Tranquilidade e uma paisagem de vales e colinas. Umas ruínas no meio da serra de Sicó, o sítio ideal para recuperar da agitação de Lisboa. Assim pensou Manuel Casal, que aplicou a sua formação em História e Arqueologia – à qual se juntaram os conhecimentos de arquitetura e artes plásticas de Vítor Mineiro, seu sócio – para fazer nascer, uma por uma, treze casas da Villa Pedra, um turismo ecológico que significa, na prática, a reconstrução da Aldeia de Cima, cujo último habitante morreu há oitenta anos.
Era um homem abastado, que viveu naquela que se tornou a Casa do Loureiro. Manuel Casal conheceu o sítio através da irmã deste, uma médica «casada com um japonês todo zen», faz questão de sublinhar, para melhor se visualizar a serenidade e a tranquilidade que abraçam aquelas montanhas e pedrarias.
A Villa Pedra fica no concelho de Soure, a meio caminho entre Porto e Lisboa, e é uma das zonas de calcário mais importantes do país – o maciço de Condeixa-Sicó-Alvaiázere-Tomar, que abrange os distritos de Coimbra, Leiria e Santarém. E foi via de passagem no caminho romano que ligava Emerita Augusta (Mérida) a Bracara Augusta (Braga), a menos de 20 quilómetros de Conímbriga e a seis de Santiago da Guarda, junto à vila romana do Rabaçal. Daí o nome, Villa Pedra.
«Apaixonei-me pela zona. No fundo, queria uma casa, um T0 ou um T1, para passar os fins de semana, alguns dias. O meu sócio é que disse: “Porque não compras as ruínas do lado, não vá alguém construir aqui uma casa que nada tem que ver com o local?”», lembra Manuel Casal.
Aceite o conselho, as duas casas foram recuperadas segundo a arquitetura tradicional, com recurso aos materiais da região.
Por exemplo, com telhas iguais às originais (descobertas numa fábrica que as produziu para obras de Siza Vieira) e com técnicas de construção antigas, nomeadamente o uso, nas paredes, de pedra calcária coberta de uma massa feita com areia do rio, azeite e gordura animal que funcionam como isolante, um pouco de cal hidráulica, e que lhe dá o tom ocre, sem químicos ou pintura.
«É um estuque natural, poroso e que deixa a humidade sair, o que faz que estas casas sejam quentes no inverno e frias no verão», explica Manuel. A reconstrução foi feita por mestres e artesãos locais, com a participação de um arquiteto e artista plástico e um historiador, com especialização em Arqueologia, mais tarde também de Turismo, como é a de Manuel Casal. Há um terceiro sócio, Eckhard Franck, coproprietário da empresa Stivali.
Vítor Mineiro é o diretor residente, o responsável pela decoração eclética, uma mistura de antiguidades portuguesas, móveis e objetos comprados localmente, a antiquários e lojas solidárias, com peças e tapetes árabes, um gosto particular alimentado pelas viagens e que não destoa: afinal os mouros também ali viveram. Há outras influência: a sala de jantar abre-se para um terraço em estilo oriental.
Faltam ainda seis ou sete casas para concluir o projeto destas natural houses, que se estende por três hectares de floresta mediterrânica. São habitações, na maioria T0, isoladas umas das outras, com sala, cozinha, horta e jardim privativos e zona de estar e piscina comuns, voltadas para a natureza e que têm nomes de flores ou frutos, dependendo da árvore ou planta que está no quintal.
Terminam num parque com uma capoeira onde os cisnes pretos e patos de Java convivem com galinhas galegas e papagaios australianos. O conjunto ostenta o galardão The Best Self Catering Retreat, atribuído pelo portal I Escape, e o tinto reserva que produzem recebe medalhas desde 2012.
Acrescenta-se a esta unidade turística um pormenor valioso: não é preciso «madrugar» para tomar o pequeno-almoço. Os alimentos são deixados na cozinha, entre eles o tradicional queijo Rabaçal, e o pão é colocado à porta às 08h30. E a quem quiser preparar as refeições, arranjam-se umas couves, alfaces ou favas, ervas aromáticas, conforme a época do ano, além dos alimentos que os habitantes cultivam e produzem.
Com doze casas dedicadas ao turismo, o grupo tem sete funcionários, entre eles Marta Gomes, 31 anos, uma assistente social de Lisboa que se revelou excelente cozinheira. «Era para trabalhar na minha área em Fátima. Esse emprego não aconteceu e acabei por vir à entrevista. Como falo línguas, pensei: “porque não?”» Calhou dizer que gostava de cozinhar e logo a meteram a confecionar pratos, com produtos locais e que têm granjeado admiradores. Sim, porque não?
Sugestões Evasões
Ficar
Villa Pedra Natural Houses
Rua do Rechio e Seladas, Cotas, Pombalinho
Tel.: 910731194
Web: villapedra.com
Casa T0 a partir de 125 euros por noite (inclui pequeno-almoço)
Comprar
Villa Pedra tem produção própria de mel, compotas e azeite aromatizado, seja com louro e alho, alecrim, malagueta e alho, orégãos. Algumas das ervas que dão gosto à aguardente caseira, a que se junta a de Santa Maria (de tomilho), também responsável pelo êxito do queijo Rabaçal. E, claro, o vinho: tinto, branco, espumante e rosé. O tinto reserva acumula distinções em Portugal e na Bélgica desde 2012.
Comer
Manjar do Marquês
Fica na EN1 em direção a Coimbra este restaurante que serve pastéis de bacalhau, filetes, panados, rissóis, pataniscas e carapaus ou petinga de escabeche. E, claro, o arroz de tomate, que se vê passar num tacho de barro a toda a hora.
EN1/IC2 (Pombal)
Tel.: 236200960
Das 09h00 às 23h30; fim de semana, a partir das 08h00. Encerra à quarta.
Preço médio: 25 euros
Pastelaria Filinata
Largo do Candal, 13, Pombal
Tel.: 236211559
Das 08h00 às 23h30; domingo, das 10h00 às 23h00. Não encerra