Crónica: Nápoles e as pizas de Clinton

(Foto: Pixabay)
Em terras vesuvianas, perdi-me no tempo na Di Matteo, pizaria centenária onde não há rede móvel e se servem pizas generosas desde quatro euros. Bill Clinton já as provou.

Setembro é o melhor mês para ir de férias. Há muito que o defendo e pratico em doses anuais consistentes. O tempo continua bom, os preços começam a baixar e as multidões de turistas a enfraquecer. Setembro marcou também o meu recomeço das viagens além-fronteiras, com uma ida a Nápoles que estava em banho-maria desde março do ano passado, quando me vi obrigado a cancelar planos e fechar-me em casa, como todos nós.

Gosto de Itália. A maioria das principais cidades já conhecia e, ainda que aprecie o lado arranjadinho, quase postal, da arquitetura imponente e aura cosmopolita de outras urbes, desta vez quis conhecer uma faceta italiana mais crua e caótica, sem tantos filtros e talvez até mais genuína. Nápoles é isso tudo. Primeiro estranha-se, depois entranha-se – dizia-me um amigo dias antes. Foi assim mesmo.

E se os bairros habitacionais mais pobres e as boémias ruelas do centro histórico foram surpresas pela positiva, de olhos postos no Vesúvio a qualquer virar da esquina, o mesmo também se pode dizer da gastronomia, ou não estivéssemos em terras de pizas napolitanas. A primeira paragem já tinha deixado boa impressão, ao devorar uma Marinara na L’Antica Pizzeria Port’Alba, que se assume como a mais antiga pizaria do mundo, a funcionar desde 1738.

A poucos metros dali, no centro histórico, uma outra casa chamou a atenção. Nas cartas, imagens a preto e branco de um Bill Clinton, de fato e gravata, a deliciar-se com uma larga fatia de piza na mão, rodeado de fotógrafos e curiosos, numa visita do ex-presidente dos EUA a Nápoles. Achei curioso e entrei. E entrei bem. Na Di Matteo, uma pizaria quase centenária com forno a lenha, provei uma das melhores Margheritas até hoje. Elegante na espessura fina e tempo de digestão, e de rebordo fofo, saboreei-a em três tempos, com a ajuda de um branco fresco e um tiramisu para ajudar a rematar a coisa.

Olhei em volta. Não era de estranhar que os dois pisos desta pizaria estivessem cheios, a um dia normal de semana. Quando se levantavam uns, sentavam-se outros, em ritmo incessante. A cereja no topo do bolo – ou da piza – veio em dose dupla. A primeira: uma piza de tamanho generoso chega a custa qualquer coisa como quatro euros. A segunda: não há rede no interior, o que significa que os telemóveis ficam de fora da refeição, abrindo caminho exclusivo à conversa. E isto sim, faz um belo jantar. Em setembro, no Natal, no Carnaval ou qualquer altura do ano.




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