Paul Symington: «O Douro ainda enfrenta muitos desafios»

Paul Symington. (Fotografia: Pedro Correia/GI)
Numa entrevista à Evasões, Paul Symington fez um balanço sobre as quatro décadas ao comando da Symington Family Estates e lembrou que o Douro ainda tem grandes desafios pela frente.

Ao fim de 40 anos ao comando da Symington Family Estates, detentora das casas Graham’s, Dow’s, Cockburn’s e Warre’s, Paul Symington decidiu afastar-se dos negócios e passar mais tempo na sua quinta no Douro. Pelas quatro décadas de trabalho dedicadas à promoção do vinho do porto e da região duriense, foi reconhecido pela revista de Vinhos com o Prémio Homenagem, na 22ª edição dos prémios «Os Melhores do Ano» – cuja cerimónia decorreu no passado dia 1 de fevereiro, na Alfândega do Porto.

Ao fim de 40 anos chegou a altura de mudar?
Há uma tradição na nossa família de, chegando aos 65 anos, nos reformarmos, e eu acho que é um dos principais motivos pela qual a nossa empresa ainda continua. É bom dar oportunidade aos mais jovens para fazer a sua obra e eu quero dedicar mais tempo à minha quinta no Douro, que eu adoro. Têm sido 40 anos de trabalho intensivo e por muitas outras razões, mas principalmente essas, estava na altura de sair.

Qual foi o seu legado?
Acho que consegui levar a imagem dos nossos vinhos bastante mais longe nos mercados internacionais. O meu pai nasceu antes da segunda Guerra Mundial, em 1925, e ele tinha mais o hábito de fazer os vinhos e deixar os outros vender. A nossa geração trouxe a ideia de criar uma imagem mais forte dos nossos vinhos, ir aos mercados, viajar bastante mais. Eu acho que ajudei a fazer isso.

Destaca algum momento destes 40 anos?
Talvez quando o nosso Dow’s Vintage 2011 ganhou o prémio de Melhor Vinho do Mundo pela Wine Spectator em 2014, que é de longe a revista mundial de referência. Esse foi o ponto mais alto para o meu primo Charles, que é o enólogo, e para mim que era o presidente do grupo na altura. Foi um enorme marco para o Douro, para o vinho do porto e para a nossa empresa.

«O Douro ainda enfrenta muitos desafios.»

O que é que o apaixona no Douro?
A paz. Andar no meio da vinha, no silêncio. Tanto no inverno como no verão é lindíssimo. Eu nasci aqui no Porto e adoro esta cidade, mas gosto muito do Douro, de estar lá sozinho e andar de mota pelas vinhas. Portanto agora vou fazer muito mais disso.

Quais são os principais desafios que a região enfrenta?
O Douro ainda enfrenta muitos desafios. É a única grande região do mundo onde 100% das uvas ainda são vindimadas à mão. E isso é impossível daqui em diante. Na região de Bordéus 80% é vindimado com tratores e nós temos de adaptar o Douro para isso, porque simplesmente não há pessoal para vindimar. O grande desafio é adaptar as vinhas naquelas encostas íngremes para mecanizar a vindima, porque senão as uvas vão ficar na vinha.

A Symington foi um dos pioneiros no desenvolvimento dos vinhos Douro DOC. Acha que no futuro os vinhos de mesa e os vinhos do porto vão conseguir coexistir na região?
Sim, há espaço para os dois, mas tem de haver um equilíbrio melhor no sistema regulamentar. Está completamente distorcido. O Douro tem uma regulamentação muito apertada, mas foi criada nos anos 1930, quando havia só um vinho. Hoje há dois e portanto esse sistema está a criar distorções muito perigosas na maneira como os vinhos estão a ser vendidos. Por isso faço um apelo para que isso seja modificado.

Vai continuar envolvido na produção?
Sim. Vou continuar a estar muito ligado à empresa, sem dúvida.

Se tivesse de escolher um vinho do porto…
Seria o Dow’s 1963, que foi feito pelo meu pai quando eu tinha 10 anos e ele sempre me disse: «este vinho pagou a sua educação».

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