Ílhavo: a terra do bacalhau e do farol mais alto do país

Não é um concelho grande, mas tem várias particularidades. Um aquário de bacalhaus no museu municipal mais visitado do país, o farol mais alto de Portugal, a mais famosa fábrica de porcelana, um roteiro cultural que mostra casas e palheiros. Mas também barcos na ria e um passadiço junto ao mar.

Uma vez por semana, João Pedro mergulha no aquário para limpar os vidros, aspirar o fundo, e aproveita a ocasião para alimentar os 30 bacalhaus que ali vivem. Chegaram em 2013 e continuam a ser uma das maiores atrações do Museu Marítimo de Ílhavo, o museu municipal mais visitado do país em 2016 e que este ano celebra 80 anos. Ílhavo é terra de bacalhoeiros e João Pedro, guia do museu, conhece bem os peixes de que cuida. «São gulosos, mas não podem comer muito.»

Comem vários tipos de peixe dia sim, dia não, podem viver 25 anos, chegar aos 90 quilos e medir dois metros, e reagem a estímulos muito rapidamente. «São animais de sangue frio», refere. Neste aquário, os bacalhaus são vistos de diferentes perspetivas, de cima, à superfície, em 3,5 metros de profundidade. «E as crianças ainda acham que o bacalhau é espalmado», brinca. Neste museu contam-se histórias da faina do bacalhau em fotos antigas, na recriação de objetos náuticos. Há também embarcações típicas, algas e milhares de conchas e búzios.

Os tempos da pesca na Terra Nova acabaram, mas ainda hoje as 13 embarcações portuguesas que pescam bacalhau estão em Ílhavo. Quando chega a altura, fazem-se ao mar, em direção à Noruega e à Islândia. O que ainda perdura dessa época de fome é que nada do bacalhau é deitado fora. Tudo se aproveita, tudo se come. Por estas bandas, não há ementa em que não haja bacalhau de várias formas e feitios.

O restaurante Traineira não desperdiça nada. Línguas, bochechas, caras e samos são servidos em feijoada. A oferta abunda: línguas ou caras fritas com açorda, feijoada de búzios, açorda de gambas, e opção de carne como rosbife com pimentos e natas. «É uma casa típica, uma casa familiar, temos peixe fresco e é tudo feito na hora», diz o proprietário, Paulo Costa.

A cozinha de Ílhavo sabe sobretudo a mar. Na Costa Nova, está o Bronze, restaurante e lounge bar que se adapta a qualquer estilo, ao de calções e chinelo no pé, ao cliente mais formal que quer petiscar ou beber um copo a dois passos do mar. «Temos petiscos do mar com alguma opção de carne», explica o chef Leandro Mota. «Prazeres para partilhar é o conceito», acrescenta Daniel Ferreira, o gerente.

O ceviche de peixe chega à mesa e deixa felizes as papilas gustativas. Corvina cortada aos bocadinhos, coentros, cebola roxa às rodelas, algum picante, azeite, puré de batata-doce e chips de mandioca. É o mar na boca. Há outras opções em pratos elaborados. Sopa de peixe e bivalves, migas do mar, camarões em tempura, arroz cremoso de gambas com algas e gengibre, e um bolo de chocolate caseiro que se derrete na boca. O espaço reabriu em junho do ano passado num retângulo de madeira envidraçado e a carta muda de meio em meio ano. E é tudo feito na hora.

Em terra de peixe, Susana Silva quis fazer diferente e há quase nove meses abriu o Chischa Bistrot na praia da Barra. Carne de qualidade, empratamento cuidado, ambiente descontraído. «Era uma ideia tentadora e inovadora. Não queria que fosse muito grande, queria que fosse bom», revela. Bife com castanhas, naco de novilho, bochecha de porco preto, costeleta maturada, algum peixe, cinco risotos, pão-de-ló cremoso e duo de mousse de chocolate. A carta não é muito extensa e muda com regularidade.

E, já se sabe, praia ao pé puxa ao gelado. Rodrigo Oliveira e Marlene Neves acabam de abrir Gelato Davvero na praia da Barra. É um pequeno espaço com gelados artesanais de frutas e não só. Ali quase ao lado, está a casa de chá Doce Infusão com mais de 45 tipos de chá, biscoitos, crepes, tostas, sanduíches e saladas. Cadeiras brancas, papel de parede, numa típica casa de chá com música ambiente. A louça, essa não podia ser senão Vista Alegre.

Ílhavo também é património industrial, cultural, social.

