Proporcionar uma vivência tipicamente lisboeta é o que pretendem os responsáveis pelo Look Living Apartaments, que apesar de ter nome inglês, não podia estar mais enraizado na história de Lisboa. Atente-se, para começar, no próprio nome Rua da Boavista, diretamente relacionado com a qualidade da visão. O facto remete para a Bica dos Olhos, construída em 1675 e cuja água – acreditava-se – curava maleitas. A fama era tal que vinha descrita no “Aquilégio Medicinal” de um médico de D. João V.
António Polena, um dos responsáveis por este novo alojamento entre Santos e Cais do Sodré, contextualiza os hóspedes à chegada, revelando também que terá sido neste prédio que nasceu o famoso ator João Villaret, cujo pai tinha ali o consultório. Mas a arte que envolve a receção – onde não falta sequer uma cama demonstrativa dos quartos – é de outra natureza, sob a forma de ilustrações, pinturas e esculturas concebidas por mais de 10 artistas de várias línguas, em exclusivo para o espaço.
Sebastião Lobo, Fluvio, Allan Louis e Void são alguns dos nomes que ali vendem as suas peças, ao lado de cadeiras desenhadas e produzidas em Paços de Ferreira. À venda há também várias referências da Real Companhia Velha, cujo vinho do Porto 10 anos é oferecido, à chegada, em cada apartamento. “Quisemos que fosse tudo português, sempre que possível”, confirma António, referindo-se ainda aos produtos da marca centenária lisboeta Benamôr, que equipa as amenities de casa de banho.
A seu tempo, a componente artística do projeto terá igualmente uma marca própria, com t-shirts, serigrafias e outros artigos assinados por Beatriz Leão, finalista de um curso da Faculdade de Belas-Artes. As paredes brancas do piso da receção darão lugar, de resto, a uma galeria artística rotativa. É deste harmonioso casamento entre arte contemporânea e história que se faz a essência deste alojamento, que rejeita o formalismo de um hotel mas não o conforto, e o combina com toda a funcionalidade.
O edifício, de fundação fino-setecencista, foi recuperado integralmente pelo atelier Florêncio Pedro Arquitetos e isso valeu-lhe uma menção honrosa do Prémio Vilalva 2018, da Fundação Calouste Gulbenkian. O júri destacou “a qualidade do projeto de reconversão e reabilitação” e o “empenho dos arquitetos Filipa Pedro e Paulo Pedro na recuperação e recriação de diversos elementos construtivos e decorativos do edifício inicial ou das sucessivas fases da sua historicidade”, pode ler-se online.
Comum aos 16 apartamentos (desde estúdios a T1, T2 e lofts em águas-furtadas) é a decoração minimalista, que conjuga mobiliário em tons pastel com a nobreza das madeiras e da pedra. Muitos hóspedes não hesitariam em viver neles, comenta António Polena, satisfeito com os elogios. As razões para tal são fáceis de elencar: cozinhas em estilo americano totalmente equipadas, salas de estar e de jantar de grande tamanho, muita luz natural e roupeiros embutidos, úteis para estadas longas.
Todas as manhãs, os hóspedes são agraciados com o pequeno-almoço entregue à porta num saco de juta, vindo diretamente da cozinha do Planto, do chef Vítor Adão, no piso térreo. Inclui sumo de laranja, leite, pão da Gleba, fiambre, queijo, croissant, doce, iogurte, entre outros essenciais. Em breve, haverá também serviço de quartos para que nada falte aos hóspedes. Porém, vale a pena descer ao restaurante para provar os seus vários pratos de base vegetal, acompanhados por criativos cocktails.
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