Inaugurado em 1905, na Rua do Almada, a espreitar para a Avenida dos Aliados, o Hotel Internacional “é o terceiro sobrevivente” do legado hoteleiro da cidade, classifica Filipe Barrias, gerente da unidade centenária. Só o Grande Hotel Paris e o Grande Hotel do Porto lhe superam a idade. Mas bem feitas as contas, a história deste lugar começa ainda antes da dos seus pares. O edifício onde está instalado surge em 1870, já com o propósito de ali funcionar um alojamento, impulsionado pelo desenvolvimento da cidade. “A sua morfologia, o seu edificado, o comércio, o caráter pitoresco das gentes, a alimentação e o clima, todos estes ingredientes já na altura fizeram com que alguns guias ingleses e internacionais fizessem constar a cidade do Porto como destino de procura turística”, explica Filipe.
O primeiro inquilino do edifício, no entanto, foi o famoso Botequim das Hortas, aberto em 1880, e frequentado por muitos intelectuais, entre eles Ramalho Ortigão. Nos últimos anos do século XIX, o edifício adquiriu finalmente a função para o qual foi concebido. “É aí que nasce uma hospedaria para caixeiros viajantes, homens de negócios que vinham ao Porto e pernoitavam na cidade”, conta o responsável. A evolução do turismo levou a que em 1905 se abrissem as portas do Hotel Internacional.
Despretensioso e tranquilo, o hotel emana uma sobriedade própria do seu estilo conventual. Todas as ornamentações estruturais – colunas, arcadas e até a escadaria principal – são feitas em pedra, e suportam num dos pisos um pequeno sino, cujo pendor clerical reforça a história de que o edifício tenha, em alguma altura, servido de habitação a freiras. “Isso não está comprovado, mas foi sempre uma lenda daqui da casa”, comenta Filipe. “Se estas paredes falassem”, certamente contariam muitas outras histórias.
A família Barrias, experiente na preservação do património histórico da cidade – é detentora dos cafés históricos Guarany e Majestic e de outros espaços hoteleiros -, assumiu a administração do Hotel Internacional em 2014. “Nós herdamos um espólio muito recente, dos anos 80, do que está para trás não temos grande conhecimento”, confessa o responsável.
Sabe-se porém que todas as obras de que o hotel foi alvo mantiveram a sua traça estrutural e os bonitos painéis de azulejos que revestem as paredes. Foi sendo acrescentado algum mobiliário e peças de arte contemporâneas, que convivem, por exemplo, com um piano de 1889. O antigo restaurante Almada, em tempos ponto de encontro de intelectuais e homens de negócios, é agora a sala de pequenos-almoços, e os quartos oferecem funcionalidade e conforto, ideais para quem procura um poiso intemporal no centro da cidade.
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