Luigi Cabrini: «A sustentabilidade tem de ser mainstream»

Luigi Cabrini, presidente do Conselho Global de Turismo Sustentável Fotografia de Miguel Rezendes
Em dezembro, Luigi Cabrini, presidente do Global Sustainable Tourism Council (GSTC), esteve em São Miguel para participar na conferência Açores 2017 No Rumo do Turismo Sustentável, onde reforçou a ideia de que sustentabilidade é sinónimo de muito mais do que apenas ecologia – começando, desde logo, pela importância de respeitar as populações locais.

Diz que turismo sustentável já não é uma coisa de nicho. Continua a haver confusão entre ecoturismo e sustentabilidade?
Ainda há alguma confusão. É importante projetar a ideia de que turismo sustentável é um turismo de qualidade. Já não é só um turismo que poupa energia e respeita o ambiente, mas que oferece uma boa experiência. A sustentabilidade tem de ser igual para todo o tipo de turismo, declinada de modos diferentes. Falando de destinos de massas, se conseguirmos reduzir o consumo energético dos hotéis em 20%, o impacto global será muito mais alto do que se for um lodge a poupar 20%. O turismo sustentável deve ser transversal. A sustentabilidade tem de ser mainstream.

Na sua palestra, referiu a importância de ter também as grandes empresas a bordo. É quase contraintuitivo, normalmente associamos mais a sustentabilidade a negócios familiares. É fácil trazer os grandes para a sustentabilidade?
Acho que há espaço para ambos. E, sem dúvida, incluindo os pequenos negócios, as empresas familiares. Mas não podemos contornar a realidade de que os grandes operadores turísticos, como a Tui, que move milhões de turistas todos os dias – é membro do GSTC, estão a trabalhar para incluir a sustentabilidade -, eles são parte da cadeia turística. Temos de trabalhar com eles. Não podemos vê-los como o inimigo. Eles são, basicamente, um aliado nosso. Eles próprios têm interesse em ter um bom produto, um destino que mantém os seus recursos, etc. Não estou a fazer campanha pelos grandes contra os pequenos. Acho que ambos têm o seu lugar, mas é bom que ponhamos os grandes à mesa, em vez de hostilizá-los.

Os Açores apresentaram recentemente a candidatura à certificação como Destino Turístico Sustentável, junto do GSTC. Que impacto pode ter esta certificação um destino?
O GSTC não certifica diretamente. Fazemos uma avaliação do destino, fazemos um relatório, e a partir daí funcionamos através dos nossos organismos certificadores, como a EarthCheck. A certificação, num primeiro momento, ajuda todo o setor a melhorar a sua pegada, ao nível de hotelaria, do destino, envolvendo a comunidade local, etc. E depois projeta a imagem de que este destino é seriamente sustentável, não é só alguém que diz «Eu sou sustentável». A certificação por um parceiro da GSTC terá um valor reforçado no mercado, porque diz aos turistas que se interessam que os Açores cumprem todos os requisitos.

Um dos impactos negativos do turismo é a fricção com as comunidades locais e o nascimento do sentimento antiturístico. Qual é a melhor forma de lidar com isto: mudar a opinião das populações ou mudar algo na forma como o turismo funciona?
Ambos. Eu não diria mudar a atitude da comunidade, mas certificarmo-nos de que eles são parte do processo de decisão. Se eles forem incluídos, sentirão que também são parte do projeto. Por outro lado, às vezes é preciso, simplesmente, tomar decisões. A Sagrada Família, em Barcelona, recebe multidões tão grandes que nem se consegue andar. É preciso tomar uma decisão sobre isso. E há também a educação dos turistas. Por vezes, o seu comportamento não é o mais correto.

E essa educação deve ser implementada pelas autoridades locais?
Para mim deve ser parte da educação desde as fases iniciais. Sinto que as gerações jovens são mais sensíveis do que as mais velhas. Mas não seria mau acrescentar, a partir da escola primária, alguns princípios básicos que se aplicam ao turismo mas também à vida quotidiana. Não é mais do que senso comum: quem deita uma garrafa para o chão no seu quintal, também o fará no papel de turista. Se aprenderes o básico, comportar-te-ás corretamente enquanto turista. É uma questão de educação, no sentido lato.

 

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