Crónica: Quando o desporto é só gostar do país

Parque do Avioso (Fotografia de Rui Oliveira /Global Imagens)
Esmoriz, Madalena, Gondomar e Maia abriram a página de um roteiro que, mais do que desportivo, celebrou todos os locais e as suas pessoas.

São lugares simples, de um país único e incomparável como o nosso, que constroem memórias que não se afundam em publicações efémeras da Internet. As recordações que trazem cheiros, sensações e estórias que se perpetuam. E em cada um haverá, porventura, uma vontade constante de voltar a esses sítios onde vitórias e derrotas diluem-se nos sorrisos que se eternizam nos nossos rostos quando recordamos esses locais.

Quando o professor Luís Miguel Cardoso telefonou para saber se havia lugar para a sua equipa de Santo Tirso num torneio de voleibol no Castêlo da Maia, ninguém imaginava que se estavam a dar os primeiros passos para a organização de uma competição de veteranos oficialmente organizada pela Federação Portuguesa de Voleibol.

Naquele telefonema, o professor, membro da Associação de Voleibol do Porto, queria saber mais além de avaliar a disponibilidade para participar. Tinha ouvido falar de uns encontros que juntavam centenas de atletas com mais de 35 anos (a maior parte mesmo com muitos mais) e que já tinham percorrido dezenas de zonas do país. Em todos havia festa.

Era verdade. A pretexto de diferentes ligações à modalidade, uns porque foram ex-jogadores, outros porque eram pais de atletas e muitos apenas porque gostavam de treinar, um grupo de pessoas estava a construir, sem qualquer intenção, fim ou proveito, uma imensa comunidade (não virtual, diga-se) unida apenas pelo orgulho em representar as suas terras. A competição era o menos importante.

Esmoriz abriu terreno. Seguiu-se a Madalena, Gondomar e Maia. Os amadoríssimos torneios foram sempre muito intensos… na celebração dos sabores dos lugares que os acolhiam. Das célebres bifanas do restaurante Fidely’s do Castêlo da Maia até à famosa sopa de pedra presenteada pelas Caldas da Rainha, o itinerário turístico cresceu. Uns jovens de uma equipa de Aveiro juntaram-se ao roteiro trazendo para o jogo as famosas festas de São Gonçalinho.

A rota estendeu-se. Das areias dos campos do Atlântico da Madalena passando pelas quadras do fabuloso parque maiato do Avioso, da intimista praia de São Pedro de Moel até à deslumbrante Foz do Arelho, não foi preciso nenhuma pandemia nem apelos especiais para desfrutar do país que temos.

Foi este movimento espontâneo, que se alargou ainda ao Algarve e à ilha da Graciosa, Açores, que deu origem a uma coisa séria da Associação de Voleibol do Porto. Mas mais importante que oficializar uma “brincadeira” de amantes de uma modalidade, foi mostrar que não há desporto sem raízes.




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