D. Pedro II chegou ao Grande Hotel do Porto na noite de 24 de dezembro de 1889. O último imperador do Brasil, regressado a Portugal após a queda da monarquia, refugiou-se com a sua comitiva real no primeiro piso do hotel. “A imperatriz já vinha doente e faleceu aqui, quatro dias depois”, conta Cristina Lemos, há mais de 30 anos a receber os hóspedes do Grande Hotel com as histórias que lhe enchem as paredes. “D. Pedro partiu logo de seguida para Paris”, continua, levando com ele a cama onde faleceu a imperatriz. Em homenagem à passagem destas figuras pelo hotel, foi criada no primeiro piso a suíte Petrópolis. É marcada pelos padrões exóticos das almofadas e cortinas, casa de banho revestida a mármore, com banheira de hidromassagem, e todos os confortos modernos, mergulhados num ambiente do século XIX. O restaurante do hotel também foi batizado com o nome do imperador, e recebe frequentemente eventos com música ao vivo, a evocar os tempos em que se enchia de opulentos banquetes, bailes e festas, e tinha até um varandim onde se instalava uma pequena orquestra a tocar sobre o salão.
Esta atmosfera vibrante atraiu ao longo dos anos muitas figuras notáveis da sociedade, como a violoncelista Guilhermina Suggia, que também tem uma suíte com o seu nome, a única que conserva ainda uma cama de época.
“Era aqui que se reunia a nata das artes, nomeadamente no terraço que na altura era uma novidade na cidade e era muito aprazível”, realça Cristina. Tinha o chão em mosaico e ao centro um lago com peixes e chafariz. Agora, é ocupado por uma horta biológica que fornece a cozinha do hotel, e uma parte foi também aproveitada para instalar um pequeno ginásio e sala de massagens. Ainda assim, continua a oferecer uma vista privilegiada sobre a Baixa do Porto, e em breve terá de volta as mesas e cadeiras em ferro forjado pintadas de branco, num esforço da administração em recuperar esses tempos de tertúlia.
Quando inaugurou, em 1880, pela mão de Daniel Martins de Moura Guimarães, um portuense abastado, recém-chegado do Brasil, o edifício com fachada vitoriana incluía o que de mais moderno existia em termos de conforto, comodidade e luxo. Hoje, a entrada do hotel pode passar despercebida entre as montras vistosas da Rua de Santa Catarina, mas no interior, os espelhos franceses, os florões dourados, a belíssima escadaria em Art Déco e as colunas em mármore são provas dessa opulência.
Desde 2017, o hotel está a ser alvo de uma reabilitação, atualmente focada no quarto piso, onde estão a nascer novos quartos, mais modernos e airosos, mas com a mesma elegância clássica que envolve todo o edifício.
Longitude : -8.2245