Nesta ilha dorme-se num moinho com o mar à vista

Na ilha dos moinhos, dificilmente se achará experiência mais genuína do que ficar numa destas construções. Como é o caso do Moinho de Pedra, em Vila da Praia.

O desenho é curioso: corpo cilíndrico, pás retangulares de madeira, cúpula vermelha em forma de cebola. A sua origem permanece motivo de discussão, com a teoria mais corrente a apontar para colonos flamengos ou holandeses. Mas, dê por onde der, o moinho de vento é um dos símbolos da Graciosa – note-se, «um dos»; porque há mais, mesmo tratando-se de uma ilha minúscula.

Das duas dezenas de moinhos que persistem, já nenhum trabalha, preenchem agora outras funções – casa de habitação, alojamento local ou mera ruína, memória erodida dos tempos em que a ilha era chamada de Celeiro dos Açores. Era nesse estado que se encontrava o moinho que João Luís comprou em 2012. Apenas as paredes, cobertas de barro. A primeira coisa que fez foi picá-las, pondo a descoberto a pedra trabalhada que estava por debaixo, ainda que as autoridades tenham tentado forçado a rebocá-lo e pintá-lo de branco, como todos os outros. Porém, se este era especial, para que pô-lo igual a todos?

A cúpula, essa já não existia. Teve de ser feita de novo, à mão, método artesanal, um complexo entrelaçado de acácia e criptoméria – que serve hoje de «vista» para quem está no quarto principal de um dos quatro apartamentos do Moinho de Pedra.

Além desta suíte principal, com dois quartos e três pisos, que ocupa o corpo do moinho, há outras três (T1), construídas sob a eira. Espaçosas, cheias de pormenores rústicos, como balcões de kitchenette em pranchas irregulares de vinhático, cadeirões esculpidos a motosserra de troncos imensos, alfaias agrícolas a servir de mesas de apoio e elementos de decoração.

Pela fresta das janelas, e do outro lado da rua, espreita a baía de Vila da Praia, segunda maior povoação da ilha e principal estância balnear. A esse respeito, a ausência de pequeno-almoço até pode ser uma coisa boa: dá o pretexto para uma caminhada matinal pelo dorso do paredão que aparta a vila do mar, em busca de alimento, sim, mas também de açúcar para os olhos, caso se apanhe a frente de mar iluminada pela luz rasante do nascer do Sol. À Graciosa basta-lhe ter estas pequenas coisas que lhe fazem do nome adjetivo. Uma graça.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

Leia também:

Faial: um pé na tradição, outro na modernidade
Visita ao berço dos saborosos ananases dos Açores
Crítica de restaurantes: Uma graciosa surpresa nos Açores




Outros Artigos





Outros Conteúdos GMG





Send this to friend