Arouca: há muito para descobrir além dos passadiços

Património geológico único, paisagens de postal e comida servida à grande e à arouquesa, que a carne daquela raça bovina é ponto forte em todas as ementas. Os Passadiços do Paiva são só um dos motivos para visitar Arouca.

Quem não ouviu falar dos Passadiços do Paiva, em Arouca? O percurso pedestre de quase nove quilómetros, inaugurado, em 2015, na margem esquerda do rio Paiva, foi várias vezes premiado e não para de crescer. Seguindo esse trajeto, entre as praias fluviais de Areinho e Espiunca, já se vê o início da construção da futura ponte pedonal envidraçada junto à Cascata das Aguieiras, um dos cinco geossítios (locais de interesse geológico) no caminho. Ao todo, há 41 no Arouca Geopark, delimitado pelas próprias fronteiras do concelho e reconhecido pela UNESCO como Património Geológico da Humanidade.

Nestes 328 quilómetros quadrados de riquezas há, contudo, bem mais a descobrir além dos passadiços. As forças de Arouca são muitas e passam inevitavelmente pela mesa, com uma experiência a fazer em Alvarenga, a seis quilómetros de Espiunca, na Casa dos Bifes Caetano. Ali aposta-se na carne de raça arouquesa certificada. Bife e vitela assada no forno são algumas das especialidades saídas da cozinha de Maria José Coelho, que serve o famoso bife de Alvarenga, com batata frita cortada às ondas, em largas doses. Haja capacidade para saborear ainda o leite-creme à antiga e, no fim, a aguardente com mel.

Cabrito da Casa dos Bifes Caetano, em Alvarenga. Fotografia: Maria João Gala/GI

Este negócio familiar está implantado num território cheio de singularidades. Como as trilobites gigantes do Centro de Interpretação Geológica de Canelas, museu privado que guarda uma coleção única de fósseis daqueles seres, já extintos, que habitavam os oceanos há 500 milhões de anos. Foram descobertos em ardósias durante a laboração na louseira da família, explica Manuel Valério, responsável pelo lugar. É muito raro encontrar fósseis de trilobites com mais de 30 centímetros de comprimento. Ora, em Canelas são frequentes e chegam a atingir 70 centímetros, o que lhes granjeou a reputação de serem os maiores do mundo.

Um quadro chamado Serra da Freita

De enorme grandeza é, por outro lado, a imagem que se tem ao percorrer o planalto da Serra da Freita, todo dourado e camaleónico, porque na primavera tinge-se de roxo e amarelo, devido à urze e à carqueja. Face a esse quadro em movimento, é em estado de deslumbre que se chega ao Radar Meteorológico de Arouca, a mais de mil metros de altitude. A infraestrutura do Instituto Português do Mar e da Atmosfera recebe visitas através da Casa das Pedras Parideiras (já lá vamos), tal é o espetáculo natural proporcionado pela varanda no décimo piso. Aqui fica, aliás, outro geossítio: a Panorâmica da Costa da Castanheira.

Radar Meteorológico de Arouca. Fotografia: Maria João Gala/GI

Em dias de céu limpo, a vista alcança desde a Figueira da Foz até ao Grande Porto, além das aldeias em volta, Castanheira incluída. É lá que está a Casa das Pedras Parideiras, um centro de interpretação associado a outro fenómeno único no globo, limitado a uma área de aproximadamente um quilómetro quadrado. Os habitantes viam nódulos desprender-se da rocha mãe, por ação dos agentes erosivos, como se a pedra parisse outras pedras. Por isso, chamaram-lhes pedras parideiras, embora o nome técnico seja granito nodular da Castanheira. Os visitantes podem aceder a dois afloramentos: um a céu aberto e outro a coberto, com nódulos ainda agregados.

A Casa das Pedras Parideiras é posto informativo e loja de produtos regionais. Vende acessórios de moda, compotas e alguns produtos criados para fintar a crise, como os licores Pinguça. A bebida, produzida pelo casal de arquitetos Pedro Noronha Dias e Filipa Casaca a partir de receitas da avó dela, é feita com aguardente de vinho verde e tem sabor a canela, chocolate, maracujá ou frutos vermelhos.

