Francesinha pode ser Património Imaterial da Humanidade

Nota da Redação: Lamentamos, caro leitor, mas este artigo foi uma partida de 1 de Abril, Dia das Mentiras. Ainda assim, é uma homenagem a este prato do Porto, tão apreciado por portugueses e estrangeiros.

«É um património da cidade, mas é acima de tudo um património do povo», disse Alfredo Sousa Pinto, historiador, gastrófilo e impulsionador de uma petição que num par de meses recolheu mais de 5 mil assinaturas. «A candidatura da francesinha do Porto a Património Imaterial da Humanidade já é uma realidade», revelou o presidente da Associação Francesinha no Coração, ontem, à porta do restaurante A Regaleira – um local simbólico, unanimemente apontado como o sítio onde a receita foi criada, há mais de meio século.

São vários os argumentos apresentados pela associação para justificar a inclusão do prato na lista da UNESCO. «Trata-se, antes de mais, de um prato democrático, uma simples sandes que tanto sacia o plebeu como o aristocrata, e esse é um dos principais motivos para se ter tornado tão omnipresente», continua Alfredo Sousa Pinto, acrescentando que a própria história da sua invenção «ajuda a criar uma envolvência sociocultural de extrema relevância». Importa recapitular: a francesinha foi criada por David Daniel Silva, em 1952, em jeito de adaptação do croque-monsieur ao gosto e aos ingredientes portugueses, n’A Regaleira. «Tratava-se de um emigrante regressado, acaba por ser uma espécie de comida de torna-viagem, um dos mais elementares veículos de propagação e apropriação gastronómica», acrescenta o historiador.

«E há ainda a questão das matérias-primas: falamos de enchidos produzidos ainda de forma artesanal, quase todos do mesmo talho [a Salsicharia Leandro, no Bolhão], e de um pão que se confunde com a identidade culinária da cidade, o bijou, entretanto substituído pelo pão de forma». É notório algum desagrado a este propósito na expressão de Alfredo. «Mas este projeto também serve para reforçar o regresso aos elementos tradicionais, para que a tradição continue a ser tradição» – Note-se também a piscadela de olho às francesinhas «criativas» (aspas do próprio, desenhadas no ar, com os dedos), que, para já, não serão englobadas no processo de candidatura.

A data para conclusão da candidatura está ainda em aberto, dadas as exigências processuais envolvidas. Segue-se uma fase de estudos «com vista ao enquadramento da francesinha enquanto elemento a promover e valorizar nas vertentes cultural, turística e gastronómica», bem como «um levantamento exaustivo das variações que a receita encontra em casas de referência não só do Grande Porto, como de cidades como Aveiro, Coimbra ou Lisboa». Pelo caminho, antevê-se um problema: a UNESCO exige uma listagem minuciosa do processo produtivo, e não será tarefa fácil convencer cada restaurante a revelar o seu molho secreto. Mas Alfredo não perde o espírito positivo: «Será um motivo de orgulho para todos os portuenses e não acredito que alguém queira ficar de fora. Quando vier, o Património da Humanidade será de todos – tal como a francesinha.»

 

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