Crónica de Paula Ferreira: Picasso, Gilot, Capa e o Born

Museu Picasso.
De seixos e conchas Picasso fez jóias. Barcelona tem o bairro Gótico, tem Gaudi e Miró. E tem Picasso. No bairro de Born, uma descoberta na cidade depois da pandemia.

Chega-se ao edifício medieval por uma estreita ruela e logo nos prende o olhar, naquelas paredes graníticas, a luz intensa do sol do sul numa imagem magnética. Uma mulher caminha na areia perpendicular ao mar sob o guarda-sol empunhado por um homem moreno, de alguma idade, de calções e camisa aberta. Em segundo plano, um jovem. Sorriem.

Françoise Gilot, Pablo Picasso e o seu sobrinho são as personagens que recebem os visitantes no palácio Berenguer d’ Aguilar, no outrora decrépito bairro da ribeira de Barcelona. Na imagem, captada em agosto de 1948 por Robert Capa, a pintora Françoise Gilot, na altura companheira de Picasso, traz um colar feito de conchas e seixos, que haveria de se transformar num símbolo da criatividade do génio também na joalharia.

São essas pequenas pérolas e as musas a que eram destinadas -outra belíssima imagem mostra Dora Maar e o pintor – que, sem sabermos ao que íamos, nos surpreenderam no Museu Picasso, num regresso a Barcelona, de novo vibrante após a letargia imposta pela pandemia. Antes das jóias do Museu Picasso, a que se acede por uma ruela em cuja esquina, quase despercebida, está a esplendorosa catedral de Santa Maria del Mar, tínhamos tropeçado sem querer em Frederico Fellini e nos seus omnipresentes Giulietta Massina e Marcelo Mastroiani, no reconvertido mercado de Born .

Este foi o grande prazer da cidade catalã. Desta vez, todos os caminhos iam dar ao Born, por onde andássemos, e caminhámos uma média de 20 quilómetros por dia, indiferentes ao metro e à eficaz rede de ciclovias, era ao Born que voltávamos para as tapas da bela casa Faroles, as esplanadas de San Pedro ou a alameda que liga o Arco do Triunfo ao mar.

Uns dias em Barcelona, para não perder viagens canceladas pelo eclodir da covid 19, foi a melhor maneira de celebrar um regresso cauteloso à normalidade. Da Fundação Juan Miró, ao Pavilhão de Mies van der Rohe, às obras de Gaudi, das ramblas à Praça Real, do Parque Guel à praia da Barceloneta, do bairro Gótico ao Born e ao bairro de Gracia.

E ainda bem que me deixei convencer a rumar ao melhor miradouro da cidade, mesmo desconfiada pela visão de lixo e dos grafitos, e subir ao Turó de Rovira, onde se encontra memória da dCrónica de Paula Ferreira: Picasso, Gilot, Capa e o Born




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