Uma imponente escadaria em mármore abre caminho para a entrada do Grande Hotel Paris. Para lá da porta envidraçada somos recebidos com música clássica e o ranger do soalho, comprovativo de que estamos a entrar num lugar que pertence à história. Aberto em 1877 pelo francês Gabriel Dupuy em sociedade com Ernesto Chardron – fundador da Livraria Internacional, mais tarde Livraria Lello -, é hoje o hotel mais antigo da cidade ainda em funcionamento. Pelos seus quartos já passaram personalidades como Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, Guerra Junqueiro e Rafael Bordalo Pinheiro.
Sob alçada da Stay Hotels desde 2017, fechou brevemente para obras de reabilitação em 2021, e reabriu no ano passado, com todo o brilho dos seus tempos áureos. O Grande Hotel Paris era, à época, o hotel mais requintado da cidade e ainda hoje conserva o charme da Belle Époque, desde logo na entrada de inspiração Arte Nova. Mantém o balcão da receção em mármore, os espelhos e os tetos trabalhados em estuque, que foram restaurados e pintados. Sobressaem especialmente os do salão onde originalmente funcionava o restaurante, e onde agora se serve o pequeno-almoço, entre mobiliário de época e um belíssimo piso de madeira escura, com marcas do tempo e desníveis: imperfeições encantadoras. Entre esta sala e a receção, as atenções viram-se para um luminoso bar, com pé direito altíssimo.
Se o tempo permitir, os pequenos-almoços também são servidos no jardim das traseiras, um desses tesouros verdes que se escondem pela cidade, e de onde se vê espreitar a Torre dos Clérigos. À porta que lhe dá passagem, encontra-se um expositor com objetos do espólio do hotel, entre eles um anúncio de meados do século XX, que publicita o Hotel Paris como “o mais sossegado do Porto”, “com água corrente quente e fria, e telefone em todos os quartos”.
A obra de 2021 resultou ainda na ampliação do hotel, fruto da junção do edifício contíguo, que permitiu a criação de uma nova ala, passando de 42 quartos para 79. Os cómodos do prédio original têm a particularidade de as portas ainda funcionarem com chaves manuais, mas de resto, todos foram renovados de forma a dar mais condições de conforto aos hóspedes, com, por exemplo, a instalação de ar condicionado e a modernização das casas de banho. O mobiliário, esse, foi todo recuperado e voltou ao seu lugar, como parte de uma decoração elegante, que tem como elemento central uma alcatifa em laranja e turquesa, ao estilo Art Déco.
A mais recente novidade do Grande Hotel Paris é um quarto inspirado nas memórias literárias do hotel, que faz mergulhar na história do edifício oitocentista, particularmente aquela relacionada com a passagem dos escritores Camilo Castelo Branco e Eça de Queirós.
Longitude : -8.2245