Uma antiga pousada transformada em hotel rural

A antiga pousada de traço modernista onde ficavam os técnicos da central hidroelétrica tornou-se um hotel rural de traços singulares e ambiente familiar.

No início, esta era uma das quatro pousadas construída pela HICA – Hidroeléctrica do Cávado para criar alojamento aos técnicos das barragens do rios Cávado e Rabagão. Em redor delas, fizeram-se autênticos bairros, com casas e posto médico. O arquiteto Januário Godinho projetou as quatro pousadas que acabariam por se tornar emblemas da arquitetura modernista portuguesa, pela sua singularidade – elas conjugavam uma finalidade industrial com uma subtil inserção na paisagem.

A primeira a ficar pronta foi a de Venda Nova, por cujos traços o engenheiro florestal João Pinheiro se encantou. Com raízes familiares em Coimbra e Braga, nasceu em Angola e passou por Lisboa, Porto e pela Dinamarca até regressar à cidade dos Arcebispos, onde vivera dos 5 aos 18 anos. Procurava um edifício em meio rural que pudesse transformar em hotel quando encontrou a pousada em estado de ruína. Encerrada desde 1996, aquela varanda circular sobre o rio Rabagão, muito perto da ponte da Misarela (cuja lenda descreve o confronto entre o diabo e um padre destemido) ganhou nova vida com um investimento familiar. E tornou-se um ponto de partida para explorar um lado mais desconhecido do Parque Nacional de Peneda-Gerês.

O restaurante Ponte do Diabo serve o hotel e serve também uma zona florestal onde é escassa a oferta de lugares de boa comida.

Foram oito meses de luta contra os quase 20 anos em que a pousada de Venda Nova esteve fechada. «Estava em muito mau estado, não havia telhado na zona do bar nem no restaurante, não havia janelas nem portas, estava entaipado», contou João Pinheiro. O arquiteto bracarense Teotónio Santos, responsável pelo projeto de reabilitação, cumpriu a vontade de João em preservar todos os elementos que pudessem ser salvos. Foi preciso fazer reforço de estruturas, mas a pedra da parede é a original, assim como as capas de madeira e o ferro forjado da escadaria. E ainda boa parte da tijoleira do chão.

No final, nesta entrada do Gerês na fronteira com o Barroso, nascera o Hotel Rural Misarela. Em redor, foi arranjado o bosque com árvores de fruto (das quais se fazem compotas), carvalhos, sobreiros e azevinhos e ainda cedros e abetos. Uma pequena via panorâmica circunda o edifício, com um plataforma onde se pode ler ou descansar. Perto da entrada, foi construída uma piscina com vista. Lá dentro, há doze quartos duplos e uma suíte, uma sala de estar com janelas a fazer de paredes e um conforto familiar: sofás e mesas com revistas, uma lareira e estantes cheias de livros. Entre eles, alguns de cozinha tradicional portuguesa que pertenceram à mãe de João Pinheiro, professora de culinária e economia doméstica na antiga Escola Industrial e Comercial de Braga.

Esses livros não estão só a decorar a sala – eles inspiram João a criar os pratos da carta do restaurante Ponte do Diabo, que serve o hotel e serve também uma zona florestal onde é escassa a oferta de lugares de boa comida. A dificuldade em conseguir frescos locais, numa região de agricultura de subsistência, implica uma gestão rigososa. Tirando a vitela barrosã, é preciso um planeamento bem ponderado, que resulta numa carta pequena mas tão variada que vai dali de Trás-os-Montes até Goa. Isto porque, para João, a cozinha tradicional portuguesa é dos lugares onde andaram os portugueses – e do tempo também. Daí servir um prato de galinha mourisca, que criou a partir de uma receita com quase 500 anos. O que ali faz descreve sem hesitar: «Uma cozinha muito cuidada, bem confecionada, sem cedências às cozinhas de fusão».

Polvo à galega, estopeta de atum do Algarve, carrilhada de porco preto e, entre outros, a inevitável posta de vitela barrosã são alguns dos pratos. A degustação é, portanto, uma viagem por sabores, a partir de pratos com composições muito bonitas.

Passear nos arredores

O hotel tem uma “app” chamada Misarela, com sugestões de passeios pela região de natureza vibrante e muita água, que vale a pena descarregar, pela qualidade e facilidade de consulta. Funciona offline, por GPS. Também são fornecidos aos hóspedes guias para caminhadas ou passeios de carro pelas serras do Gerês e do Barroso, ou pelas cascatas e pontos de interesse dos arredores, entre eles a famosa ponte da Misarela. O hotel prepara um kit de piquenique (7 euros), basta pedir no dia anterior.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

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