Frequentado pela alta sociedade, de artistas a políticos e intelectuais, o Hotel Britania Art Déco foi palco de festas sociais e mundanas, conspirações políticas, “excentricidades e escândalos”, lê-se num texto descritivo da unidade. Inaugurado a 13 de outubro de 1944, decorria então a II Guerra Mundial, começou por acolher muitos diplomatas estrangeiros em virtude de o país ser neutro no conflito, mas foi a partir da década de 1950 que conheceu um dos seus pontos altos, quando Natália Correia, casada com o dono do então Hotel Império, fez dele extensão de casa.
O quarto 13 lembra justamente a forte ligação da poetisa, dramaturga e deputada ao hotel, que frequentava com os amigos Francisco de Sousa Tavares, Sophia de Mello Breyner Andresen e Almada Negreiros, entre tantos outros, em ambiente boémio – ou tirando partido do restaurante para servir “faustosas” ceias em sua casa, do outro lado da rua. O secretismo ajudava-a a fintar a censura, tendo ali escrito a peça “O Encoberto”. Já o quarto 24 recorda a estada do brasileiro Vinicius de Moraes, que após um sismo noturno deu origem ao poema “Lisboa tem Terramoto”.
A atriz e cantora espanhola Carmen Sevilla foi outra das ilustres figuras que por ali estiveram e que o hotel não deixa esquecer, a par de jornalistas e escritores que agitaram as suas tertúlias. Integrado há quase três décadas no grupo Heritage Hotéis, o Hotel Britania Art Déco mantém a veia cultural bem viva, com a troca espontânea de livros, entre hóspedes, na biblioteca/sala do bar, mas sobretudo graças às iniciativas locais que o destacam como um dos mais preservados imóveis de arquitetura modernista da cidade. Cassiano Branco foi o arquiteto que o desenhou.
“Era uma pessoa avançadíssima para a época e como propôs ao promotor fazer um aparthotel, incompatibilizou-se com os burocratas” do Estado Novo, que entenderam que o modelo não se compatibilizava com os bons costumes. Projetado em cinco pisos de betão armado e mobilado com peças nobres, o hotel foi-se modificando à mercê do gosto de cada novo proprietário, até, na década de 1980, uma enorme remodelação revelar os frescos em referência às ex-colónias, as colunas de mármore, a cortiça no chão dos quartos e o portão original, até então não usado.
Uma opulência discreta que Luís Alves de Sousa, um dos donos do grupo Heritage, reconhece “dar muito trabalho a manter”, mas que tem atraído grupos de arquitetos italianos e hóspedes interessados tanto na estética modernista como no ambiente vintage. Cada um dos 33 quartos reflete ainda o que era uma estrutura inédita nos hotéis da época – com antecâmara e saleta -, agora com os padrões de conforto atuais, de camas king size com lençois de algodão egípcio e roupão de banho. Durante a tarde os hóspedes podem servir-se de chá, bolos e vinho do Porto.
Longitude : -8.2245