Licores Pinguça, um negócio local nascido da crise.
Fotografia: Maria João Gala/GI

Tanto há para saborear, que uma visita a Arouca é para demorar quatro dias, defende Davide Fernandes, que inaugurou, em abril, o Hotel Rural da Freita, na aldeia de Mizarela, para responder à procura de alojamento. O hotel próximo da Frecha da Mizarela, a cascata mais alta de Portugal continental, proporciona um sossego que só se imagina perturbado pelo apetite. Se assim for, é curta a viagem até à Casa no Campo, um restaurante com jardim, cercado por montanhas, que serve posta de Arouca, vitela assada em forno a lenha, bacalhau na broa e sopa seca, um doce tradicional feito com pão, açúcar e água do cozido, a que ali se junta mel.

História, cultura e religião

A Serra da Freita é tão cheia de surpresas que nem lhe falta um monumento megalítico com perto de 6000 anos: o dólmen de corredor da Portela da Anta. Isso e muito mais mostra Pedro Teixeira, proprietário da Just Come – Countryside & Adventure Tours, um operador turístico especializado no território do Arouca Geopark, onde desenvolve vários programas.

Pedro é um guia todo-o-terreno: faz passeios de jipe em estrada e off-road, informa sobre fauna e flora, história, curiosidades e lendas. Até monta uma mesa com bolos caseiros e outros mimos, para não faltar energia para conhecer outros pontos marcantes, como as pedras boroas do Junqueiro (blocos graníticos que lembram côdeas de broas) ou os miradouros São Pedro Velho e Detrelo da Malhada.

De assinalar é também a panorâmica da Senhora da Mó, num ponto sobranceiro à vila. É lá a cruz luminosa que se vê do centro de Arouca, mais propício ao turismo cultural e religioso, ou não tivesse edifícios como a Capela da Misericórdia, de 1612, com o seu teto apainelado, pintado com cenas bíblicas da Paixão. Ou, claro, o Mosteiro de Arouca, que foi legado a D. Mafalda pelo pai, D. Sancho I, em 1210, embora a sua face atual seja dos séculos XVII/XVIII.

Senhora da Mó.
Fotografia: Maria João Gala/GI

Hoje é Monumento Nacional e alberga o Museu de Arte Sacra, com um valioso espólio, abrangendo quadros do século XVI atribuídos a Diogo Teixeira, relicários, uma escultura da Rainha Santa Mafalda (a quem se atribui milagres, um deles ligado à extinção de um incêndio no edifício), o cadeirão original da abadessa (reza a lenda que pessoa solteira que se sente nele não se casa), ou um tapete persa do século XVI, do enxoval de uma noviça. «Este seria um mosteiro de elite, para pessoas da alta nobreza», observa Raquel Ferreira, guia turística do museu.

Através da Just Come, as visitas ao mosteiro podem incluir ainda um concerto de órgão ibérico e uma prova de doces conventuais na cozinha. Charutos de amêndoa e barrigas de freira são só algumas propostas da Casa dos Doces Conventuais de Arouca, um negócio que, segundo Jorge Bastos, vem passando de geração em geração desde que uma aia transmitiu as receitas à sua avó.

Charutos de amêndoa e barrigas de freira são só algumas propostas da Casa dos Doces Conventuais de Arouca, um negócio que vem passando de geração em geração, segundo Jorge Bastos, desde que uma aia transmitiu as receitas à sua avó.

Os devotos do bem comer têm também ali perto a Tasquinha da Quinta, um restaurante que tem por base a vitela arouquesa e serve logo, como entradas, moura frita, rojões de redenho e bucho cozido com molho verde. A seguir vêm os nacos do vazio no espeto, com arroz de fumeiro. Depois de uma refeição assim, talvez apeteça fazer umas caminhadas no centro da vila ou na Quinta do Pomar Maior, em Santa Eulália, que tem duas casas T4, dois apartamentos T1 e dois quartos duplos numa área com cerca de 200 árvores de fruto, uma horta, duas piscinas e animais.

Vânia Leal e o pai, Alberto, quiseram fazer daquela quinta um projeto sustentável, enquadrado na natureza e com respeito pelo património local. As unidades de alojamento têm nomes de sítios emblemáticos de Arouca, materiais e vegetação característicos da zona. Esta família de São João da Madeira é a prova de que a paixão por Arouca não é exclusiva dos seus habitantes. Na verdade, até pode ser contagiosa: basta conhecer-lhe os encantos para querer voltar.

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