Este premiado refúgio no campo vale ouro

O Leão de Ouro da Bienal de Arquitetura de Veneza foi atribuído ao arquiteto Eduardo Souto de Moura pela recuperação do São Lourenço do Barrocal, que a Condé Nast Traveler USA já tinha incluído na Gold List 2018.

Observando duas fotografias, uma do antes e outra do depois da recuperação, a organização da Bienal de Veneza concluiu que aquelas imagens aéreas, expostas num espaço vazio, revelavam a «relação essencial entre arquitetura, tempo e lugar». O lugar como lembrança de tempos passados, valorizado por um arquiteto que tem a capacidade gigante de projetar para o utilizador, para o homem e a sua dimensão. Ou dimensões. E o tempo inscrito no edificado original, redesenhado para cumprir um programa que respondesse às premissas do tempo de hoje – bem diferente das que existiam quando o lugar era uma comunidade agrícola, autónoma e à frente do seu tempo.

São Lourenço do Barrocal era uma herdade, pertencente à mesma família durante duzentos anos. Tinha, no entanto, ares de aldeia desenvolvida e organizada, que incluía capela, padaria, praça de touros, vinhas, campos de cultivo, oficinas, carpintaria, escola, e teto para albergar meia centena de lares. Toda uma estrutura que se manteve até à nacionalização ditada no pós-25 de Abril.

Anos, e seguramente muitas histórias mais tarde, José António Uva, oitava geração da família proprietária, decidiu recuperar a herdade, reativar algumas das suas atividades agrícolas e inaugurar-lhe um hotel de cinco estrelas no conjunto de edifícios recuperados pela mestria da contenção de Souto de Moura e decorados pela sobriedade do estúdio Anahory-Almeida.

Nos 7,8 milhões de metros quadrados da herdade produz-se, por ano, 160 toneladas de azeitona, 100 de uvas e 45 quilos de aveia. Esta vertente rural contracena, em harmonia, com a hoteleira, muito por conta da estética do lugar. À entrada, por uma rua longa distribuem-se os 24 quartos e as 15 casas, todas resultado de um valente exercício de despojamento e conforto.

A mesma equação foi aplicada nas zonas sociais: o restaurante, onde figura uma ampla coleção de objetos antigos da família; a piscina, onde o arquiteto portuense integrou uma pedra inusitada; a loja, onde se podem comprar alguns dos produtos da herdade, entre os quais vinho e azeite; o spa, obra-prima com produtos da marca de cosmética orgânica Susanne Kaufmann.

Aqui, entre muitos outros, há tratamentos destinados para crianças e adolescentes com o objetivo de estimular a perceção da sensibilidade. O spa será, talvez, um dos lugares mais bonitos do São Lourenço do Barrocal que, no seu todo, valeu a Souto de Moura um dos mais importantes prémios de arquitetura. E pensar que tudo foi feito para não se notar.

 

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