Costa Vicentina: que bem que se está no campo

A Herdade da Matinha é um turismo rural de charme em Cercal do Alentejo. Aqui apetece mergulhar na piscina, receber massagens ou andar a cavalo. E ir até à praia de Porto Covo. No campo há tempo para tudo.

Há mais de vinte anos, Mónica e Alfredo estavam já de malas feitas para a Austrália e prestes a desistir de procurar um sítio para abrir um turismo rural quando uma amiga lhes falou da Herdade da Matinha, pressagiando que seria «o sítio ideal» para edificarem esse sonho. «O Alfredo apaixonou-se completamente pelo espaço, mas a casa não tinha nada: só havia estes quartos de agricultores», aponta Marta Castrezana, diretora-geral do hotel, sentada à mesa num alpendre. «Não havia luz, água, nada». Mas isso não os demoveu de começarem a receber pessoas, nem que fosse à luz das velas, para «fazê-las sentir-se em casa».

É esse o espírito da Herdade da Matinha, que tal como uma família foi assistindo, nos últimos 22 anos, ao crescimento do número de quartos (atualmente 22), ao nascimento de novos cavalos e ao aparecimento de serviços, da restauração ao bem-estar. Tudo pensado por ambos para tirar o melhor partido do meio natural, sem ferir a fauna e a flora mediterrânica que circunda a herdade de mais de 100 hectares. Artista plástico natural do Porto, 60 anos, foi Alfredo que em conjunto com Mónica, guia-turística de Cascais, idealizou todo o projeto, vertendo em cada recanto das salas comuns, quartos, restaurante e áreas exteriores a sua experiência artística, com coloridas e vibrantes telas. Uma delas emoldura o recém-estreado bar de apoio à piscina.

Martha, mexicana de 28 anos, trabalhava no Penha Longa Resort, em Sintra, quando conheceu o antigo diretor do hotel, que a convidou para o cargo. «Vim cá só para conhecer a Matinha e acabei por ficar», ri-se, de copo de vinho na mão. Não é de admirar, por isso, que conheça de cor a história de Mónica e Alfredo e que fale da vida na Matinha com o ar leve de quem já se habituou aos ritmos rurais, apesar de só ali estar há seis meses.

A Praia da Samouqueira, em Porto Covo, fica a menos de meia hora de carro da Herdade da Matinha. (Fotografia: Sara Matos/GI)

Da horta para a mesa

O dia começa cedo no campo e ali, apesar de não haver horários para quase nada, os hóspedes são convidados a integrar as rotinas da herdade. Uma delas é acompanhar o jardineiro no trabalho nas hortas biológicas, onde cultivam alface, pimentos, beringelas, alho francês, morangos, abóboras, tomate e ervas aromáticas, consoante o que dita a sazonalidade das espécies. E também criam galinhas, para ter ovos mexidos frescos ao pequeno-almoço (das 08h30 às 11h00), que oferece variedade e qualidade e anuncia-se pelo cheiro do pão alentejano cozido em forno a lenha.

A cozinha, aberta para a sala de refeições, deixa os hóspedes à vontade, junto do staff, para fazer algum pedido especial ou simplesmente estar por ali a ver a comida a ser feita. «As coisas que não conseguimos arranjar nas nossas hortas procuramos nos produtores locais. O borrego, por exemplo, compramos num talho do Cercal», de produção biológica, diz Martha. O robalo do mar e o sargo vêm das peixarias do Cercal ou de Santiago do Cacém, com a segurança de serem sempre do dia.

Por essa razão, o restaurante da Herdade da Matinha não tem carta fixa, mas sim um menu que varia consoante os produtos comprados diariamente. Creme de vegetais com leite de coco e caril, arroz de tamboril, robalo com açorda alentejana e molho de citrinos e risoto de cogumelos são alguns dos pratos servidos ao almoço (sopa, prato principal e sobremesa, das 13h00 às 15h00, por 19 euros) ou ao jantar (com entradas, prato de peixe, prato de carne e sobremesas das 19h30 às 21h00, por 32 euros). Certos, são os vinhos cem por cento portugueses e as cervejas artesanais servidas bem geladas.

 

Dormir com a natureza

O restaurante foi todo construído em madeira, de forma muito rápida, materializando uma das várias ideias que Alfredo trouxe da Austrália. Coube-lhe a tarefa de escolher, aliás, grande parte das peças de decoração, meio campestre, meio balnear. As madeiras reinam em cada um dos quartos, que foram crescendo em número, distribuídos por três complexos segundo várias tipologias: mini-quarto duplo, duplos, românticos (com mais espaço e TV), familiares (cama de casal e beliche), suítes familiares, Suíte Atelier – o antigo ateliê de Alfredo convertido em acomodação – e Suíte La Sete, «o melhor quarto» da Matinha, com 70 metros quadrados, kitchenette, lareira, casa de banho e closet. A herdade é aquele sítio que se imagina longe da poluição visual e sonora das cidades, o postal que convida a observar a lua, as estrelas e deixar o sono embalar-se pelo coaxar das rãs. No fundo, é um pequeno paraíso para onde apetece fugir para ter tempo.

 

O que fazer para ocupar o tempo

Andar a cavalo. Há 13 animais de raça lusitana e austríaca na herdade e Joana Domingues, praticante de equitação desde os cinco anos, trata-os a todos pelo nome. O passeio dura uma hora (30 euros por pessoa) e passa por uma parte da Rota Vicentina, de grande beleza, sem se afastar muito da herdade. As crianças que quiserem ter contacto com os cavalos podem fazer um workshop (20 euros), e enquanto isso os pais podem receber uma massagem, fazer uma aula de yoga, um piquenique romântico, mergulhar na longa piscina rodeada de um laranjal ou passear com a Boneca, a simpática cadela que gosta de receber e despedir-se das pessoas na receção.

 

Passear, comer e beber em Porto Covo

A 25 minutos de carro e duas horas e meia a pé, a pequena aldeia de Porto Covo guarda argumentos que merecem ser comprovados uma e outra vez. Um deles é a Rota Vicentina, 400 quilómetros divididos em dois percursos, que desemboca ali e pode percorrer-se a pé ou de BTT. Depois do esforço físico, nada como almoçar no restaurante José Inácio uma especialidade de polvo ou uma açorda de bacalhau. E mergulhar, com a devida cautela, na Praia Grande de Porto Covo, uma pequena enseada no meio das falésias onde apetecerá ficar o resto dia.

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

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