Uma lareira com design moderno desce do teto em madeira de pinho, perto da zona de sofás e cadeiras, para aquecer os hóspedes do Spatia Comporta, nos dias frios. Este espaço tem o ambiente de uma sala de estar, mas quando Tiago Rodrigues e João Vilela ali chegaram, depararam-se com uma decoração “estandardizada e com pouca alma”. Havia que a humanizar, dizem, e tirar partido da natureza envolvente: um oceano de pinheiros e oliveiras, estas mais de uma centena, que preenche de verde a propriedade com cerca de 100 hectares.
Especialista em projetos residenciais, ao assumir o seu primeiro projeto hoteleiro – numa altura em que o Spatia Comporta já estava em funcionamento -, o estúdio de arquitetura e design de interiores Pura Cal, fundado há 14 anos, com sede no Lx Factory, mostrou a sua capacidade de adaptação a novos ambientes. O principal pedido dos donos do hotel, localizado na aldeia de Bicas, perto da Comporta, foi que o Spatia mantivesse o estilo contemporâneo, com interiores “muito calmos”, refere Tiago Rodrigues, numa lógica de “diferenciação” face ao que já existe.

(Fotografia de Luís Nobre Guedes)

(Fotografia de Luís Nobre Guedes)
O “ar de casa” que os hóspedes encontram no clubhouse da primeira fase do hotel, aberta em 2019, foi conseguido, por um lado, graças à escala humana das áreas, mas também através do uso da madeira de pinho nas cadeiras, das almofadas com texturas e da introdução de painéis com retalhos de tecidos a lembrar as paisagens alentejanas; e ainda de grandes potes de barro. Já na sala de pequenos-almoços, que serve os 20 quartos e uma suíte desta ala mais dedicada a famílias, ajustaram apenas a iluminação, dotando-a de apliques em cerâmica.
Maria Castel-Branco, que assina essas peças, é um dos seis artistas que colaboraram com a Pura Cal no design de interiores do Spatia Comporta. Quer na suíte, nos 20 quartos e nas 27 villas da fase inicial, quer nas 18 novas cabanas e no clubhouse abertos em março de 2024, também se encontram macramés da artista têxtil Diana Cunha; quadros do coletivo Farinha Rosa; candeeiros em cestaria e latão, e outras peças com desenho e produção seguidos de perto pelo estúdio, num reflexo da sua apaixonada ligação às disciplinas artesanais do país.

(Fotografia de Luís Nobre Guedes)

(Fotografia de Luís Nobre Guedes)
Já a nova receção do hotel, bastante maior do que a anterior e a deixar a paisagem entrar pelas janelas do chão ao teto, surge adornada com esculturas têxteis tridimensionais assinadas por Maria Pratas. “As obras de arte expressam a identidade do hotel através de diferentes técnicas e materiais, que promovem também o diálogo entre a natureza, a arquitetura e os interiores”, sumariza a Pura Cal, que acrescenta que “aqui respira-se serenidade viva, em ambientes que abrandam e prolongam o tempo, preservando o bucólico ‘slow living’ do lugar”.
Nos restaurantes Nesto e Ora têm lugar, por sua vez, as artes culinárias do jovem chef Afonso Carvalho, que se deixa inspirar no ambiente que o rodeia para conferir um toque “inovador” e “de partilha” à cozinha do Alentejo litoral. Algumas ervas aromáticas, tão importantes para os temperos, são colhidas por ele nos canteiros do hotel, que em breve deverá ganhar uma horta maior. Entre refeições, além de mergulhos na piscina (a maior, aquecida a 27 graus), é possível pedalar pela propriedade, fazer aulas de ioga e pilates e ainda praticar ténis, padel e pickleball.
Spatia Comporta
N261-1, Estrada das Bicas, Marco da Saibreira, Bicas (Grândola)
Tel.: 269249486
Web: spatiacomporta.com
Quarto duplo a partir de 160 euros; cabanas a partir de 250 euros (por noite, com pequeno-almoço, na época baixa)
Preço médio do restaurante Ora à carta, sem bebidas: 60 euros