Crónica de Pedro Ivo Carvalho: o S. João é uma luz que não se extingue

(Fotografia: André Rolo/GI)
Poucas festas são tão democráticas. E porque não há nada de verdadeiramente eloquente que possamos escrever que não soe mais apropriado em verso, aqui vai.

Eis que a festa se aproxima
Sem que nada mais importe
O S. João está órfão de rua
E nós deserdados da sorte

O mais importante é quem está
E as memórias que se entranham
Se cheirar a sardinha na pele
Então são perdas que se ganham

Não há martelo e falha a vida
Sem alho porro vai-se o cheiro
Qualquer rima desorientada
É parte de um manjerico inteiro

Podemos sempre entornar-nos
Como se não houvesse covid
Esquecer que o ontem é o hoje
Para esse vírus que nos divide

Na cimeira da sardinha e da broa
Todo o povo dita sentença
E até na conferência do vinho
Molhamos os lábios na diferença

Fazer juras de amor interno
Assim que a Lua gemer no alto
A luz que somos está no risco
De cairmos sem dar o salto

Nasce e morre ali o Porto
Como em Braga e Vila do Conde
No céu desenhado um balão
Incerto para nos mostrar onde

A noite mais longa é um intervalo
Neste filme de escuridão passageira
Marquem no calendário das vontades
Para o ano acampamos na Ribeira

Mas se nos falhar essa viagem
Se mais uma vez houver DGS
Façamos que a nossa imunidade
Seja esta cidade que nos aquece

Porque o S. João não é só o 23
E a ressaca do dia vindouro
O S. João é uma vida inteira
É a chave, o abrigo, o tesouro




Outros Artigos





Outros Conteúdos GMG





Send this to friend