60 toneladas de enchidos na Feira do Fumeiro de Montalegre

(Fotografia: Gonçalo Delgado/GI)
Uma centena de produtores vai ter à venda enchidos do Barroso e ainda outros produtos locais como pão, mel e licores. Organização assinala o caráter "genuíno" desta criação do único território português que é Património Agrícola Mundial.

Arranca esta quinta-feira, e vai até domingo, a 29ª Feira do Fumeiro de Montalegre, onde vão estar à venda entre 60 a 65 toneladas de enchidos, e ainda outros produtos locais como pão, bolos, folares, mel, compotas e licores, em cerca de cem bancas de produtores. São quatro dias em que a venda e degustação do fumeiro será pretexto para festa popular, “showcookings”, vários concertos e ainda momentos como o lançamento da Rede de Tabernas do Alto Tâmega. Para muitos apreciadores, mais do que um local de venda, a feira é a celebração do modo de vida e do caráter do Barroso – algo que, assinalam os chefs Nuno Diniz e Marco Gomes, contribui para a qualidade dos enchidos.

Os dois farão uma demonstração de cozinha no último dia da feira, domingo. A mesma dupla – Marco, um transmontano à frente do restaurante Oficina, no Porto; e Nuno Diniz, lisboeta, professor de cozinha e autor do livro “Entre Ventos e Fumos”, um inventário do fumeiro português com a respetiva narrativa de caminho – esteve já ao fogão daquele restaurante, a preparar o copioso cozido barrosão que assinalou a apresentação desta 29ª edição da Feira na cidade do Porto.

Foi uma oportunidade aproveitada pelo presidente da Câmara Municipal de Montalegre, Orlando Alves, para falar com alguma ironia da distância entre o litoral e o interior. “O país está muito conformado com a evidência de que metade ou dois terços dele estão a desaparecer, enquanto vemos outros a ter que dormir debaixo da ponte e outros que têm espaço para ser felizes e criar coisas como esta”, afirmou. O autarca sublinhou ainda serem Montalegre e Boticas as únicas regiões portuguesas classificadas como Património Agrícola Mundial, sem que esse facto tenha tido grande divulgação. “Façam chegar isso ao professor Marcelo [Rebelo de Sousa, presidente da República] para que depois leve uma plêiade de jornalistas atrás dele, que lá os receberemos”, afirmou.

Marco Gomes, natural de Bragança, começou a frequentar a feira há 14 anos para nunca mais deixar de ir – e de a refletir na sua mesa, depois da visita durante a qual recolhe carnes e enchidos, na feira e nas aldeias barrosãs. “É um fim de semana inesquecível e, no fim de semana seguinte ao da Feira, seja em que data for, há sempre um cozido barrosão no meu restaurante“, contou o chef que, além da carne, leva também para o Porto as hortícolas e até 150 litros de água de Montalegre para cozinhar. Este ano, o Oficina já tem lotação esgotada para esse fim de semana de cozido barrosão.

Para o chef Nuno Diniz – que afirmou estar quase a “naturalizar-se barrosão” – é preciso amparar a preservação deste que é “um produto extraordinário”. No cozido servido no Porto, estava patente esse caráter em travessas bem recheadas de enchidos como chouriço de abóbora, salpicão, paio, chouriça, farinhota, sangueira, farinheira de mel, alheira e presunto e ainda várias partes de porco fumado, porco bísaro fresco e vitela barrosã. Para acompanhar, serviram-se vinhos Mont´alegre, do produtor Francisco Gonçalves.

A 29ª Feira do Fumeiro de Montalegre arranca esta quinta-feira às 16h e encerra às 20h de domingo, estando aberta – de quinta a sábado – das 10h às 02h. Ao longo de todo o dia, está aberta e com animação musical, uma praça dos petiscos e as bancas dos produtores que vendem fumeiro produzido “usando os métodos de fabrico artesanais, de acordo com o saber das populações rurais”, segundo disse à Lusa Fernando Pereira, técnico da Associação dos Produtores de Fumeiro da Terra Fria Barrosã.

(Fotografia: Gonçalo Delgado/GI)

À associação cabe fazer o acompanhamento dos produtores e prestar apoio técnico ao produtor, nomeadamente no licenciamento da sua atividade, na formação (segurança alimentar). “Implementamos também um plano de controlo que tem por objetivo dar a garantia ao consumidor de que o produto, além de ser seguro, do ponto de vista alimentar, é também um produto genuíno”, salientou o responsável. Há uma tabela que estipula os preços máximos de venda, definidos pelos produtores, que estipula, por exemplo, o máximo para a alheira em 13 euros/quilo e para a chouriça em 21 euros/quilo.

29ª Feira do Fumeiro de Montalegre
23 a 26 de janeiro
Pavilhão Multiusos de Montalegre
Av. Nuno Álvares Pereira, 413
Quinta, das 16h às 02h; sexta e sábado das 10h às 02h; domingo das 10h às 20h
Web: cm-montalegre.pt




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