Foi em 2017 que Maria do Céu Gonçalves e Álvaro Lopes (com Paulo Pereira, outro sócio da Terras & Terroirs) adquiriram a Quinta de São José do Barrilário. A ideia inicial era recuperar a vinha para produzir uva. Mas logo perceberam o potencial desta quinta duriense do século XVIII, integrada na demarcação de 1761, a terceira feita pelo Marquês de Pombal, para fazer parte da região nobre da produção de uva para vinho do Porto.
“Havia um marco pombalino a 60 metros da capela, mas alguém o levou, andamos à procura dele”, conta Álvaro. Este não está lá, mas a capela sobreviveu ao abandono e, tal como o resto da propriedade, foi totalmente recuperada, acrescentando-se um novo edifício, desenhado pelo arquiteto Henrique Gouveia Pinto.
Desde o verão passado que abriu ao público como Douro Wine Hotel & Spa da Quinta São José do Barrilário, o segundo cinco estrelas do grupo na região, depois da Quinta da Pacheca. O novo espaço vem colmatar uma falha que sentiam na Pacheca: “Lá não temos vista para o rio, e no Douro isso conta muito”, acredita Maria do Céu. Além da vista, também faltavam quartos. “Fazemos muitos eventos e precisávamos de um hotel mais exclusivo para, por exemplo, poder haver a possibilidade de ser alugado na totalidade por uma pequena empresa ou família, para qualquer tipo de evento.”
Com os seus 31 quartos, spa, piscina infinita, restaurante, loja de vinhos e espaço para eventos na recuperada casa senhorial, o espaço cumpre na exclusividade. Os quartos apresentam-se em várias tipologias, tendo todos áreas generosas. Parte deles estão virados para a vinha, outros para o rio. São 27 standards e quatro suítes, entre os 28 e os 50 metros quadrados. Os que estão orientados para a mancha de vinhedo são os Vineyard, tanto os superiores (oito), como as duas luxuosas suítes, com vistas panorâmicas. Com vista para o Douro estão os 19 River Deluxe e as duas Suítes Junior, estas mais pensadas para famílias.
A decoração remete para a história da própria quinta, seja nas camas desenhadas para o espaço, em forma de barris na sua base, ou o símbolo da quinta que aparece em vários espaços: os três pregos associados à simbologia dos jesuítas. “Não sabemos com certeza, mas é muito possível que tenham estado cá os jesuítas porque a sua simbologia dá ênfase aos três pregos da crucificação”, diz Bernardo Mesquita, diretor de operações da Terras & Terroirs. Essa simbologia foi encontrada na capela.
O curioso nome da quinta vem de uma antiga história popular. Conta-se que um dia, um dos trabalhadores caiu dentro de um barril e rolou encosta abaixo. Durante a queda, rezou a São José para ser salvo. Saindo ileso, atribuiu ao santo o milagre e a quinta passou a chamar-se São José do Barrilário, em homenagem ao barril e ao santo.
Gastronomia e vinhos
Uma das apostas do grupo, nos vários espaços que já possui em diversas regiões vitivinícolas, é a associação entre enoturismo e produção de vinho. Aqui não é diferente. A quinta possui 14 hectares de vinha, muita dela com idade entre 20 e 40 anos, recuperada, plantada em solos de xisto, entre os 50 e os 600 metros de altura. Daqui saem as uvas para o tinto que recentemente saiu para o mercado, elaborado pelos enólogos do grupo, Maria de Serpa Pimentel e João Silva e Sousa, a partir das castas Touriga Francesa, Sousão, Touriga Nacional e Tinta Roriz. Quanto ao branco, as uvas de Viosinho e Gouveio vêm de outras propriedades. Ambos os vinhos passam longos períodos de estágio em barricas, balseiros e tonéis de carvalho francês. E em garrafa, passam por um estágio mínimo de seis meses antes de saírem para o mercado.
Ambos podem ser comprados na loja do hotel ou bebidos no restaurante panorâmico, que também está aberto a não hóspedes. A liderar a cozinha está o chef Luís Guedes, que passou pelas cozinhas da Quinta da Pacheca e do Olive Nature Hotel & Spa, em Valpaços, outra unidade do grupo.
Natural de Tarouca, a dez quilómetros de Armamar, o chef conhece bem os produtos locais. Estudou cozinha em Lamego, trabalhou noutras regiões do país e na Europa, mas quis sempre regressar a casa. “Trago um pouco de modernidade, mas quero usar sempre os vegetais da época, o que dá a terra”, conta. De resto, são os sabores durienses e transmontanos que aqui são explorados. Ou não fosse o chef um apaixonado por este território: “O Douro é que me fascina; poder sair de casa e ver as montanhas, os vales, estas cores, dá-me alegria para vir trabalhar. Não tenciono sair daqui”. Essa alegria passa para o prato e do prato para o comensal, que com a vista panorâmica e os sabores de conforto não sente pressa em ir embora.
Longitude : -8.2245