, videiras e folhas de eucaliptos (atente-se no Pássaro de fogo, a sua “fantasia duma ave de rapina”); mas também velhas cápsulas em estanho de garrafas de vinho. Não faltam referências ao território e às suas gentes. Por exemplo, “As donas”, quatro colares feitos com cápsulas, expostos nas cubas onde se armazenava a aguardente, são uma forma de homenagear as mulheres do Douro – em particular, Dona Antónia.

Obra especialmente marcante é Going on (“em curso”), uma instalação que vem sendo construída há anos, com margem para crescer. “Cada família tem uma caixa de sapatos em casa com pequenas coisas sentimentais, memórias. Estas são as minhas”, diz Leni van Lopik, perante aquele cortejo de peças delicadas e coloridas; tripés de cobre que podem exibir desde joias da mãe, brinquedos e lembranças de viagens até coisas apanhadas do chão, como búzios ou um pequeno ninho. “Uma visitante disse que parecem bailarinas.” Que siga a dança.

A Adega Quanta Terra transformou a antiga casa do caseiro em sala de exposições.
(Fotografia de Igor Martins/Global Imagens)



Cor no Douro

A exposição de Leni van Lopik pode ser vista na Adega Quanta Terra (Rua da Casa do Douro, s/n, Favaios, Alijó). O telefone é o 935 907 557. As portas estão abertas das 10 às 13 e das 14 às 18 horas. Encerram à segunda e terça. Há visitas guiadas à Adega, por marcação, desde 15 euros por pessoa, que incluem prova de vinho e acesso à exposição. Pode-se conhecer mais sobre o trabalho da artista aqui.




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