Crítica de Fernando Melo: 10 vinhos em que o menos pode ser mais

(Fotografia de André Rolo/GI)
Uma viagem por garrafas cujo conteúdo surpreende. Um investimento na estratégia monocasta que sai amplamente recompensado. Do Douro ao Alentejo, de Lisboa a um longo salto com destino aos Açores. São vinhos 100%.

O vinho português é quase por natureza um vinho de lote, no qual marcam presença castas diversas, o que corresponde ao património vinícola típico do Velho Mundo, em que vinha, homem e terra formam uma mesma base. Contudo, o brilho atingido por algumas castas individualmente tem-nos despertado para todo um patamar de excelência que merece prova e conferência. A seleção que lhe apresentamos compreende tanto castas tradicionais como experiências felizes fora das localizações usuais. Todas sem exceção têm um desempenho notável e mostram como o minimalismo pode ser caminho. É que por vezes menos é mais. Boas provas!

 

Incerteza Verdelho Açores branco 2020 (11,5%)
Sandro R. Mendonça
100% Verdelho dos Açores, uvas de Biscoitos, Terceira, 940 garrafas. Solos vulcânicos, estágio nove meses em inox. A dupla Jorge Alves (pai) e Pedro Alves (filho) criou este vinho de acidez pungente nos Biscoitos (Terceira), com o resultado surpreendente à mesa do equilíbrio e força que mostra no corte da maioria dos pratos da grande tradição. Preço: 45 euros.

Classificação: 18/20


Monsaraz Cabernet Sauvignon Alentejo tinto 2020 (15,5%)
CARMIM
100% Cabernet Sauvignon. Primeiro vinho estreme da casta na adega. Maceração pré-fermentativa de 48 horas. Estágio 12 meses em barricas usadas de carvalho francês. Extração muito contida, resultando num vinho com presença moderada de pirasinas, ou “pimento verde”. Maturação fenólica perfeita e muita personalidade, frescura surpreendente. Preço: 7 euros

Classificação: 17/20


Touriga Franca da Malhadinha tinto 2020 (14%)
Herd. Malhadinha Nova
100% Touriga Franca. Uvas da vinha do Ancoradouro. Maceração pré-fermentativa de cinco dias, fermentação em lagar com pisa a pé. Estágio de 16 meses em barricas de carvalho francês. Trata-se de uma casta patrimonial portuguesa, para muitos a melhor casta nacional, que a Malhadinha aqui declina com requinte e garbo. Excelente com galinhola estufada. Preço: 30 euros

Classificação: 18,5/20


Adegamãe Viosinho Lisboa branco 2020 (12,5%)
Adegamãe
100% Viosinho. Marca presença nos vinhedos do produtor desde a primeira hora, sempre com resultados muito bons, apesar de se tratar de uma casta típica e estruturante dos vinhos do Douro. O enólogo Diogo Lopes não a dispensa, antes vai-lhe aprimorando e polindo novas arestas. É um dos emblemas da casa por isso mesmo. Muito competente com bacalhau assado. Preço: 8,50 euros

Classificação: 18/20


Desnível Alvarinho Reserva Douro branco 2021 (13,5%)
João Lopes Pinto
100% Alvarinho. Estágio sete meses em barricas de carvalho francês de 300 litros. A casta rainha da região dos vinhos verdes soma sucessos por todo o país e neste Douro de encosta mostra-se capaz de marcar pela diferença. A um tempo fresco e copioso, revela-se excelente parceiro de um bom cozido à portuguesa. Surpresa garantida. Preço: 13 euros

Classificação: 17,5/20


Quinta do Cume Gouveio Douro 2021 (13%)
Quinta do Cume
100% Gouveio. Conhecida no Douro também como Verdelho, há que não confundi-la com a casta do mesmo nome na Madeira. Este vinho é o primeiro monocasta branco produzido
nesta quinta e mostra personalidade e frescura com particular aptidão para a mesa. Brilhante com tripas à moda do Porto, pela capacidade de corte da belíssima acidez que tem. Preço: 31 euros

Classificação: 17,5/20


Monólogo Avesso Verdes branco 2020 (13%)
A&D Wines
100% Avesso. A casta a mostrar-se no seu pleno nos vinhedos de Baião. Faz jus ao nome, é tudo menos linear e dá-se bem perante novos desafios. Enologia de fino recorte, gosta de enfrentar pratos de tacho da grande tradição portuguesa. Uma sopa rica de peixe vai fazer-lhe bem as honras e um lombo de porco assado no forno irá surpreender bem. Preço: 9 euros

Classificação: 17/20


Encostas de Serpa Antão Vaz Alentejo branco (13%)
Monge e Filhas
100% Antão Vaz. Uvas da Herdade Vale do Chafariz. Fermentação e estágio em inox. A casta é nativa destas latitudes mais a sul e é aqui que a sua exuberância atinge o pleno. Vinificação equilibrada, extração no bom ponto, estamos perante um vinho que faz facilmente frente a uma boa e rica sopa de cação à alentejana e não enjeita um ensopado de borrego à antiga. Preço: 9 euros

Classificação: 16,5/20


Quinta da Romaneira Petit Verdot 2018 (15,5%)
Quinta da Romaneira
100% Petit Verdot. Fermentação de oito dias em inox, seguindo-se a transformação maloláctica. Estágio de 12 meses em barricas de carvalho francês, 20% das quais novas. É notável a maturação fenólica exibida por este vinho, que talvez só aqui neste terroir se consiga atingir. Orientado para a mesa mais sofisticada, faz frente com elegância a uma simples e bem duriense vitela assada. Preço: 26,50 euros

Classificação: 18/20


Mainada Touriga Nacional Alentejo tinto 2020 (14,5%)
Mainova Soc. Agr.
100% Touriga Nacional. Solos xisto e granito. Fermentação espontânea e estágio em inox. Granada profundo, aromas florais intensos a sugerir flor de laranjeira. Equilíbrio e frescura ao longo de todo a prova, notas de citrinos em evidência. Fará boa companhia a uma carne de porco com amêijoas bem condimentada e puxada. Preço: 21 euros

Classificação: 17/20




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