À descoberta de Castro Daire e da magia da montanha

É uma vila pacata, onde a vida acontece devagar. Cabe na palma da mão, mas é um belo ponto de partida para explorar as redondezas onde se escondem os verdadeiros encantos do território em redor. Boa comida, boa cama, projetos locais liderados por pessoas com sangue na guelra, aldeias bonitas, tudo com Montemuro por perto – e Viseu a meia hora de carro.

Castro Daire abraça aldeias perdidas no tempo e numa ruralidade autêntica junto à serra de Montemuro, ainda pouco explorada. Uma das imperdíveis é a de Campo Benfeito, na freguesia de Gosende. As casas tradicionais de granito, enquadradas pela paisagem feita de serra e de campos de cultivo, bastariam para criar um quadro bucólico digno de prolongada apreciação. Acontece que apesar de Campo Benfeito ser um povo muito pequeno, de estar apartada das vidas da cidade e das frescuras da praia, no verão tem «casa cheia».

Nesta aldeia mora a companhia de TEATRO DO MONTEMURO, que começou a dar os primeiros
passos há 20 anos e desde então tem vindo a afirmar-se, atraindo a Campo Benfeito muitos visitantes mas também atores, cenógrafos, dramaturgos e encenadores. Em agosto, a companhia organiza o Festival Altitudes, que já vai sendo bem conhecido do grande público.

Casas de granito enquadradas pela paisagem feita de serra e campos de cultivo: Campo Benfeito é uma aldeia imperdível

Portas abaixo da do teatro, ergue-se um edifício que em tempos serviu de escola primária onde Ester Duarte estudou. Hoje, Ester ainda vive na aldeia e frequenta o mesmo lugar que há muito deixou de ser local de ensino e se transformou num ateliê e loja de peças de roupa e acessórios feitas em burel, linho e lã. O projeto chama-se CAPUCHINHAS e já mereceu o prémio internacional de «Criatividade – Para mulheres em meio rural», atribuído pela organização não-governamental suíça Women’s World Summit Foundation.

Numa sala onde em tempos se alinhavam mesas e cadeiras de escola, com amplas janelas de vista para a serra, os teares não param, nem mesmo um exemplar que, apesar dos seus mais de 200 anos, continua na labuta. Nos meses de inverno, o espaço é aquecido pelo fogão de sala como se se estivesse em casa. Para estas mulheres, é um privilégio poder trabalhar na aldeia onde cresceram e aqui produzir peças que se vendem um pouco por todo o país.

Na cooperativa Capuchinhas, os teares não param. Mesmo um exemplar com mais de 200 anos continua na labuta

Foi criado por Ester e Henriqueta Félix, em 1987. Eram adolescentes empreendedoras – adjetivo que à data não estaria tão na moda –, cheias de vontade de conquistar a independência de alguma forma que não passasse pela agricultura, a saída profissional mais provável em Campo Benfeito. Com base nestes pressupostos, decidiram fazer formação em corte e costura e ainda sobre criação do próprio emprego para constituírem a cooperativa feminina Capuchinhas. «Capucha é o nome da capa tradicional da serra de Montemuro», explica Ester. «É uma peça de abrigo e de aconchego.» As quatro mulheres que trabalham na antiga escola tecem, fazem malhas, costuram seguindo os desenhos da estilista Paula Caria, que colabora com o projeto há duas décadas.

É um gosto passear pela aldeia de Campo Benfeito, beber água fresca na fonte, junto à igreja, apreciar o compasso lento daquele lugar e, na «escola» das Capuchinhas, aprender sobre uma arte que já vai estando em vias de extinção.

Infusões biológicas e arroz com salpicão

No Mezio, aldeia no coração de Montemuro, a pouco mais de dez quilómetros do centro de Castro Daire, há um lugar especialmente destinado aos apreciadores de infusões. Dá pelo nome de ERVITAL e o perfume que se sente nas redondezas não deixa dúvidas de que ali se produzem plantas. Aromáticas. Muitas!

A empresa – que garante ser pioneira em Portugal na produção de plantas aromáticas e medicinais, em modo biológico –, nasceu em 1997, cresceu e hoje comercializa mais de cem referências. Os campos de produção estendem- se a cerca de mil metros de altitude, envolvidos por vegetação autóctone e sem áreas de cultivo a menos de um quilómetro de distância. A parte boa é que toda a estrutura da Ervital, das estufas e campos de cultivo até ao produto final, pode ser vista de perto através de visitas guiadas agendadas previamente. Como são cultivadas, quais as principais espécies, como e quando são colhidas, secas e acondicionadas são partes da conversa que antecedem uma bela chávena de, por exemplo, Sabores da Tarde, infusão com hortelã-pimenta, tomilho-limão, manjericão e alfazema. Outra parte boa: as infusões podem ser compradas ali, diretamente ao produtor.

A paisagem do Mezio, que integra o Caminho de Santiago, é tipicamente serrana, as ruas são estreitas e muitas das casas ainda mantêm a traça original. Mas não é por estas particularidades que se sugere um passeio a pé pela aldeia. Caminhar por lá é altamente recomendado para ajudar à digestão de uma bela dose de arroz de feijão com salpicão cozido. No RESTAURANTE TÍPICO DO MEZIO, que pertence à Associação Etnográfica do Montemuro, esta delícia da gastronomia regional é servida em barro preto e não lhe faltam fãs. Sobre muitas das mesas que preenchem a sala do restaurante, há pelo menos uma destas doses confecionada pela cozinheira Filomena, conhecida por Menita. Sem pretensões de ser bonito, chique ou experimental, este prato é o mais afamado, mas o menu tem outras sugestões igualmente «ligeiras», como o rancho ou o cabrito com arroz assado em forno a lenha (ao domingo). Se o restaurante estiver cheio, é de esperar.

Dormir junto à montanha mágica

Sherrin Cottrel nunca comprava o The Sunday Times. Aquele domingo foi exceção. Sherrin é australiana, conheceu o marido, Tony, no Algarve, há cerca de 50 anos. Casaram, a vida seguiu o seu rumo e levou-os para Espanha, onde viviam quando ela comprou o jornal. Reparou no anúncio de venda de uma pequena quinta, aninhada num vale verde e exuberante, junto ao Paiva, na aldeia de Reriz. Recortou o anúncio, guardou-o num livro e o papel ali ficou adormecido até lhe cair aos pés, seis meses mais tarde. Veio a Portugal visitar a propriedade e já não regressou a Espanha.

Decidiram que aquele lugar seria deles, da família, e que Sherrin ficaria a tomar conta das obras de recuperação. Três anos depois já tinha sido «adotada» pela aldeia que a recebera. Chamavam-lhe A Espanhola e acolheram-na de braços abertos. Depois de reconstruídas, as casas ganharam espaço e modernidade e convidaram a paisagem para entrar, através das grandes janelas viradas para a serra. A família decidiu então abri-la ao mundo, transformando parte da propriedade para receber turistas.

Está estrategicamente isolada: perto do centro da aldeia para lá se ir jantar, mas longe o suficiente para não se avistarem outras construções. O local é perfeito. Para ler, descansar, dormir, conversar, dar mergulhos na piscina ou no Paiva que segue tranquilo aos pés da quinta. Tem uma casa independente com capacidade para cinco pessoas e ainda duas suites, também independentes. Impressiona, a montanha que se ergue no horizonte. É enorme como a beleza daquele lugar. Chama-se QUINTA SOUTO COVO, mas se tivesse outro nome seria a Quinta da Montanha Mágica.

 

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