Telma Perdigão: a alegria do Natal dos avós

Telma Perdigão, leitora da revista Evasões, conta que uma vez chegou a participar no presépio vivo de Moita dos Ferreiros. (Fotografia de Reinaldo Rodrigues/GI)
Telma Perdigão, 44 anos, guarda vivas as memórias do pinheiro acabado de cortar, da apanha do musgo e do cheiro a lenha queimada dos natais passados, até aos 12 anos, na casa dos avós maternos em Ferreira do Zêzere.

Vinte pessoas eram quantas se juntavam na casa dos avós maternos de Telma, na vila de Areias, em Ferreira do Zêzere. “Quando eles eram vivos passávamos o Natal lá e juntávamos os tios – a minha mãe tem mais seis irmãos -, os primos e acabávamos por ser umas 20 pessoas. A casa era muito pequenina, só tinha quatro divisões, mas conseguimos dormir lá todos juntos”, conta Telma Perdigão no seu restaurante O Passarinho, na vila de Moita dos Ferreiros, concelho da Lourinhã.

“Era muito engraçado, e eu conto isto muitas vezes aos meus filhos [de sete, 17 e 24 anos], porque acho único jantarmos, acordarmos e tomar o pequeno-almoço juntos”, continua. A família punha em prática uma certa logística para se acomodar num espaço tão exíguo. “Os meus avós tinham uma lareira de chão e uma mesa redonda de quatro cadeiras. As crianças ficavam no chão, os homens na mesa e as mulheres nuns poiais [assento baixo em pedra ou madeira], porque não havia espaço”.

José Pedro e Telma Perdigão são donos do restaurante “O Passarinho”, na Moita dos Ferreiros, na Lourinhã. (Fotografia de Reinaldo Rodrigues/GI)

Não só pela distância entre a Lourinhã e Ferreira do Zêzere, mas também pelo espírito de união familiar e natalícia, ir à terra dos avós maternos significava ter umas mini-férias. “Normalmente ficávamos lá nessa semana. Tinha uma tia que ia com os sobrinhos apanhar o pinheiro, porque é uma zona de floresta, e apanhar o musgo para o presépio. A
decoração eram desenhos que recortávamos, era o que havia na altura”, recorda. No jantar da consoada sempre se comeu bacalhau com couves e batata. Nessa noite, as crianças deitavam-se antes das doze badaladas, descansadas com a promessa de que o Pai Natal iria lá a casa deixar os presentes debaixo da árvore. “Ouvíamos o som da água de uma ribeira que corria perto e no dia seguinte acordávamos com o cheiro a café e lenha queimada”, conta a cozinheira com 20 anos de experiência na logística de frutas e legumes no Mercado Abastecedor de Lisboa.

Depois de os avós maternos partirem, o Natal passou a ter lugar numa vivenda de familiares em Moita dos Ferreiros, de mesa farta e convívio entre “umas 35 pessoas”, até dia 26. O espírito passou de tal forma que hoje é a filha mais velha que “gosta de fazer as filhoses e os coscorões”. Este ano, Telma tem consciência de que “o Natal vai ser diferente por causa das distâncias. Tem de ser, enquanto não houver vacina e estabilidade”. Vão juntar-se no Zoom, e nem por isso será uma quadra com menos afetos.

 

“Maria” no presépio vivo com o filho nas palhinhas

Há 17 anos, durante a missa do galo, Telma participou num presépio vivo encenado nas
escadas da igreja de Nossa Senhora da Conceição, na Moita dos Ferreiros. Interpretou o
papel de Maria, ao lado de José, com o filho João Pedro, nascido nesse ano, deitados nas
palhinhas. A citação da cena bíblica incluiu ainda a vaca, a ovelha e o burro, para
aquecerem a noite fria.

DESEJO DE NATAL
“Desejo que haja amor entre as famílias e que, acima de tudo, se respeitem as regras de
segurança para ver se conseguimos voltar à normalidade”.




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