2 guesthouses e um pequeno hotel para conhecer no Porto

Tipografia do Conto. (Fotografia: Fernando Guerra/DR)
Charme e informalidade resumem estes três alojamentos, que se encontram perto do rio ou no centro da cidade.

1 | Duas Portas, Porto (Foz)

Nesta guesthouse em frente ao Douro, gerida por Luísa Moura e pela tia, Francisca Penha, o design anda de mãos dadas com a informalidade.

Por todos os espaços da guesthouse Duas Portas, paira uma serenidade que convida a abrandar. Mas o convite ao apaziguamento começa mesmo antes de se entrar, com o rio Douro, em frente, a brilhar ao sol. Esta bonita vista é partilhada pelos quatro quartos virados para sul, enquanto os restantes quatro encaram o agradável jardim nas traseiras. Apesar de pontuais diferenças entre si – alguns têm casa de banho com banheira, outros com chuveiro -, todos os oito quartos são claros, elegantes, minimalistas.

O que Luísa Moura e a mãe, Luísa Penha, também arquiteta do Duas Portas, procuraram para todo o espaço foi “o equilíbrio entre o contemporâneo universal e a especificidade do Porto”. Daí que à brancura quase imaculada dos tetos, das paredes e da roupa de cama, se juntem elementos em dourado e em verde seco, uma cor “muito típica” da cidade, tal como o mosaico hidráulico e o soalho de riga.

Outro apontamento de cor é dado pelos quadros, nos quartos e fora deles. Foram pintados por Maria Souto de Moura, irmã, e por Luísa Penha, a mãe. As obras que estão dentro dos quartos remetem para o nome da guesthouse, cuja explicação não podia ser mais literal. O prédio tem duas portas, a da guesthouse, e outra, mais larga – que seria uma antiga “venda” (loja) – que dá hoje para o restaurante DaTerra.

A arte, porém, encontra-se por todo o espaço. Além da que está exposta nas paredes, há- também como tema dos livros e revistas que se encontram na sala pequena e na sala grande, onde são servidos os pequenos-almoços, e se sai para o jardim. Ainda que toda esta envolvente atraia um “público bastante específico, do Norte e do Centro da Europa, ligado à arquitetura e às artes, acaba por agradar também a um público diversificado”, explica Luísa. Até porque o Duas Portas “é um espaço completamente informal, muito próximo do cliente”, salienta. Foi assim que a Luísa e a tia, Francisca Penha, idealizaram este cantinho na Foz, zona de onde é natural a família, e da qual guardam boas recordações. Esperando agora que os hóspedes as criem ali também. Ana Luísa Santos

2 | Menina Colina, Porto (Miragaia)

Da paixão de quatro alemães pelo Porto renasceu uma casa centenária, há muito esquecida pela cidade. Agora, abrem-se as portas de belos quartos e corredores, uma sala de música e um jardim encantador.

É um jardim tranquilo, fresco, escondido entre edifícios como já nos vem habituando o Porto, pejado de verdes e grandes japoneiras. Um ambiente que convida a passar ali longas tardes, de corpo estendido na relva sombreada. Este pequeno refúgio abre-se nas traseiras da Menina Colina uma recente guesthouse que devolveu à cidade um edifício centenário, há mais de 30 anos de portas fechadas.
A nova vida desta casa começou com um carpinteiro alemão que se apaixonou pelos encantos do Porto, Guy Lehmann. “Vim para cá trabalhar em 2013 e via muitas casas abandonadas e degradadas”, conta. Decidido a contribuir para a recuperação do centro histórico, desafiou mais três amigos a juntarem-se a ele, Julia Bargholz, Maria Leiterholt e Hinrich Balsters. “Não foi difícil convencê-los. Esta cidade é um lugar muito impactante”, garante Guy.

Escolheram o edifício de entre dezenas de outros que visitaram. “Antes de entrar, parece uma casa normal, mas depois de entrar é de tirar o fôlego. Temos aqui uma casa muito especial”, assinala Guy.

Desde o início das obras de restauro, em 2017, a intenção dos quatro proprietários foi conservar ao máximo as características originais da casa. Por isso, o soalho marcado pelo longo tapete que em tempos o cobriu ainda range sob os passos de quem percorre o corredor e a escadaria. Mantêm-se as paredes pintadas a imitar mármore, os exuberantes estuques, as portas, as cores e até alguns dos móveis e louças originais das casas de banho.

Os papéis de parede são réplicas fiéis dos originais. E na luminosa sala de música, posam ainda retratos de Chopin, Schubert, Schumann, Wagner e outros célebres compositores. No terceiro piso banhado pela luz da claraboia está um dos nove quartos da guesthouse, o mais pequeno e também dos mais encantadores, instalado onde antes era a capela da casa. As paredes, de um azul celestial, estão cobertas de pequenas estrelas pintadas à mão por Maria (uma das proprietárias), a imitar o papel de parede que antes as revestia. A preceito, o quarto recebeu o nome de Céu. Ana Costa

3 | Tipografia do Conto

Manter a memória do lugar foi a ideia base de Alexandra Coutinho e Nuno Grande para este espaço, onde há vários detalhes que remetem para o passado ligado às artes gráficas.

Se durante vários anos a porta do número 28 na Rua de Álvares Cabral se abria para a tipografia Gráficos Reunidos, hoje é entrada para um alojamento onde essa memória industrial vive, seja na sucessão dos espaços, que foi respeitada, no espírito de atelier ou nos tetos de betão dos dez quartos, onde cada um apresenta um texto ligado à arte da tipografia.

Vários arquitetos, artistas e criativos foram convidados a escrevê-los e o coletivo R2 Design trabalhou graficamente as suas composições, com os mentores do projeto e fundadores do atelier Pedra Líquida, Alexandra Coutinho, engenheira, e Nuno Grande, arquiteto. Uma ideia de continuidade que surge no primeiro projeto de alojamento, a Casa do Conto, a funcionar há 9 anos na Rua da Boavista. “O que pretendemos fazer aqui [na Tipografia do Conto] foi utilizar novamente o betão com essas inscrições, que é um bocadinho aquilo que as pessoas reconhecem mais de um projeto para o outro”, explica Alexandra.

Quanto aos quartos, são apenas dez, pontuados com peças de mobiliário de autor, algumas delas encontradas em antiquários, outras mais contemporâneas, e estão distribuídos pelas duas casas de início do século XX, ligadas entre si por um agradável pátio central que já existia e se fez questão de manter.

Alguns dos quartos têm vista para a rua e outros para o jardim das traseiras ou para o tal pátio, um elemento central, que privilegia as zonas comuns. Uma delas, o Café Cultural, que serve de apoio ao hotel, recebe na primeira quinta de cada mês o Multiverso, um ciclo de música, teatro e cinema, aberto à cidade e com eventos agendados até agosto. Uma das zonas mais surpreendentes da Tipografia do Conto é o jardim das traseiras, onde um generoso tanque, aumentado com o reaproveitamento do granito que saiu da obra, convida a mergulhos em dias mais quentes. Ana Luísa Santos




Outros Artigos





Outros Conteúdos GMG





Send this to friend