As viagens da jornalista e escritora Clara Ferreira Alves

Jornalista, escritora, cronista, provocadora, irreverente, viajante – seja lá o que isso for. Clara Ferreira Alves continua a viajar como sempre viajou. Muito, quase sempre sozinha e por locais pouco, ou nada, turísticos.

Numa das edições de Agosto, do semanário Expresso, Clara Ferreira Alves começava um dos textos dizendo que escrevia desde o Vietname. Estava de férias ou em trabalho? perguntamos-lhe. «Estava de férias, mas como sou freelancer e tenho que ganhar a vida escrevo de qualquer sítio».

Desta feita foi de um país asiático, continente que tão bem conhece, mas poderia ter sido de qualquer parte do mundo. Dos Estados Unidos, do Peru, da Turquia, do Turquemnistão, do Irão, do Líbano, de Israel, do Médio Oriente. O seu romance– Pai Nosso, lançado no final de 2015 e editado pela Clube do Autor – centra-se naquela conturbada região. «É a zona do planeta que conheço melhor. São países incríveis, incríveis. Pena termos estragado tudo». Esteve lá um sem número de vezes em trabalho, sim, muitas delas como repórter de guerra, mas não só. Continua a viajar para a região, viaja para todo o lado, mesmo os sítios mais improváveis. Sobretudo para os sítios mais improváveis sempre longe dos tours e dos pacotes turísticos. «Não faço aqueles passeios nos autocarros nem aquelas viagens guiadas em grupo. É claro que há um outro caso em que não conseguimos evitar, mas isso não me interessa nada».

E resorts, será que de vez em quando cede à tentação? «Detesto, detesto». Veja-se este excerto da crónica O Resort escrita em 2007. «Doze horas fechada num resort de uma ilha do Mediterrâneo rodeada de russos, ingleses e mar por todos os lados. Breve clausura? Experiência terminal. A palavra resort provoca frio na espinha e ataque de ansiedade estival. O resort é um lugar para onde viajam espécies migratórias do Norte e Centro da Europa à procura do Sul e calor».

O turismo e os turistas «essa praga», só nos últimos parecem ter começado a preocupar verdadeiramente os portugueses, mas há muito que a jornalista escreve sobre este fenómeno, na crónica semanal Pluma Caprichosa. Seja no papel ou ao telefone, Clara não usa meias palavras.

«Viajar é das melhores formas de abrir os olhos e alargar horizontes, sobretudo num país provinciano, como são quase todos os países periféricos, mas os limites estão todas a ser ultrapassados. As pessoas viajam todas da mesma forma, os sítios tendem a ficar todos os iguais, uma desgraça».

O que a move é a curiosidade, a História, as histórias, fazer quilómetros e quilómetros para compreender um destino, um país, uma sociedade, mesmo que de vez em quando isso implique colocar-se em situações desconfortáveis, às perigosas. Mesmo que isso implique viajar tantas vezes sozinha. «As pessoas não têm muita paciência para ir comigo, a maior parte não aguenta este ritmo e esta forma de viajar».

Aguentar. O verbo não é escolhido ao acaso. O conhecimento também implica algum sofrimento. Já estava retida em sítios ditaduras respeitáveis, como Turqueninstão, já foi hospitalizada. É por isso que quando lhe perguntamos o que nunca pode faltar na mala de viagem não hesita. «Repelente para insetos e Coca Cola». Um resposta que só pode ser dada por uma verdadeira… viajante.

 

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