Amares: entre rios, mosteiros e laranjeiras

Um santuário no meio da natureza e uma pousada nascida da recuperação de um mosteiro do século XII. São só algumas razões para visitar o território entre os rios Homem e Cávado, no distrito de Braga, conhecido pela sua laranja suculenta e que foi o berço de António Variações.

O património paisagístico e arquitetónico de Amares, a sua laranja de verão, as papas de sarrabulho e os rojões, os novos negócios envolvendo churros, hambúrgueres e cocktails. Tudo isto pede uma visita a este concelho do distrito de Braga que tem fronteiras naturais com os rios Homem e Cávado, foi destino do poeta Sá de Miranda e berço do cantor e compositor António Variações.

«Vale a pena vir cá por duas coisas: a gente e a terra. Amares é particularmente interessante pela forma como recebe», resume Isidro Araújo, vice-presidente da Câmara Municipal responsável, também, pelos pelouros da Cultura e do Turismo.

Isidro Araújo diz que um dos fortes de Amares é a sua «beleza natural única», e percebe-se porquê, numa ida ao Santuário de Nossa Senhora da Abadia, na freguesia de Bouro Santa Maria. A envolvente torna este espaço, isolado a meia encosta e integrado na Rede Natura 2000, ideal para fazer caminhadas, piqueniques e tomar banhos de cascata no verão – ali correm, cantantes, as águas do rio Nava e do seu afluente Combarraços.

O Santuário de Nossa Senhora da Abadia fica isolado no meio da natureza.
Fotografia: Paulo Jorge Magalhães/GI

«Os frades de Bouro inicialmente estiveram cá, mas como este sítio era mais frio foram para baixo e fundaram o Convento de Bouro», numa zona de vale, menos agreste, refere Manuel Gouveia Fernandes, da Confraria de Nossa Senhora da Abadia.

No caminho para o santuário, onde também se pode visitar um museu com arte sacra, surgem oito capelas com cenas representativas da vida de Nossa Senhora, havendo ainda sete capelas dos passos da Paixão.

O santuário guarda um órgão com uma carranca cuja boca se mexia, e a imagem de Nossa Senhora da Abadia, venerada pelos peregrinos que ali chegam, aos milhares, no último domingo de maio e no dia 15 de agosto.

O santuário, construído nos séculos XVII e XVIII, e que foi sofrendo remodelações ao longo dos tempos, guarda um órgão com uma carranca cuja boca se mexia, e a imagem de Nossa Senhora da Abadia, venerada pelos peregrinos que ali chegam, aos milhares, no último domingo de maio e no dia 15 de agosto.

Este é considerado o santuário mariano mais antigo da Península Ibérica – estudiosos garantem que o culto mariano aqui começou em fins do século VII, num pequeno eremitério no Monte de São Miguel.

Uma pousada-mosteiro com assinatura

A temática religiosa mantém-se, mas só remotamente, na Pousada Mosteiro de Amares, que dista quatro quilómetros da Senhora da Abadia e resultou da adaptação de um mosteiro cisterciense do século XII por Eduardo Souto de Moura, vencedor do Pritzker 2011, o «Nobel da arquitetura». Os 32 quartos, com mobiliário e quadros de Siza Vieira, são antigas celas reconvertidas.

Com a extinção das ordens religiosas, em 1834, os monges foram expulsos, o mosteiro foi vendido e o edifício, em Bouro Santa Maria, a curta distância do Parque Nacional da Peneda-Gerês, foi-se deteriorando. Graça Pinto, supervisora da Pousada, inaugurada em 1997, lembra-se de, em criança, brincar nas ruínas do mosteiro, que «era do povo».

A Pousada Mosteiro de Amares fica num cenário bucólico, onde se pode encontrar animais a pastar.
Fotografia: Paulo Jorge Magalhães/GI

As salas do mosteiro eram usadas para aulas de catequese, teatro e até para dar à luz, e fazia-se churrascos a céu aberto na antiga cozinha do mosteiro, onde se encontra agora o restaurante denominado, justamente, Antiga Cozinha. Tem uma mesa de granito ao centro, que sobreviveu às pilhagens ao longo do tempo, e serve, entre outros pratos, especialidades minhotas.

Restaurante Antiga Cozinha, na Pousada Mosteiro de Amares.
Fotografia: Paulo Jorge Magalhães/GI

A dois passos da Pousada fica outro templo da cozinha regional – feita em fogão a lenha, para saber melhor. É o Cruzeiro, famoso pelas papas de sarrabulho, que chegam com rojões à moda do Minho e vinho verde tinto de produção própria, sublinha Fernanda Feixa, que gere o restaurante fundado, há cerca de 50 anos, pelos pais, Maria Isabel Pereira e Adriano Feixa.

