Dormir no Alentejo a um metro de uma fábrica de chocolate

Uma história ao jeito de Hansel e Gretel, mas sem bruxas e com uma casinha que na verdade é um casarão. A ação passa-se em Montemor-o-Novo, no interior do Palacete da Real Companhia do Cacau que tem uma minifábrica de chocolate.

Um viagem com partida de Lisboa e chegada a Pequim. Foi o que bastou para Moisés Gama e Sandra Gouveia passarem da cabeça para o papel o sonho de abrir uma pequena fábrica de chocolate de alta qualidade. «Quando conheci a Sandra, o que eu sabia de marcas de automóveis, ela conhecia em chocolates», conta o gestor sobre a economista. A ideia surgira há uns anos noutra aventura do casal pela Nova Zelândia, ao entrarem numa loja que tinha ao lado a sua pequena indústria.

O palacete chegou depois e de repente. Queriam uma casa com vista para o Tejo e, em vez disso, deixaram-se encantar por um edifício do século XIX, no Alto Alentejo, voltado para o castelo de Montemor-o-Novo. Compraram-no num impulso deliberado, na véspera da tal viagem para o continente asiático. Ainda sem pretensões de o converter ao turismo de habitação, mas a imagem foi ganhando forma numas quantas horas de voo – à qual se juntou a da fábrica de chocolate.

A recuperação rigorosa foi mais longa. Levou três anos para que os antigos salões feminino e masculino, de tetos trabalhados, voltassem às suas antigas cores garridas, e ganhassem outra vida com os móveis de família que Sandra trouxe do Funchal, sua terra natal. De lá, vieram também os quadros de tapeçaria da antiga fábrica do seu pai, que vão preenchendo paredes do palacete. Chegam até ao piso inferior, onde está a mesa de bilhar e a sala mais reconfortante: a da lareira.

É junto do fogo que, ao lanche, se assam bolotas e servem scones com compotas caseiras, uma verdadeira cortesia do Palacete da Real Companhia do Cacau para os hóspedes. Por oposição ao verão, em que os refrescos chegam até à beira da piscina, o chocolate quente é bebido ao som do crepitar da lenha.

A escolha da matéria prima de alta qualidade exigiu investigação, um curso de chocolatier feito por Moisés e a ajuda de um mestre chocolateiro para definir uma formulação, agora executada pela jovem Sara Soares. O resultado são 16 diferentes bombons Royal Cocoa, sem pastas, mas com recheios orgânicos e de origem controlada. Como o de maracujá da Madeira em homenagem à família de Sandra ou o de tangerina da árvore do jardim. São produzidos no antigo picadeiro, transformado em fábrica, e têm como principal destino o mercado internacional.

No entanto, podem comprar-se caixas no palacete e provar os bombons, que são também deixados junto à mesa-de-cabeceira de cada uma das oito suítes. Seis delas, em tons de chocolate e com banheiras XL, nasceram do antigo armazém de cereais. Conservam os tetos altos e, uma, até a velha manjedoura, a fazer o lugar de uma prateleira.

O quarto 8 leva assinatura de Nini Andrade Silva, que reaproveitou antigas vigas de madeira e deu-lhes um ar vistoso, por detrás da banheira colada à cama. As restantes duas suítes ficam no interior do palacete e conservam uma imagem mais clássica. Mas seja qual for o quarto, sente-se a máxima de Moisés e Sandra: «Recebemos como gostávamos de ser recebidos».

A atenção e o cuidado não ficam pelo lanche à lareira ou os bombons à cabeceira. O material dos lençóis foi escolhido a dedo, as camas extra são também em tamanho king size. E o jantar é servido num majestoso salão em tons castanho, em mesa comprida. É necessário marcação, há três menus diferentes (27,50 euros para hóspedes), e as receitas são adaptadas de um antigo livro da família de Sandra.

O pequeno-almoço, no dia seguinte, é também de luxo, já que não tem hora para terminar. Diz o casal que o recorde foi às 16h30, mas que ninguém sai pelas portas do palacete sem provar os bolos caseiros, os queijos da região ou o pão de bolota. E, claro, sem uns bombons para recordar a estada.

 

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