Roteiro pelos encantos de Porto Santo

Porto Santo quer libertar-se aos poucos dos combustíveis fósseis e tem na estrada veículos elétricos de um projeto pioneiro que junta a Renault e a Empresa de Eletricidade da Madeira. Tudo para que os únicos sons durante o passeio sejam os naturais da «ilha dourada».

É inevitável: alugando-se um carro, mais cedo ou mais tarde, todos os caminhos vão dar ao Miradouro da Portela, na costa sul, a 517 metros de altitude. Lá em baixo estão os famosos nove quilómetros de areia dourada e água azul-turquesa, procurados tanto por amantes do dolce far niente como por praticantes de surf, windsurf ou stand up paddle.

Possível incómodo para uns, mais-valia para outros, a verdade é que o vento, aliado ao baixo relevo, sempre foi uma das forças-motrizes de Porto Santo. Isso mesmo testemunham os três moinhos – antigamente utilizados para fazer farinha e exportada em navios para a América. Terão surgido pela primeira vez em 1794 e, uma vez recuperados, tornaram-se num dos cartões-postais deste miradouro e da própria ilha. A praia do Ilhéu da Cal, o Pico de Baixo, o Ilhéu de Cima (ou do Farol), o porto de abrigo e a marina são outros dos locais que a vista alcança.

Se numa ilha tão pequena (pouco mais de 40 km²) é normal que todos os caminhos acabam por ir dar a este e a outros miradouros, é igualmente expectável que quase todos os turistas acabem por passar pela Vila Baleira, única cidade da ilha, sobretudo para fazer compras jantar ou fazer o passeio da praxe. Aqui estando vale a pena passar pelo Mercado Velho. Um mercado de peixe, frutas e legumes dos anos 50 do século XX, onde Énio Costa abriu em 2014 um restaurante-bar com o que Porto Santo tem de melhor – o peixe grelhado, o bolo do caco com manteiga de alho, as lapas grelhadas e a poncha. E cuidado com ela, até porque Énio garante utilizar apenas os ingredientes originais: aguardente de cana, sumo de limão, laranja e mel. Tudo servido sobre as antigas bancas de pedra onde se estendia o peixe. Na porta ao lado tem uma mercearia com fruta e também vinhos, rebuçados de todos os sabores, biscoitos tradicionais e chás.

 

Passear… a pé

O pouco trânsito convida também a um passeio a pé pelo centro, com várias praças, largos e jardins. E um Padrão dos Descobrimentos, na Alameda do Infante D. Henrique. Uma escultura em formato quadrangular, com vários rostos importantes da época, localmente conhecida por «Pau de Sabão», algo que mostra desde logo o sentido de humor dos porto-santenses.

Humor foi também o que terá levado um cliente a perguntar «vamos às lambecas?», referindo-se ao modo como são comidos os gelados mais tradicionais e populares da ilha, no Largo do Pelourinho. «No início não gostei do nome», conta João Reis, de 81 anos e há 57 habituado a servir centenas de gelados em cone de bolacha. A verdade é que a designação pegou – consagrando-se até no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa como um termo informal do verbo lamber – e deu fama ao quiosque, onde é frequente ver uma fila de pessoas à espera do seu gelado de máquina. Há 27 sabores, como chocolate e banana, laranja, limão, tutti frutti, coco, nata, ananás, morango, maracujá e canela, mas nem todos estão sempre disponíveis, o que torna a visita sempre imprevisível.

Gelados todo o dia, praia todo o ano. O clima seco, ameno e constante da ilha favorece passeios à beira-mar e a praia do Cabeço da Ponta, a quatro quilómetros da cidade, é um dos melhores locais para estender a toalha, com a água a uns tépidos 24 graus. João Palhas, portimonense de 35 anos, chegou ali há oito, abriu a On Water Academy com atividades como surf, kitesurf, windsurf e stand up paddle e hoje é vê-lo correr de um lado para o outro com pranchas e fatos térmicos debaixo do braço. Ao fim da tarde a academia começa a tocar música e servem-se imperiais, num ambiente quase havaiano.

É no final da linha de praia, porém, que se encontra uma das mais cénicas e recatadas praias – a Praia da Calheta, com vista para o Ilhéu da Cal. Muito procurada por residentes, que ali vão beneficiar das reconhecidas propriedades terapêuticas das areias de Porto Santo, mas também por turistas nacionais e estrangeiros. Tomado um banho impõe-se, claro está, uma paragem no restaurante, sem que tal implique tirar os olhos da água enquanto se petiscam umas lapas grelhadas, bolo do caco, ovas de peixe-espada fritas.

E ao fim do dia, onde dormir? A seiscentos metros da praia do Combro – outro dos areais da costa de nove quilómetros – encontra-se uma das mais recentes unidades hoteleiras da ilha, o quatro estrelas Pestana Ilha Dourada. Os 16 quartos, uma suíte e 32 villas tornam-no ideal para quem procura descanso e tranquilidade, seja junto à piscina exterior, seja na praia, a cinco minutos a pé. O jantar serve-se no Terriu’s em regime de buffet e com vista para o jardim, e depois pode beber-se um digestivo no bar cuja decoração em madeira lembra as pás dos… moinhos de vento.

Este é um dos Renault Zoe elétricos que circulam nas estradas de Porto Santo. Fotografia: Diana Quintela/GI)


Uma ilha «smart»

Os Renault Zoe que por estes dias circulam nas estradas de Porto Santo são a face mais visível de um projeto de ecossistema elétrico inteligente que junta a Renault e a EEM – Empresa de Eletricidade da Madeira. O objetivo é «fazer a transição energética da ilha», dos combustíveis fósseis para a mobilidade elétrica, tornando-a «a primeira Smart Island no mundo», utilizando não apenas os carros mas também a segunda vida das baterias, o carregamento inteligente e a reversão do carregamento para a rede elétrica. A primeira fase conta com 14 veículos do modelo ZOE e seis do Kangoo Z.E., que podem ser carregados de forma inteligente em 40 pontos públicos e privados. A ideia é expandir depois o programa a todo o arquipélago da Madeira. Os automóveis podem ser alugados no balcão da Rodavante, no aeroporto.

 

Algo está a fazer com que o sistema não consiga mostrar a ficha ténica desejada. Pedimos desculpa pelo incómodo.

 

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