Há ainda vitela assada, pernil de porco ou bacalhau à Cruzeiro e, ao fim de semana, buffet de sobremesas, incluindo pudim de laranja com vinho do Porto e tarte de laranja – este citrino é um emblema local.

A laranja dos meses sem «r»

A laranja de Amares distingue-se, entre outros aspetos, por ser mais saborosa e suculenta nos meses sem «r», isto é, entre maio e agosto.

«Temos um microclima e um terreno que permite ter uma laranja diferente das outras. A laranja tradicional de Amares tem tendência para ser mais pequena, ter a casca fina e ser muito sumarenta. A laranja que as pessoas conhecem como do Algarve já não tem tanto sumo, é mais fibrosa», explica Arminda Costa, que com o marido, Fernando Macedo, produz compotas, bolachas, licores e outros produtos com a etiqueta Quelha Branca – Sabores de Amares, estando a laranja presente em quase todos. E ainda promove degustações, workshops e recebe clientes no seu espaço de produção, em Caires.

A laranja de Amares, que tem características distintivas, a começar pelo facto de ser uma laranja de verão.
Fotografia: Paulo Jorge Magalhães/GI

Entre os fornecedores da Quelha Branca está Isabel Silva, que faz produção biológica certificada de laranja de Amares num pomar de família, também em Caires. «A casa do meu trisavô tinha umas janelas pequeninas para vigiar os laranjais» e impedir os furtos, aponta ela, que recebe ali quem queira aprender a fazer enxertias, ou participar em plantações e colheitas, sendo que só trabalha consoante a época e colhe a fruta em função das encomendas.

A Casa Casal do Carvalhal foi local de produção agrícola dos monges beneditinos fundadores do Mosteiro de Rendufe, a um par de quilómetros da propriedade, vendida após a extinção das ordens religiosas.

Na Casa Casal do Carvalhal, em Barreiros, também pendem frutos das árvores, mas esses os hóspedes podem tirar e comer, diz Rosa Barros, no sossego da sua propriedade, aberta ao turismo há nove anos.

O T5 (cedido por inteiro ou quarto a quarto), o T0 e o T2, tudo tem o toque dela, uma entusiasta da reutilização que tanto transforma um tronco de oliveira num móvel, como um contentor de pão numa casinha para as crianças brincarem.

A propriedade pertenceu aos monges beneditinos do Mosteiro de Rendufe, mas, com o fim das ordens religiosas, foi vendida e está há cinco gerações nas mãos da família. É mais um pedaço de história a somar ao muito que há para contar sobre Amares.

Baloiço na Casa Casal do Carvalhal, um alojamento em ambiente bucólico onde tudo se reutiliza com gosto e criatividade.
Fotografia: Paulo Jorge Magalhães/GI

 

Variações: música, hambúrgueres e cocktails

António Variações, oriundo da freguesia de Fiscal, é uma figura emblemática de Amares, bem presente no Variações – Food & Drinks, que os amigos de infância Hugo Silva e Pedro Vieira abriram, há pouco mais de um ano, em Ferreiros. Numa parede há uma figura que remete logo para António Variações, e aquando da nossa visita ouve-se a sua voz também, mas a casa, que passa sobretudo rock de bandas como Nirvana ou Red Hot Chili Peppers. Para comer há hambúrgueres, pregos, tábuas e outros petiscos, e à noite bebe-se cerveja, gin, sangria e cocktails.

Comer churros à mesa, como na rulote

Tudo o que precisas é de amor, de café e de um bom churro», lê-se na montra da Churrolat, a churreria, pastelaria e gelataria que Jorge Macedo e Joana Cerqueira mantêm, há mais de três anos, em Ferreiros. O falecido paide Jorge tinha uma rulote de farturas, e o filho, que continuou esse negócio de venda ambulante, decidiu criar um espaço onde se pudesse comer churros tradicionais, mas sentado, num ambiente mais requintado.

Aqui, há churros com recheio de chocolate, creme de ovo, morango, doce de leite e outros sabores, coberturas de gomas ou chocolates; até há churros salgados e de cachorro (com salsicha e batata palha), além de crepes, chocolates quentes, waffles e outras propostas, algumas «fit». Recentemente, abriu uma segunda casa em Braga.

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

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