Durante o dia, Manuela “Barriguda” prepara de forma tradicional o trigo, tradicional pão de Favaios que se distingue pelos seus quatro cantos. O aroma da massa acabada de cozer no forno a lenha é irresistível. E não faltam clientes, principalmente pela manhã, a ir buscar o trigo e, mais tarde, o pão com chouriço transmontano.
“O chouriço é bom”, comenta Manuela, que começou a amassar com sete anos, para ajudar a mãe. “Ela não me quis ensinar porque dizia que eu não sabia sovar a massa. Fui aprender com outro padeiro”, conta a padeira, agora com 74 anos. Boa conversadora, é famosa na vila de Favaios e em todo o município de Alijó, e já foi à televisão mostrar como se faz o trigo: “É só água, farinha e fermento de padeiro”.
Na rota dos sabores de Trás-os-Montes, faça-se 20 minutos de carro para ir comer o também afamado arroz de grelos, na povoação de Santa Eugénia. À frente da Taberna a Fonte está Marisa Avidago, que em 2013 enfrentou a crise económica e o desemprego dando um passo arrojado. Um dia, disse ao meu marido: “Não nasci para ser dona de casa, não posso estar aqui sem fazer nada. Vamos abrir um café lá em baixo”. Este “em baixo” é o rés-do-chão da casa que tinha adquirido com Paulo e que estava desaproveitado.
Com recursos escassos, foi à câmara de Alijó para perceber como poderia abrir o café. Mas o arquiteto da câmara, na altura Henrique Gouveia Pinto, sugeriu abrir um restaurante. “Um restaurante em Santa Eugénia? Quem é que vai lá comer? ‘As mesmas pessoas que vão aos outros sítios’, respondeu-me”, conta Marisa. E assim foi. Começou a funcionar com diárias e nunca faltaram clientes. Agora é muito mais do que isso. É conhecido pelo arroz de grelos que acompanha cabrito assado, posta, costeletão, nacos de vitela e bacalhau assado. Às quintas há cozido.
O arquiteto que a incentivou foi quem desenhou e abriu, há três anos, a Bonelli House, alojamento no lugar do Amieiro, em São Mamede de Ribatua, com vistas sobre o vale do Tua. “Quando cheguei há 20 anos fiquei maravilhado. Contaram-me que era para aqui que os habitantes do Amieiro vinham quando andavam na colheita. Isto estava tudo cultivado, principalmente com pão [trigo] e centeio.” Há 20 anos já só existia uma ruína e Henrique pensou em construir um retiro para uso pessoal. Mas a sua mulher Vitória, galega de Valdeorras, convenceu-o a abrir para turistas. “Se corresse mal, ao menos ficávamos com a casa.” Não correu. E agora não faltam turistas para ocupar os seis quartos panorâmicos e para observar os casais de águias-de-Bonelli que habitam o vale.
Longitude : -8.2245
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