O murmúrio das ondas enroladas contra a Praia da Ribeira de Cascais embala o sono de quem escolhe o Hotel Baía para pernoitar na vila piscatória. Com o mar logo ali, pintado pelos barcos de pesca, e a serra de Sintra nas costas, a histórica unidade tem na morada um grande trunfo, permitindo descobrir o centro a pé. Mas o mar, temperamental, nem sempre foi aliado: em 1983 irou-se numa noite de tempestade com chuvas torrenciais, destruiu o casario, arruinou o pontão e inundou os pisos inferiores. Graças à resiliência do fundador e da sua família, o hotel resistiu.
Quem recorda o episódio é João Coruche, um dos três irmãos que assumem a terceira geração da empresa, presidida pela mãe e fundada pelo avô. “Foi o meu avô João Tavares que mandou construir o hotel. Ele era de Aveiro, veio para cumprir o serviço militar e foi então que conheceu a minha avó, que vivia numa antiga casa [de 1870] onde existia o Café Tavares, que tinha uma mercearia onde os membros da Casa Real iam abastecer-se. Apaixonaram-se e construíram o hotel nesse lugar, com base numa permuta de terrenos com a Câmara”, narra o administrador.
À data da inauguração, em 1962, o Hotel Baía era o mais moderno de Cascais. Marcado pelas linhas contidas do arquiteto João Cruz (que viria a projetar o também icónico Hotel Cidadela) e com apenas três pisos, tinha 87 quartos e um restaurante no terraço. Dos altos e baixos que o impactaram, o período pós-25 de Abril foi o mais conturbado, quando uma comissão de gestão tomou o negócio, obrigando a família a retirar-se para o Brasil. Mas o avô de João, formado em engenharia eletrónica, permaneceu a “tentar lutar pelo que era dele”.
Alvo de sucessivas remodelações ao longo das últimas décadas, a unidade com 113 quartos e suítes tem hoje uma estética bastante diferente da original, mais contemporânea e consonante com a quarta estrela atribuída recentemente. Mais modernos estão também o tipo de letra afixado na fachada e o restaurante Baía, que reabriu com um novo menu. Chèvre gratinado com vermicelli e nozes, filete de robalo com puré de batata doce e legumes baby e o clássico bife tártaro, entre outros, são algumas das propostas do chef Diogo Fonseca.
Manteve-se o chão de mármore dos espaços de refeições, coadjuvado por um bar, uma galeria com livros e uma soalheira esplanada, e para alegrar a vista dos quartos traseiros inferiores, foi feito um mural da autoria de Jacqueline Montaigne. No terraço, enquanto o inverno pede banho de piscina interior aquecida, o verão convida a um brinde ao por-do-sol no terraço. O Hotel Baía, porém, é mais do que uma boa relação qualidade-preço. “Sendo uma empresa familiar, os nossos funcionários são tratados como extensão da família”, tal como os clientes que voltam, diz João.
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