A Vista Alegre é um símbolo inabalável que mantém intacta a sua história e que a conta num museu que é também uma fábrica que nasceu da vontade visionária de José Ferreira Pinto Basto, abastado comerciante que tinha uma frota de navios e negócios de tabaco e sabão. O branco e o amarelo-torrado dos edifícios da Vista Alegre tornam este lugar encantador. Uma fábrica, um museu, uma capela que é monumento nacional, três lojas, o bairro dos operários, um teatro recuperado. «Esta fábrica é um universo infindável», diz Filipa Quatorze, coordenadora do Museu da Vista Alegre. É mesmo. Dois imponentes fornos a carvão e lenha à entrada e salas e salas com histórias e peças únicas.

Mar ao fundo, rotunda, Costa Nova para a esquerda, Barra para a direita. O Farol de Aveiro está na Barra. É o mais alto do país, 62 metros de altura, 66 de altitude, alcance de 23 milhas. Até ao alto, de onde se tem uma vista de 360 graus sobre o mar e a ria, são 271 degraus em forma de caracol. Vale bem a pena. Lá em cima, o aparelho ótico dourado parece uma rara peça de joalharia. Quartas à tarde, o farol está aberto a visitas gratuitas. Os faroleiros Nogueira da Silva e João Castanheiro explicam tudo o que há para saber. «Fomos marinheiros, somos faroleiros, somos guias, contamos as nossas histórias com uma componente cultural que adaptamos», diz Nogueira da Silva.

As 23 milhas de alcance do farol inspiraram o nome de um projeto de transformação cultural do concelho focado em quatro espaços. A Casa da Cultura no centro da cidade, um cubo gigante envidraçado com sala de espetáculos. O Cais Criativo na Costa Nova, junto ao mar, feito de madeira, que visto de cima parece um barco e tem um bar prestes a abrir e um terraço que será palco de momentos musicais ao pôr-do-sol. O Laboratório das Artes com o antigo teatro de madeira da Vista Alegre recuperado, salas para conversas com artistas e uma programação mais erudita. E a Fábrica de Ideias na Gafanha da Nazaré que acolhe residências artísticas, um bar-concerto, auditório com 377 lugares.

23 Milhas é o nome deste projeto que arrancou no início do ano. Nos últimos sábados de cada mês, durante as manhãs, há ainda um roteiro ora pelos edifícios culturais, ora pelos típicos palheiros, ora pelas características casas da EN109, ora pela Vista Alegre. «A cultura é também a lógica do dia-a-dia. A cultura não é um punhado de espetáculos», comenta Luís Ferreira, diretor do 23 Milhas. A cultura surge aqui como um polo agregador e um gancho para conhecer o território. Em Ílhavo, diz com gosto, «as catedrais são os centros culturais».

Ílhavo cheira e sabe a mar. A Vista Alegre e a pesca do bacalhau são dois símbolos nacionais com berço neste pedaço de terra que se orgulha das suas origens e faz questão de as mostrar em diferentes formatos. Na cultura, na comida, no turismo, na indústria, nas praias.

Palácio-hotel em que se tropeça na luz
Cada peça conta uma história. Os desenhos dos pratos nas paredes são exclusivos e foram pintados à mão. No palácio, há 10 quartos que parecem casas e um ambiente de solar antigo. No novo edifício, mais 72 quartos em três pisos. O primeiro dedicado às formas e moldes das peças Vista Alegre, o segundo ao branco das porcelanas, o terceiro à decoração. Uma instalação artística com peças de porcelana e litografias antigas decora a receção.

«É um showroom vivo do ADN da Vista Alegre», resume António Machado, diretor de Relações Públicas do Montebelo Vista Alegre, hotel de cinco estrelas que abriu em maio do ano passado, recuperando o palácio onde viveu o fundador da empresa com um edifício moderno com vista para a ria e para uma piscina exterior aquecida. «A luz é uma das caraterísticas deste espaço». E não só. Há detalhes deliciosos. Os pratos do restaurante são inspirados nas rosáceas do teto do palácio, por exemplo.

A verdadeira tripa do Zé
Há 40 anos que, bem perto da Costa Nova, nasceu a verdadeira tripa, a bolacha americana mal cozida que se recheia com o que se quiser, doce ou salgado, dobra-se e polvilha-se com canela a gosto. O Zé da Tripa tornou-se uma imagem de marca. A receita está espalhada pelo país, com imitações à mistura, e o negócio já está também nas mãos dos filhos Joana e Miguel Oliveira. «É uma base semi-cozida e pode-se pôr qualquer coisa», refere o próprio Zé da Tripa. «A massa original não leva leite», revela a filha Joana. Têm vários pontos de venda no país, entre os quais um quiosque na Costa Nova virado para a ria.

 

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