Dormir e passear entre os velhos moinhos das aldeias de Nelas

Há quem vá à espera de encontrar moinhos de água, mas os poucos que restam nesta aldeia do distrito de Viseu já não se encontram em funcionamento. Ficou a memória, e toda uma série de coisas por fazer à volta, que o turismo rural Moinhos de Pisão procura honrar e resgatar.

Naturais de Moreira de Cima, aldeia vizinha do Pisão, Fernando Carrilha e Edite Rodrigues compraram a primeira casa há cerca de cinco anos. Hoje, já são oito e não devem parar por aqui, por mais que os invernos sejam aqui duros e que a população local esteja a diminuir de dia para dia.

No Moinhos de Pisão, há casas de um e de dois quartos, com uma decoração que vai do rústico ao contemporâneo sem esquecer a inspiração mourisca (a nossa eleita é a Carvalho, mas todas são batizadas com nomes de árvores, flores e arbustos). As unidades seguem a lógica de turismo rural, com direito a cesta de pequeno-almoço distribuída logo pela manhã. Comum a todos os hóspedes, um autêntico jardim das delícias, no coração da povoação, onde há espaço para uma choupana de massagens, um lago, uma piscina, matraquilhos e até um churrasco. O passo seguinte deve ser a abertura de um restaurante, numa casa em ruínas já adquirida num terreno contíguo, onde contam vir a ter uma cozinha inspirada na alimentação dos antigos moleiros – perderam-se quase por completo os moinhos de água que deram o nome à aldeia, mas não a memória de pratos como as migas de bacalhau ou as sopas engrossadas com farinha.

Até lá, temos de nos contentar com a primeira refeição do dia, incluída na diária, onde fazem questão de ter sempre requeijão e queijo da Serra da Estrela produzidos na Quinta da Lapa, em Vilar Seco, uma outra aldeia do concelho de Nelas. Premiada por mais de uma vez, esta queijaria funciona, para os hóspedes que assim o desejarem, como um programa à parte bastante curioso – sobretudo quando se está acompanhado por crianças. Fernando e Edite são os primeiros a sugerir uma visita à quinta não só para mostrar como se faz o requeijão e o queijo, mas também para participar na ordenha das ovelhas de raça bordaleira – a título de curiosidade, esta raça autóctone, também conhecida por Serra da Estrela, está na origem do único leite permitido na feitura do legítimo queijo certificado da região. A média de leite retirado a cada animal por ordenha (têm de ser feitas duas por dia) ronda os 800 mililitros. Para se produzir um queijo de um quilo são precisos cinco litros de leite. Mais do que apenas saborear um produto ímpar, trata-se, neste caso, de aprender mais sobre ele – e a dar-lhe o devido valor.

As atividades e passeios à volta não se esgotam, como é óbvio, nesta proposta. Nos últimos tempos, a unidade de Moinhos de Pisão procura associar-se a provas como a Rota das Adegas do Dão em BTT ou a corrida cronometrada em veículos clássicos em parceria com o Automóvel Club de Portugal, que atraem hóspedes específicos, mas os anfitriões chamam a atenção para uma série de trilhas que podem ser feitas tendo por partida a sua aldeia. Póvoa Dão, na freguesia de Silgueiros, é um dos exemplos, pois em alternativa ao carro, é possível ir a pé ou de bicicleta, até esta aldeia medieval recuperada, passando por atrações como cruzeiros, alminhas, campas antropomórficas ou lagaretas, que vão surgindo ao longo das trilhas. Póvoa Dão tem ainda uma frente ribeirinha agradável com pequenas cascatas, mas se a ideia é usufruir dos cursos de água, vale referir que a existência do rio Dão, com margens estreitas em muitos dos casos, foi favorável ao aparecimento de praias fluviais. Não se vá à espera de milagres, fica o aviso, mas vale a pena investir algum tempo livre a explorar a estância termal de Sangemil, no concelho de Tondela mas muito perto de Pisões, instalada numa curva bucólica do rio, ladeada de salgueiros-chorão e com uma praia fluvial. Os balneários termais datam de 1994 (renovados em 1999) e desenvolveram-se graças às águas das nascentes, captadas a uma temperatura de 49 graus centígrados e a uma profundidade de cerca de 100 metros. Funcionam de 1 de abril a 30 de novembro e estão indicadas quer para o tratamento de patologias quer para programas de bem-estar.

Como caminhadas e banhos costumam abrir o apetite, nada como estarmos cientes de que nesta zona de Portugal se come muito bem, com especial destaque para o cabrito grelhado ou assado no forno. Talvez por isso, e embora haja mais por onde escolher, não estranhamos que um dos restaurantes recomendados pelo turismo rural seja o Martelo, em Falorca de Silgueiros. Antigo curral de gado que se transformou em adega produtora de vinho do Dão, de rótulo Curral das Burras, o Martelo, inaugurado em 1970, mudou recentemente de gerência, mas o antigo dono, que tanta fama trouxe à casa, faz questão de se manter por perto. A decoração rústica, marcada pelos bilhetes em papel deixados por diferentes levas de comensais, manteve-se; tal como o mais importante: continua a ser um regalo vir de perto ou longe só para comer o que sai da sua grelha, seja o cabrito, a costela de vitela ou o bacalhau. Antes, porque ninguém é de ferro, não se negue aos prazeres dos enchidos e queijos. No final, deixa-se espaço para a travessa de frutas que fazem gala em trazer – ignorando os protestos pouco convincentes de quem está à mesa – no maior dos caprichos.

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo. Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

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