Os minúsculos copinhos que encontramos nos cantos das vidraceiras de casa da avó ou tia-avó são hoje meras curiosidades, senão mesmo brinquedos para os mais novos. No entanto, há apenas algumas décadas vinham para a mesa, e eram cheios com uma bebida que tinha capacidades digestivas e ligavam maravilhosamente com a doçaria do termo da refeição. Sabemos que mudou tudo, principalmente no nosso gosto, e a sobremesa perdeu o lugar que outrora lhe dávamos. Mas podemos utilizar esse conhecimento empírico que está na arte de hidratar a doçaria no palato com o vinho certo para casar com alguns doces. Apontamos alguns, que devem ser entendidos como famílias de doces, e sugerimos pontes para provar. Propomos-lhe, por isso, um estágio de experiências, para que possa tomar decisões acerca do que melhor lhe sabe. Na doçaria, é difícil haver uma má experiência, mas procure a excelência, mais que a experiência. Boas provas!
Com Tarte de Maçã
São várias as formas de fazer uma tarte, olhamos para a mais frequente, base cozida e impregnada pelo creme e sucos da maçã, resultando em impressões doces e ácidas ao mesmo tempo. Este Loureiro consegue integrar e entrar em ambas as frentes, criando impressão agradável na boca.
Com Pastel de Nata
Contrariando um pouco a opinião geral, é um dos bolos menos calóricos da pastelaria portuguesa. Assenta numa base folhada seca e crocante, conteúdo quase líquido e doçura moderada. O brilhante moscatel que propomos tem a acidez necessária para fazer o corte das texturas presentes, e a doçura do bolo e do vinho desmaiam uma na outra.
Com Chouriço Doce de Sangue
Feito com 100% de Fernão Pires, além de clássico este abafado é uma combinação improvável, por isso mesmo o propomos. O primeiro efeito é espevitar as especiarias presentes, para logo a seguir resolver a proteína animal presente e corresponder à crocância da pele. Servir a não mais de 16ºC.
Com Pão de Ló
Estamos a pensar no pão de ló tradicional, que é seco e tem mais interstícios que massa. Os ingleses chamam-lhe sponge cake, o que dá uma ideia do ar cativo dentro do bolo. As tonalidades doces e de ovo encontram ponte francamente feliz com este chardonnay.
Com Duchesse
Não é inteiramente nosso mas adoptámo-lo desde sempre e é um clássico da pastelaria mundial. Massa choux muito fina, recheada com chantilly pede um espumante como este 100% Pinot Noir de um dos grandes criadores nacionais de vinhos espumantes. As finas bolhinhas penetram na perfeição no creme emulsionado, criando um ambiente de grande ligeireza.
Com Macarrons
Lote de Malvasia e Bual, no que é um dos vinhos de maior sucesso da Blandy’s, apesar de relativamente recente no mercado. Reage e hidrata bem a amêndoa de que as duas metades exteriores são feitas, e abordam com eficácia praticamente todos os recheios.
Com Pudim Abade de Priscos
Este pudim está sempre na ordem do dia e é dos poucos produtos de pastelaria feito para cozinheiros e não para pasteleiros. Uma das partes mais importantes é a extracção lenta da gordura animal do presunto fumado que lhe está na base. Bem executado, comporta-se como um prato completo e este supervinho do Porto vai acompanhar bem.
Com Pastel de Feijão
Não é dos vinhos mais fáceis de encontrar mas vale bem a demanda, especialmente se a missão da prova incluir o fabuloso pastel de feijão do chef António Amorim, perfeito em todos os aspetos, principalmente equilíbrio. Tem doces e amargos, estes sugeridos pela leguminosa que dá nome ao bolo, e casa para sempre com este vinho brilhante.
Com Pavlova de Morango
Composto por Touriga Nacional, Tinto Cão, Tinta Roriz, Rufete, bom trabalho enológico do projeto duriense do Esporão, este vinho gosta do ambiente de frutos vermelhos de arbusto e a frescura que apresenta configuram-no para o corte da base suspirada da pavlova. Difícil é conter a gula.
Com Cavacas de Resende
Vinho do Porto para ter sempre à mão, é uma solução multiusos no tocante a harmonização com doçaria tradicional, incluindo alguma conventual. A fatia húmida coberta com açúcar glacé que é a fatia – ou cavaca – de Resende, ganha tratamento de luxo. E nós também.
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