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Ana Manuel Mestre: “Ter plantas ajuda-nos a saber lidar connosco próprios”

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Em “O Seu Jardim Interior”, recentemente lançado, a arquiteta paisagista, formadora em jardinagem e conhecida, no Instagram, como Almoinha, mostra como instalar e manter plantas dentro de casa pode ser simples, mas requer humildade para aprender e capacidade de deixar de lado algumas ilusões. Cuidar de plantas pode ser uma terapia, uma fonte de calma e uma aprendizagem feliz.

Quando se começa a ler o livro, sente-se que a jardinagem doméstica pode ser simples. Era essa a sua intenção?
Esse é o meu conceito a tratar das minhas plantas. Quando gostamos de plantas, há sempre tendência a comprar cada vez mais e, agora estando na moda, acho que isso acontece muito às pessoas. Acaba por ser um vício e, se não simplificarmos, acabamos por ficar um bocadinho escravos das plantas e passamos horas e horas a tratar delas. Hoje em dia, há tanta informação na Internet que pode ser difícil perceber o que é certo ou errado. Há coisas que não são assim tão precisas fazer, mas que encontramos na Internet como sendo muito importantes. Então, quis deixar essa mensagem às pessoas: pode ser uma coisa simples e não precisamos de passar o fim de semana inteiro a tratar de plantas.

Uma das mensagens deste livro que me chamou a atenção foi a de que podemos falhar a cuidar das plantas – o que ajuda a enfrentar páginas de instagram cheias de lindas fotografias de plantas perfeitas…
Isso quase se cola àquela questão que se passa mesmo connosco, que é o vermos na TV e na Internet as coisas e as pessoas a serem muito bonitas… e nas plantas acaba por acontecer isso também. As plantas são seres vivos, há sempre folhas que vão secar, plantas que apanham pragas e vão acabar por morrer. Para ser um jardineiro de interior é preciso aceitar que as plantas não estão sempre bonitas, que é normal terem manchas nas folhas, que pode ser uma doença ou não, muitas vezes são apenas cicatrizes, como temos na nossa pele. Ter as plantas sempre perfeitas não é a realidade, quem achar isso vai sentir que está sempre a cometer erros, quando muitas vezes não está, é só o processo natural. As plantas não têm que nos trazer essa ansiedade, muito pelo contrário, e é importante o desapego, aceitar que as folhas e as flores morrem.

Como encara esta moda de encher a casa com plantas de interior?
Se as modas têm que surgir, que sejam assim, de coisas que são ótimas para nós. Ter plantas em casa ajuda-nos a saber lidar connosco próprios. Trabalhei durante muito tempo em saúde mental a dar formação de jardinagem e tenho muita noção de quanto o contacto com a Natureza (mesmo com as plantas de interior) nos pode fazer bem, pode ser uma terapia. Por isso, ainda bem que esta moda surgiu e veio muito associada à questão da covid, porque as pessoas precisaram de algo para se entreter e ao qual se dedicar no tempo que passaram em casa. É mesmo uma terapia, foi fantástico e espero que continue muito mais tempo.

O que sugere para quem quer começar a ter plantas em casa?
Em primeiro lugar, não se deve comprar por impulso, aquela compra do “ah, porque está na moda”. Vejo muito isso nas pessoas com quem contacto, nomeadamente através das redes sociais. É que muitas vezes essas plantas que estão na moda são as mais difíceis de cuidar, e é preciso perceber que plantas são mais fáceis para se poder ganhar experiência. E depois perceber também que condições temos em casa, porque determinada espécie que queremos ter pode não se adaptar às condições de temperatura, humidade ou até do tempo que temos para cuidar dela. Se passamos muito tempo fora, se calhar não deve-mos ter uma planta que precisa constantemente de ser regada. Devemos comprar plantas que se adaptam às nossas condições e, no início, que sejam fáceis de cuidar. No livro, tentei sempre indicar, nas espécies referidas, as que são de cuidado mais fácil ou mais difícil, porque é importante ter isso em conta.

Para uma pessoa que não tenha contacto de vida com jardins ou campo, é fácil tornar-se um jardineiro de interior?
Não diria que é fácil, é preciso alguma dedicação, aprender e uma pessoa perceber que é preciso estudar. Se comprar duas, três ou quatro espécies, tenho que conhecer aquelas espécies, mas também não é nenhum bicho-de-sete-cabeças, hoje em dia temos imensa informação na Internet e, nas redes sociais, muitas pessoas com quem contactar e fazer perguntas. É perfeitamente possível com um bocadinho de estudo.

A Ana é uma personalidade do Instagram e a sua página chama-se Almoinha. De onde vem esse nome?
A página de Instagram foi criada numa altura em que fiz um curso de permacultura com uma prima e começámos a utilizá-la para partilhar as nossas experiências com as pessoas. Começámos na quinta do meu avô, em Évora, que se chama Quinta da Almoinha, daí o nome. Entretanto, vim trabalhar para Lisboa e quando começou este “boom” de partilhar coisas sobre Natureza fiquei a gerir a página e nunca mudei o nome porque aquela quinta é o sítio onde eu cresci e aprendi esse contacto com a Natureza. Já não se usa a palavra almoinha em português, mas antigamente usava-se e significa horta de subsistência – uma almoinha é um espaço pequeno onde se tem uma horta para consumo de casa. Achei o nome giro e mantive.

O LIVRO
“O Seu Jardim Interior”, de Ana Manuel Mestre
Oficina do Livro
184 pág.
PVP: 17,70 euros

 

Na web:
instagram.com/_almoinha_